Em pleno alvorecer do ano, Zico e Romário, dois dos maiores craques do futebol brasileiro em todos os tempos, se entregaram em amistoso abraço em frente às câmeras de TV. A afetuosa e risonha aparição ocorreu por ocasião do Jogo das Estrelas, pelada beneficiente que o ídolo flamenguista promove anualmente no Maracanã - a versão de 2009 aconteceu no último domingo, para mais de 55 mil pessoas no lendário estádio carioca. Mesmo com o Galinho de Quintino tendo avisado que seguirá com o processo judicial contra o ex-desafeto, o reencontro entre os dois comoveu até as almas mais frias do meio esportivo.
"Estou muito feliz. Agora, colocamos uma pedra nisso tudo", disse Zico, encerrando o assunto. Romário agradeceu. "Foi uma atitude digna dele. Fiquei muito feliz e aceitei na hora. O que aconteceu fica para trás", garantiu o Baixinho.
A paz entre os dois começa a brotar 15 anos depois das primeiras rusgas, que culminaram na ação movida por Zico (e por Zagalo) contra Romário. O esporte brasileiro, porém, segue recheado de casos como o deles, em que o espírito de cooperação desapareceu e deu a vez a rixas, rivalidades e animosidades célebres. As desavenças não ficam restritas a adversários. Crises entre integrantes de equipes, técnicos e dirigentes também são comuns. Em seleções que representam as diversas modalidades do esporte nacional há vários casos.
Apesar de o fim de 2009 ficar marcado como o ano do reencontro entre dois grandes ídolos do esporte brasileiro, muitas rixas vão ficar pendentes para, quem sabe,acabar em 2010. O Correio lembra, hoje, alguns casos marcantes na história recente dos esportes no Brasil.
Papel higiênico
Zico move uma ação judicial contra Romário por causa das caricaturas pintadas no Café do Gol (acima), boate mantida pelo Baixinho na Barra da Tijuca no início da década. O atacante havia sido cortado pelo técnico Zagalo da Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo em 1998. A causa oficial foi uma contusão crônica na panturrilha. Mas Romário jamais acreditou nesta versão. Diz que acabou ejetado do grupo por articulação do então coordenador técnico, Zico. E se vingou com as pinturas na porta dos banheiros de sua boate. Os dois se estranhavam desde 1994, quando Romário irritou-se com críticas de Zico e afirmou que o Galinho faz parte de uma geração perdedora - referência clara ao time que encantou o mundo, mas perdeu a Copa de 1982, na Espanha.
Vanderlei Luxemburgo x Marcelinho Carioca
Conhecido como "reclamão", Luxemburgo pagou caro este ano por uma discussão que teve com o jogador do Santo André. Em 5 de janeiro de 2007, durante o programa Por Dentro da Bola, comandado por José Luiz Datena, o técnico de futebol se irritou ao lembrar um comentário de Marcelinho Carioca sobre sua suposta atuação como empresário, paralelamente ao trabalho como treinador, e disparou contra o atleta, chamando-o de "moleque" e "safado" , além de dizer que ele "não vale nada". Na ocasião, o jogador não ficou calado e disse que quem não valia nada era Luxa.
O clima esquentou e por cerca de dois minutos os dois trocaram acusações no ar. Luxemburgo chegou a afirmar que precisou "tirar mulheres do quarto" de Marcelinho e que ele "usa a religião como fachada". O jogador não deixou barato e processou Vanderlei Luxemburgo, que perdeu a ação movida por Marcelinho e foi condenado a pagar em janeiro deste ano R$ 76 mil pelas ofensas. O atleta comemorou a decisão da justiça. "Dinheiro nenhum vai fazer com que sejam reparadas as ofensas que recebi naquele dia em rede nacional, mas o processo foi uma forma de evitar que aquele episódio lamentável se repita comigo ou com outra pessoa", declarou Marcelinho.
Bernardinho x Ricardinho
Até o Pan-Americano de 2007, a seleção masculina de vôlei, comandada pelo técnico Bernardinho, vivia num mar de rosas. Mas, às vésperas dos jogos, um fato desequilibrou o grupo. Ricardinho, considerado o melhor levantador do mundo na época, foi cortado para nunca mais voltar.
Bastante ressentido com o ocorrido, o ex-capitão da Seleção disse que, com a atitude, o treinador quebrou um pacto entre os jogadores e comissão técnica para Pequim-2008.
Em julho de 2008, Bernardinho declarou à imprensa que tomou a decisão para evitar maiores problemas . "Amor é querer bem à pessoa e eu quero o bem dele. Isso não quer dizer que você tenha que concordar com tudo que a pessoa está dizendo", afirmou. Ricardinho atua agora pelo italiano Treviso.
Nos bastidores, diz-se que a causa do rompimento foi a negativa, por parte do jogador, de dividir com o resto do grupo uma das premiações em dinheiro recebidas na Liga Mundial.
Paulo Bassul x Iziane
No basquete, brigas são comuns dentro e fora de quadra. A bola da vez está com a Seleção Feminina. Após se recusar a voltar à partida depois de ser substituída no confronto contra a Bielorrússia, em 13 de junho de 2008, válido pelo Torneio Pré-Olímpico, a ala Iziane tornou-se persona non grata para o técnico Paulo Bassul. Indignado com a atitude da jogadora, o treinador brasiliense cortou a atleta da equipe. "Como as reservas entraram bem em quadra, eu optei por colocar as titulares de pouco em pouco. Quando pedi para ela voltar, ela me disse "não vou voltar. Não conta mais comigo". Eu respondi para ela: "se eu não posso mais contar com você neste jogo, não conto mais com você daqui pra frente ."Eu não posso aceitar uma coisa dessas", contou Bassul, na época da dispensa.
A relação entre os dois continua problemática. O técnico voltou a convocá-la para o time, mas a maranhense, que atua pelo Atlanta Dream, da WNBA, recusou-se a participar, chegando a dizer que só retornaria à Seleção quando Bassul não fosse mais o técnico. Neste ano, Bassul conquistou a Copa América com o Brasil e garantiu uma vaga para a seleção no Campeonato Mundial da República Tcheca, em 2010. Depois disso foi liberado pela Confederação de Brasileira de Basquete. Até agora a entidade não decidiu se vai manter o técnico no cargo no ano que vem ou se o substituirá. Uma coisa é certa: a briga entre Bassul e Iziane e a implicância de um com o outro devem influenciar as decisões da CBB.
Iranildo x técnicos do Brasiliense
O meia de 33 anos é conhecido como o homem que arruma encrenca com os treinadores. Neste ano, o Chuchu desentendeu-se com Heriberto da Cunha e Roberval Davino, provocando a saída de ambos. Em 2004, ele, que é o queridinho do proprietário do clube, o senador cassado Luiz Estevão, brigou com Mauro Fernandes e Joel Santana. Com o último, o jogador se revoltou ao saber que treinaria entre os reservas, abandonou o treino e ainda xingou o técnico na saída do estádio.