Um rebanho precisa de um bom pastor. Sorte das ovelhas gregas, um dos animais famosos na fauna do país europeu. Obediente ao cajado do alemão Otto Rehhagel, de 71 anos, os cordeiros helênicos não param de colecionar sucessos. Depois de surpreender o mundo ao conquistar o título inédito da Eurocopa, em 2004, a seleção está de volta à Copa do Mundo após 16 anos de espera. Um prêmio para o técnico em sua penúltima temporada de contrato.
;Não sei o que vai acontecer na África do Sul. Com certeza vai depender muito do que o sorteio (em 4 de dezembro, na Cidade do Cabo) apontar para a Grécia. Mas, independentemente da nossa sorte e do que seremos capazes de fazer, poderei me aposentar como um homem feliz após a Copa do Mundo;, comemora o técnico Otto Rehhagel. ;Quando assumi a Grécia, em 2001, os desafios eram participar da Eurocopa e voltar ao Mundial. Fomos além. Conquistamos a Euro, em 2004, fomos eliminados na fase de grupos, em 2008, e agora estamos de volta à Copa. Minha tarefa está cumprida;, argumenta, em entrevista à revista inglesa World Soccer.
Na verdade, a missão está parcialmente cumprida. A Grécia só disputou a Copa em 1994, nos Estados Unidos, e não venceu ninguém. Sob o comando de Alketas Panagulias, perdeu para Grécia, Bulgária, Nigéria e terminou o último Mundial com 24 países na lanterna. Ou seja, se Otto Rehhagel vencer uma partida terá seu nome registrado na história do país. ;Queremos ir além. O sonho do povo grego é chegar no mínimo às oitavas de final;, avisa o treinador mais estável da história da seleção grega. Antes, o recorde era de quatro anos. Rehhagel ocupa o cargo há sete.
Segundo o técnico, a fórmula da longevidade tem quatro palavras: organização, disciplina, química com o elenco e criatividade. ;As duas últimas palavras fizeram a diferença na Eurocopa de 2004. Antes da final, contra Portugal, o Cristiano Ronaldo declarou que não sabia o nome de nem um jogador da Grécia. Usei essa bobagem dita por ele para motivar os meus jogadores. Imediatamente eu disse mostrem do que são capazes e eles jamais esquecerão as suas biografias. A química funcionou. O time assimilou e derrotamos Portugal dentro da casa deles;, lembra Otto Rehhagel.
Apontado como um dos técnicos mais inteligentes da Europa taticamente, o alemão adora mudar a configuração tática da Grécia. Criticado pelas várias facetas do time, Otto Rehhagel contra-ataca. ;Pra vencer, é preciso evitar a monotonia, surpreender os adversários. É o que eu tento fazer;, justifica o veterano, mas moderno pastor alemão das ovelhas gregas.
E se cair na chave do Brasil?
As duas seleções nunca se enfrentaram em uma Copa do Mundo. O primeiro duelo foi em um amistoso, em 1974: 0 x 0. Em 2005, o Brasil venceu por 3 x 0, pela Copa das Confederações
Ranking da Fifa é o termômetro grego
Otto Rehhagel tem a Grécia nas mãos. A prova disso é o discurso dos comandados. Convidado a fazer uma avaliação do trabalho dos oito anos de trabalho do alemão, o atacante Georgios Samaras resumiu com números. ;Quando ele assumiu o nosso time, nossa posição no ranking da Fifa era 61;. Hoje, estamos em 12;, mas já chegamos a ficar entre os 10 melhores, em oitavo lugar;, exalta.
Samaras, 24 anos, atua no Celtic, da Escócia. Ele é um dos três atacantes do time no ousado 4-3-3. Não participou da conquista da Eurocopa, em 2004, mas está perfeitamente entrosado com o grupo. ;Quando um técnico está há tanto tempo no cargo, a adaptação ao elenco é bem mais fácil. Hoje, todos sabemos em um gesto ou olhar o que ele deseja. Isso facilita o trabalho de todo mundo;.
Samaras foi fundamental para o desempenho de Gekas, o salvador grego nas Eliminatórias da Europa. Autor de 10 gols, o centroavante fez a diferença nos momentos de tensão. Irregular, seleção esteve próxima de ficar fora do Mundial pela quarta vez. Na fase de grupos, perdeu duas vezes para a Suíça e sofreu constantes ameaças da Letônia e de Israel. Graças ao fator ;Gekas;, a Grécia segurou o segundo lugar e decidiu a vaga na repescagem, contra a Ucrânia. O empate por 0 x 0, em Atenas, e a vitória por 1 x 0, em Kiev, foram determinantes para o retorno da Grécia ao Mundial.
;Estamos de volta ao Mundial com quatro anos de atraso. Deveríamos ter disputado em 2006, mas o excesso de confiança após a conquista da Eurocopa nos atrapalhou;, assume Gekas. ;Depois daquele fracasso o grupo se fechou. Hoje, temos a melhor seleção grega de todos os tempos. Não temos 11 titulares, aprendemos a ser um elenco. Somos uma dor de cabeça para o técnico;, diz Gekas.
Motivado com a participação em sua primeira Copa do Mundo, o centroavante avisa: ;Tentamos voltar à Copa três vezes e não conseguimos. A nossa classificação para 2010 encheu nosso país de alegria e, enfim, poderemos medir forças com as melhores seleções do mundo.;
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