Vagner Vargas
Especial para o Correio
Em setembro, quando esteve no Rio de Janeiro para participar da reunião do Comitê Executivo da Fifa, o presidente da entidade, Joseph Blatter, condenou o uso da famosa paradinha nas cobranças de pênalti. Na época, o dirigente foi duro e chegou a dizer que o recurso era ;uma maneira de roubar, uma deslealdade; e que a abolição ;já é decisão tomada;. Com esse discurso, o suíço revelou que levaria o assunto para ser discutido na reunião da International Football Association Board, no fim de outubro. Até hoje, no entanto, as promessas ficaram só nas palavras.
Segundo a assessoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a entidade não recebeu nenhum comunicado oficial da Fifa em relação à alteração da regra. O que foi proposto por Blatter foi que o cobrador que utilizasse a paradinha fosse punido com cartão amarelo. ;Esse negócio de fingir que vai chutar é uma infração, não é algo justo;, reclamou o presidente.
[SAIBAMAIS]
Informações da própria CBF dão conta de que o assunto, no entanto, pode ser discutido no próximo 2 de dezembro, quando a entidade máxima do futebol fará uma reunião extraordinária ; convocada pelo próprio presidente ; com seu comitê executivo. Os assuntos principais da pauta serão o polêmico gol de mão de Thierry Henry contra a Irlanda, que classificou a França para a Copa do Mundo; a violência nas partidas entre Egito e Argélia, pelas eliminatórias africanas; e a descoberta da polícia alemã de que uma quadrilha armou resultados em cerca de 200 partidas na Europa.
Protagonistas discordam
Mais afetados pelo fim ou não da paradinha, os goleiros e cobradores conversaram com o Correio e não entram em um consenso em relação ao assunto. E a polêmica fica bem dividida entre aqueles que batem e os que tentam defender as cobranças. Se por um lado os goleiros concordam com Joseph Blatter, por outro os batedores acham que é um recurso válido.
Contundentes, os camisas um Rafael, do Fluminense, e Jefferson, do Botafogo, são contra o recurso. ;Acho uma tremenda vantagem para o atacante. Para equilibrar, a regra poderia então permitir que o goleiro se mexa e se adiante nestes casos;, pediu o jogador do Flu. ;Não é um duelo justo. O pênalti é a continuação de uma jogada que foi interrompida com falta. E com o jogo em andamento, ninguém dá paradinha na frente do goleiro;, opinou o alvinegro.
Do outro lado, o artilheiro Fred afirma que não tem porque o time infrator ser beneficiado. ;O pênalti existe porque o adversário impediu com falta uma chance de gol. Portanto, quem tem de levar toda a vantagem na cobrança é o atacante, é o time que foi prejudicado.; Já Lúcio Flávio, camisa 10 do Botafogo, crê que são os goleiros que precisam se adaptar. ;O futebol privilegia o gol. Acho que, aos poucos, os goleiros vão aprender a defender mesmo se o atacante der a paradinha. É uma questão de treino;, aposta.
Em cima do muro
Do alto de seus 36 anos de idade, os goleiros Marcos e Rogério Ceni não condenam nem defendem o uso da paradinha. Os dois veem lados positivos e negativos no recurso. Para Ceni, que além de defender também é cobrador, a situação é inusitada. ;Como goleiro, sei o quanto é difícil, pois tenho que esperar para ver o que vai acontecer. Neste caso, fico feliz se a paradinha acabar. Mas, como batedor, fico triste, porque é mais uma opção que a gente tem;, explica o são-paulino.
Enquanto isso, o palmeirense, conhecido por sua habilidade de pegar penalidades, revela que não são todos os jogadores que possuem a habilidade de executar o movimento com perfeição. ;A possibilidade do goleiro defender um pênalti é mínima, e com a paradinha, piora. O negócio é esperar ao máximo para poder definir a jogada. O que nos ajuda é que são poucos os que realmente sabem cobrar bem, como o Ceni e o Alex Mineiro;, cita.