O Mundial de Clubes da Fifa de 2009 começa nesta quarta-feira e depois de 30 anos sendo disputado no Japão, o torneio ganha uma nova casa em sua 49ª edição. O novo palco será Abu Dhabi, o maior dos sete estados que formam os Emirados Árabes Unidos.
O país, que organizou o Mundial Sub-20 de 2003 é um apaixonado pelo futebol, que vem crescendo tanto quanto a fama de suas riquezas, de suas mesquitas, das reservas de petróleo e do luxo de seus hotéis. Dubai já recebeu esse ano o Mundial de Futebol de Areia, vencido pela Seleção Brasileira e que contou com um público de causar inveja as arenas da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ).
O país, cujo a maior vitória no futebol foi a conquista da Copa do Golfo de 2007, se classificou para a Copa do Mundo apenas em 1990, na Itália, quando não pssou da primeira fase e não venceu nenhum jogo. Mesmo assim a Fifa está convencida de que fez a escolha mais acertada.
"Os Emirados Árabes Unidos já mostraram em anos anteriores que são capazes de organizar muito bem qualquer tipo de evento e por isso conta com todo o nosso respaldo. O sucesso de público estará garantido e a presença de grandes times do mundo está mexendo com todo o país", disse o suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa.
A presença de público realmente está causando expectativa junto à Fifa, que decidiu substituir o Japão justamente pelo fracasso das últimas edições. Os japoneses, que sediaram a Copa do Mundo de 2002, em conjunto com a Coréia do Sul, pareciam ter se acostumado com a competição da pior maneira possível, ou seja, sem atrair muitos torcedores. Não houve melhora nem mesmo quando a Fifa decidiu impor a presença de um time do país, mesmo que este não tivesse vencido nenhuma competição continental.
Abu Dhabi, que em 2009 recebeu também pela primeira vez um Grande Prêmio de Fórmula 1, reservou dois estádios para o torneio. Um deles é o Mohammed bin Zayed, que pertence ao Al Jazira, um dos dez clubes da Primeira Divisão do futebol do país, e tem capacidade para um pouco mais de 42 mil torcedores. O outro, o principal, é o Cidade Esportiva Zayed, que tem 45 mil lugares e pertence à federação local. Nele os Emirados Árabes Unidos mandam os jogos de sua seleção, que viveu neste palco o grande momento de sua vida, ao derrotar Omã por 1 a 0 na final da Copa do Golfo de 2007.
O interesse pelo Mundial de Clubes vem crescendo nos últimos anos na imprensa internacuional. No continente americano a competição sempre atraiu bastante a atenção, até mesmo antes de o torneio ser reconhecido de forma oficial pela Fifa. África, Ásia, Concacaf e Oceania também receberam bem a competição, principalmente em 2000 e a partir de 2005, quando se fizeram representar. Já a Europa sempre encontrou uma certa resistência. Muitos clubes eram acusados de atuar de má vontade, por priorizarem competições européias, e se criou a máxima de que o Velho Continente não liga para o Mundial. Mas não é isso que se vê quando a bola rola.
"Imagina se eles ligassem. Em dois mil e cinco, na final, o Liverpool correu como um doido para ganhar do São Paulo e só não conseguiu porque o Rogério Ceni estava em um dia inspirado. Além disso, o Gerard, ao fim da partida, se negou a cumprimentar os nossos jogadores por não aceitar a derrota. Depois disso, eles ficaram chorando por causa da arbitragem um mês inteiro", disse o atacante Aloísio Chulapa, que deu o passe para o gol de Mineiro na vitória de seu São Paulo sobre os ingleses na edição de 2005.
Os jogadores sul-americanos sempre acusaram os europeus de terem uma postura pernóstica em relação aos adversários sul-americanos e isso já vem de longe.
"Antes da decisão contra o Flamengo, os jogadores do Liverpool sequer quiseram cumprimentar a gente e nos esnobaram muito nos dias que antecederam ao jogo. Além disso, olharam com desprezo quando a gente estava cantando antes do jogo. Depois daquele dia eles entenderam que superior mesmo é o futebol brasileiro", revelou o ex-lateral Júnior, do Flamengo.
O MUNDO ENTROU EM 2000
Entre 1960 e 1999 o torneio era disputado apenas entre representantes da Europa e da América do Sul. Até 1979 era um jogo na América do Sul e outro na Europa. A partir de 1980, como ganhou o patrocínio de uma fábrica japonesa de automóvel, o torneio passou a ser disputado em um único jogo no Japão, conhecido como Copa Toyota. Até então a Fifa não dava seu aval e não considerava a taça como oficial.
Diante disso, em 2000, a entidade máxima do futebol mundial decidiu organizar o torneio, dessa vez com a presença de todos os continentes e a sede inicial foi o Brasil. O Corinthians ficou com a taça após bater o Vasco numa final brasileira, mas os europeus, que já não curtiam o modelo anterior, passaram a boicotar a competição, que sofreu para conseguir uma segunda edição ano passado.
E foi justamente em 2005 que a Fifa, colocando muito dinheiro para atrair os europeus e escolhendo o Japão como sede para não criar maiores problemas com o antigo patrocinador e acabar com o modelo anterior, conseguiu se considerar a dona do Mundial de Clubes, que passou a levar seu nome. Em troca a entidade passou a considerar como oficial as conquistas desde 1960 e deu mais ânimo aos participantes.
BRASIL TEVE GRANDES MOMENTOS
O futebol brasileiro conquistou o Mundial de Clubes em nove ocasiões. Nas duas primeiras a taça chegou ao paós por intermédio do esquedrão do Santos de Pelé, que em 1962 e 1963 superou Benfica e Milan, respectivamente, na final. Demoraram 18 anos para os brasileiros voltarem a ter um campeão mundial. Pelos pés de Zico e companhia que o Flamengo bateu o Liverpool na decisão daquele ano.
Dois anos mais tarde o Sul do Brasil comemorou mais do que o resto do país a conquista do Grêmio, liderado por Renato Gaúcho. O time gremista superou o Hamburgo, da Alemanha.
"A sensação de ganhar um Mundial de Clubes é enorme, pois mesmo sabendo que ganhamos pela camisa de um time, sabemos que a maior parte do Brasil torceu pela gente. Em oitenta e três acredito que apenas os torcedores do Internacional não vibraram com a conquista do Grêmio. Ainda mais pelo fato de os europeus nos olharem com o nariz em pé nesse tipo de decisão", lembrou Renato Gaúcho.
O Mestre Telê Santana montou dois esquadrões, em 1992 e 1993, e encantou o futebol brasileiro e mundial. No primeiro ano superou o poderoso Barcelona e na temporada seguinte bateu o Milan.
No atual modelo de disputa, com a presença de todos os continentes, o Brasil é o grande papão de troféus. Em 2000, no Maracanã, o Corinthians superou o Vasco numa decisão brasileira.Em 2005 foi a vez do São Paulo de Rogério Ceni mandar o Liverpool chorando para a Inglaterra. Um ano depois, em 2006, o Internacional superou o poderoso Barcelona com 1 x 0, gol de Adriano Gabiru.
OS PARTICIPANTES
Em 2009 o futebol brasileiro não se fará representar no Mundial de Clubes da Fifa. Isso porque o Cruzeiro perdeu a decisão da Copa Libertadores para o Estudiantes, da Argentina, que será o representante sul-americano.
Além do Estudiantes, participam do torneio deste ano o Barcelona, vencedor da Liga dos Campeões da Europa; o Atlante, do México, ganhador da Liga da Concacaf; o TP Mazembe Englebert, do Congo, que ganhou a Copa Africana; o Pohang Steelers, vitorioso na Liga dos Campeões da Ásia e representante da Coréia do Sul; o Auckland City, da Nova Zelândia, que ganhou o principal torneio de clubes da Oceania; e o Al Ahli, campeão nacional nos Emirados Árabes Unidos e que entrou no Mundial como representante do país-sede.
Caso vença o título, o Estudiantes fará da Argentina o mais vitorioso país na história do Mundial de Clubes. Isso porque o país tem nove conquistas, sendo o mesmo número do Brasil. A Itália vem logo atrás com oito títulos. O time argentino ganhou o torneio apenas em 1968, superando o Manchester United, da Inglaterra, na decisão.
Já a Espanha foi campeã quatro vezes. Porém o Barcelona jamais sentiu o gostinho deste título, vencido três vezes pelo Real Madrid e uma pelo Atlético de Madrid. O Barça foi finalista duas vezes, perdendo em todas as ocasiões para brasileiros. Em 1992 caiu diante do São Paulo, enquanto o Internacional foi seu algoz em 2006.
A América do Sul ganhou o título 25 vezes, duas a mais que os europeus. Nenhum outro continente sequer chegou a decisão, embora África, Ásia, Concacaf e Oceania só tenham entrado na disputa em 2005, anteriormente participando apenas em 2000. Abaixo um histórico dos campeões e o número de títulos por clubes e países:
RELAÇÃO DE CAMPEÕES
ANO - CAMPEÃO - VICE - PLACARES
1960 Real Madrid (Espanha) Peñarol (Uruguai) 0-0; 5-1
1961 Peñarol (Uruguai) Benfica (Portugal) 0-1; 5-0; 2-1
1962 Santos (Brasil) Benfica (Portugal) 3-2; 5-2
1963 Santos (Brasil) Milan (Itália) 2-4; 4-2; 1-0
1964 Internazionale (Itália) Independiente (Argentina) 0-1; 2-0; 1-0 *
1965 Internazionale (Itália) Independiente (Argentina) 3-0; 0-0
1966 Peñarol (Uruguai) Real Madrid (Espanha) 2-0; 2-0
1967 Racing (Argentina) Celtic Glasgow (Escócia) 0-1; 2-1; 1-0
1968 Estudiantes (Argentina) Manchester United (Inglaterra) 1-0; 1-1
1969 Milan (Itália) Estudiantes (Argentina) 3-0; 1-2
1970 Feyenoord (Holanda) Estudiantes (Argentina) 2-2; 1-0
1971 Nacional (Uruguai) Panathinaikos (Grécia) 1-1; 2-1
1972 Ajax (Holanda) Independiente (Argentina) 1-1; 3-0
1973 Independiente (Argentina) Juventus (Itália) 1-0
1974 Atlético de Madrid (Espanha) Independiente (Argentina) 0-1; 2-0
1975 Não foi disputada
1976 Bayern de Munique (Alemanha) Cruzeiro (Brasil) 2-0; 0-0
1977 Boca Juniors (Argentina) Borussia Möenchengladbach (Alemanha) 2-2; 3-0
1978 Não foi disputada
1979 Olímpia (Paraguai) Malmöe (Suécia) 1-0; 2-0
1980 Nacional (Uruguai) Nottingham Forest (Inglaterra) 1-0
1981 Flamengo (Brasil) Liverpool (Inglaterra) 3-0
1982 Peñarol (Uruguai) Aston Villa (Inglaterra) 2-0
1983 Grêmio (Brasil) Hamburgo (Alemanha) 2-1 *
1984 Independiente (Argentina) Liverpool (Inglaterra) 1-0
1985 Juventus (Itália) Argentinos Juniors (Argentina) 2-2 (4-2) **
1986 River Plate (Argentina) Steaua Bucareste (Romênia) 1-0
1987 Porto (Portugal) Peñarol (Uruguai) 2-1 *
1988 Nacional (Uruguai) PSV Eindhoven (Holanda) 2-2 (7-6) **
1989 Milan (Itália) Atlético Nacional (Colômbia) 1-0 *
1990 Milan (Itália) Olímpia (Paraguai) 3-0
1991 Estrela Vermelha (Iugoslávia) Colo Colo (Chile) 3-0
1992 São Paulo (Brasil) Barcelona (Espanha) 2-1
1993 São Paulo (Brasil) Milan (Itália) 3-2
1994 Vélez Sarsfield (Argentina) Milan (Itália) 2-0
1995 Ajax (Holanda) Grêmio (Brasil) 0-0 (4-3) **
1996 Juventus (Itália) River Plate (Argentina) 1-0
1997 Borussia Dortmund (Alemanha) Cruzeiro (Brasil) 2-0
1998 Real Madrid (Espanha) Vasco (Brasil) 2-1
1999 Manchester United (Inglaterra) Palmeiras (Brasil) 1-0
2000 Boca Juniors (Argentina) Real Madrid (Espanha) 2-1
2000 Corinthians (Brasil)**** Vasco (Brasil) 0-0 (4-3) **
2001 Bayern de Munique (Alemanha) Boca Juniors (Argentina) 1-0 *
2002 Real Madrid (Espanha) Olímpia (Paraguai) 2-0
2003 Boca Juniors (Argentina) Milan (Itália) 1x1-(3x1) **
2004 Porto (Portugal) Once Caldas (Colômbia) 0-0 (8x7) **
2005 São Paulo (Brasil)**** Liverpool (Inglaterra) 1-0
2006 Internacional (Brasil) Barcelona (Espanha) 1-0
2007 Milan (Itália) Boca Juniors (Argentina) 4-2
2008 Manchester United (Inglaterra) LDU (Equador) 1-0
* Definido na prorrogação
** Definido nos pênaltis
*** Ano de início da disputa no Japão (Copa Toyota), com uma única partida final.
**** Mundial de Clubes da FIFA.
TÍTULOS POR CONTINENTE:
América do Sul: 25
Europa: 23
TÍTULOS POR PAÍS:
ARGENTINA: 9
BRASIL: 9
ITÁLIA: 8
URUGUAI: 6
ESPANHA: 4
HOLANDA: 3
ALEMANHA: 3
PORTUGAL: 2
INGLATERRA: 2
IUGOSLÁVIA: 1
PARAGUAI: 1
TÍTULOS POR EQUIPES:
MILAN: 4
SÃO PAULO: 3
BOCA JUNIORS: 3
REAL MADRID: 3
PEÑAROL: 3
NACIONAL: 3
SANTOS: 2
INDEPENDIENTE: 2
JUVENTUS: 2
INTER DE MILÃO: 2
AJAX: 2
BAYERN DE MUNIQUE: 2
PORTO: 2
MANCHESTER UNITED: 2
CORINTHIANS: 1
GRÊMIO: 1
FLAMENGO: 1
INTERNACIONAL 1
RIVER PLATE: 1
RACING: 1
VÉLEZ SARSFIELD: 1
ESTUDIANTES: 1
ATLÉTICO DE MADRID: 1
OLIMPIA: 1
FEYENOORD: 1
BORUSSIA DORTMUND: 1
ESTRELA VERMELHA: 1