Subidas íngremes e desafiadoras. Descidas que propõem um verdadeiro downhill. Além da adrenalina do percurso que envolve uma trilha de mountain bike, a natureza e a sensação de se afastar da agitação da cidade motivam ainda mais os praticantes da modalidade, tema da sexta e última reportagem da série sobre esportes de aventura publicada pelo Correio.
Como competição ou lazer, o mountain bike é praticado em trilhas espalhadas pelo Distrito Federal. Uma das mais frequentadas e indicadas para quem está iniciando tem nome engraçado e chamativo: Bundinha. Ela fica no Altiplano Leste (veja mapa). Ponto de encontro dos ciclistas, o local oferece outras opções de trilha, todas com diferentes graus de dificuldade.
Com quase 11km de extensão, a trilha da Bundinha apresenta variados tipos de desafio. Seja subindo ou descendo, o terreno irregular com cascalhos, pedras e valas exige conhecimento técnico do ciclista que precisa, também, dosar o ritmo e poupar energia para aguentar as quase duas horas de percurso. ;O importante é sempre respeitar seu limite. Descer da bike faz parte. É melhor do que cair e se machucar;, explica Cláudio Carraca, 36 anos, há 15 enfrentando solos irregulares em cima de uma bicicleta.
Para os iniciantes, conhecer o equipamento é fundamental, dizem os decanos. Uma bike se comporta de diferentes maneiras quando o chão não é liso e reto. Pedalar na hora certa, somente se equilibrar ou mesmo descer do selim e carregá-la na mão pode fazer a diferença entre evoluir alguns metros ou se esborrachar.
Há bicicletas dos mais diversos matizes. Algumas têm 18 marchas. As mais sofisticadas chegam a 27 marchas. Mas esse não é obstáculo dos mais difíceis do esporte. ;No terceiro dia, já se dominam as técnicas. Não é difícil;, afirma Cláudia Porto, iniciante, 50 anos de idade e um de ladeiras e aclives.
Segundo os ciclistas mais experientes, quem se aventura deve ter o mínimo de preparo e resistência física para enfrentar todo o desgaste oferecido pela trilha. O ideal, dizem, é treinar durante a semana nas ruas, nos parques ou até mesmo na academia. Assim, o corpo se acostuma ao esforço das pedaladas, ao menos nas grandes articulações envolvidas. ;Não adianta só aparecer para fazer trilha. É preciso fazer o dever de casa e treinar;, avisa Márcio Perdigão, professor de educação física e ciclista.
Para quem pretende explorar ao máximo as dificuldades da trilha, ensaiar manobras e simular uma aventura na cidade é boa opção. ;Dá para andar no meio das quadras, pular os meios-fios, passar por terrenos irregulares. É possível pegar habilidade sem sair da cidade;, garante Carraca.
O número
11 KM
Extensão da Trilha da Bundinha, no Altiplano Leste
Saiba mais
Segurança garantida
Fundamental antes de se aventurar é se proteger. Capacete e luvas são itens obrigatórios. Além disso, é preciso ajustar suspensão, verificar pneus, freios e óleo. A escolha do banco também é uma das preocupações dos ciclistas, que vai depender de acordo com o tamanho de cada pessoa. A roupa acolchoada na região dos glúteos evita dores na virilha. Blusas de manga também protegem contra o sol. Outra dica é usar sempre óculos escuros, para evitar que entre poeira nos olhos.
Esforço compensado
Fácil ou difícil, as trilhas exploradas pelos praticantes de mountain bike oferecem invariavelmente paisagens bucólicas e relaxantes. No DF, a rica vegetação do cerrado combinada com rios e córregos transformam a aventura numa terapia. Uns apenas observam o verde da natureza. Outros param para registrar tudo com uma foto. ;A gente sempre se depara com alguma surpresa. É uma forma de se divertir, fazer esporte e relaxar;, garante a professora e triatleta Cláudia Porto, que não se cansa da trilha e jamais a adentra sem estar municiada por uma máquina fotográfica.
Para compensar o esforço, no meio do caminho os atletas fazem uma parada para o lanche, o que ajuda também a socializar o grupo ; sim, nem sempre todos os ciclistas numa trilha se conhecem ; e a repor as energias. Barras de cereal, frutas, biscoitos salgados e muita água preparam a turma para longos trechos de subida. ;A gente não tem pressa. Estamos nos distraindo;, contou Cláudia durante a investida na trilha da Bundinha, acompanha pelo Correio ontem de manhã.
Além disso, o pedal é uma forma de apresentar aos brasilienses um pedaço da capital que poucos conhecem, sem trânsito nem barulho. ;É uma quebra na rotina. Sempre tem novos lugares para conhecer. Também nos dá a oportunidade de tomar um banho de rio ou cachoeira;, completou Fernando Moraes, analista de sistemas.
Aventurar-se em segurança, longe dos carros, também é uma das vantagens de pedalar no meio do mato. ;Isso aqui é nosso parquinho de diversão. Podemos fazer diferentes trajetos. A todo momento escolhemos uma trilha. É bom demais;, resumiu Carraca.
Amigos e família
Com cada vez mais adeptos, a tribo da mountain bike cresce a cada dia. Os novos partidários vêm de todos os cantos, inclusive de outras modalidades em busca de preparação física. Remadora, Rose May Cabral decidiu pedalar para ganhar aumentar a capacidade aeróbica. Combina os dois esportes há três anos. Sempre que pode, o filho, Fábio Cabral, de 18 anos, também pedala nas trilhas. ;O contato com a natureza é muito bom. Já fiz umas cinco trilhas e nunca é igual;, afirma Fábio.
Além disso, o esporte é uma forma de conhecer novas pessoas e fortalecer antigas amizades. Amigos há 10 anos, Fernando Moraes e Ricardo Maeda aproveitam a trilha para esquecer os problemas do dia a dia e colocar a conversa em dia. ;Aqui é esporte, lazer, plano de saúde, terapia. Tudo junto;, resume Ricardo.