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Saiba mais sobre a seleção da Eslovênia

Lince tem fama de arranhar nas Eliminatórias, mas esconde as unhas no Mundial. Protagonista da maior surpresa da repescagem, a ex-república iugoslava planeja ir além do antepenúltimo lugar de 2002

Uma das características do lince, um dos símbolos da fauna da Eslovênia, é a produção de sons quase imperceptíveis. A presença do felino dificilmente é notada pela presa, mas quando o animal com bigode e cara de gato dá o bote, sai de baixo. Romênia e Rússia sabem disso. Foram devoradas pelo bicho.

Nas Eliminatórias para a Copa de 2002, a ex-república iugoslava terminou a fase de grupos em segundo lugar, atrás da Rússia. Na repescagem, enfrentou a Romênia, quarta colocada no Mundial de 1994. A Eslovênia não deu a mínima para a tradição do adversário e começou a construir a classificação vencendo na capital, Liubliana, por 2 x 1. Em Bucaresti, segurou o empate por 1 x 1 e carimbou o passaporte pela primeira vez como nação independente.

A história se repetiu na seletiva para 2010. A Eslováquia conquistou a vaga direta do Grupo 3 para o Mundial. Vice-líder, a Eslovênia disputou a repescagem. Quando o sorteio apontou o duelo com a Rússia, o lince virou zebra. O meia Arshavin e o técnico holandês Guus Hiddink, maior responsável pelo quarto lugar da Holanda (1998) e da Coreia do Sul (2002), e pela classificação da Austrália, após 32 anos de jejum, eram os talismãs do adversário.

Mas os favoritos pagaram pelo menosprezo. ;Nunca vi uma partida da Eslovênia;, ironizou Arshavin. O craque russo falou demais. Outra vez a Eslovênia não deu a mínima para a tradição. Em Moscou, jogou com o regulamento debaixo do braço. Sofreu dois gols, mas marcou um. O gol fora de casa fez toda a diferença na partida de volta, em Maribor. Valente, a seleção eslovena venceu por 1 x 0, despachou a Rússia e causou a única surpresa da repescagem.

;Foi um jogo histórico para a Eslovênia. É uma honra estar pela segunda vez entre as 32 melhores seleções do mundo;, comemorou o técnico Matjaz Kek, em entrevista ao jornal Dnevenik, após a classificação.

Na África do Sul, a missão do lince esloveno será apagar a imagem de animal dócil deixada na Copa de 2002. Na única participação, o país perdeu os três jogos: 1 x 3 para Espanha e Paraguai, e 0 x 1 para a fraca África do Sul. Trigésima colocada no Mundial, a Eslovênia só terminou à frente da China e da Arábia Saudita entre os 32 participantes. Então, respeito é bom no sorteio, em 4 de dezembro, na Cidade do Cabo. A fera está ferida.

Campanha nas Eliminatórias

Fase de grupos
6/9/2008 1 x 1 Polônia
10/9/2008 2 x 1 Eslováquia
11/10/2008 2 x 0 Irlanda do Norte
15/10/2008 0 x 1 República Tcheca
28/3/2009 0 x 0 República Tcheca
1/4/2009 0 x 1 Irlanda do Norte
12/8/2009 5 x 0 San Marino
9/9/2009 3 x 0 Polônia
10/10/2009 2 x 0 Eslováquia
14/10/2009 3 x 0 San Marino

Repescagem
14/11/2009 1 x 2 Rússia
18/11/2009 1 x 0 Rússia


Memória

Além da Copa de 2002, a Eslovênia participou da Eurocopa, em 2000, disputada na Holanda e na Bélgica. A participação foi pífia: um empate com a Iugoslávia
(3 x 3), outro com a Noruega
(0 x 0) e uma derrota para a Espanha (1 x 2).


Artilheiro promete peitar os favoritos em 2010

A Eslovênia marcou apenas dois gols em sua única participação na Copa do Mundo, em 2002. Mas no que depender do artilheiro do país nas Eliminatórias, o poder ofensivo será maior em 2010. Milivoje Novakovic, do Colônia, da Alemanha, balançou a rede cinco vezes durante a seletiva europeia.

Aos 30 anos, o experiente centroavante atribui parte do sucesso da Eslovênia ao convívio familiar desde as seleções de base. ;Somos fortes porque aprendemos a ser uma equipe. Nossos jogadores mais jovens foram muito bem-recebidos pelos mais velhos. Essa parceria deu certo e, por isso, vamos à Copa pela segunda vez;, explica o jogador, em entrevista ao site da revista alemã Kicker.

O relacionamento respeitoso dentro do grupo é outro trunfo exaltado por Novakovic. ;Os líderes do nosso time são o nosso goleiro e capitão Hondanovic, o volante Koren e eu. Os jogadores mais novos da seleção entendem e respeitam essa hierarquia. Deixo claro que sou o mais velho entre os titulares e que, portanto, o peso maior está sobre os meus ombros;, revela o artilheiro.

O papel do técnico Matjaz Kek também é exaltado por Novakovic. ;Ele foi jogador, entende do assunto e está amparado por uma excelente comissão técnica. Além disso, sabe se relacionar com o elenco e transmitir suas experiências ao time;, elogia o jogador, com indiretas ao técnico da Eslovênia na Copa de 2002. O temperamental Srecko Katanec costumava bater de frente com as estrelas. Magoado com o ex-técnico por não tê-lo convocado para o Mundial de 2002, Novakovic evita polêmica. ;Os tempos eram outros. Tinha 22 anos, estava começando a carreira. Hoje, não, eu sou um dos líderes do time.;

Taticamente, Novakovic considera a marcação um dos trunfos da Eslovênia. ;Matjaz Kek era zagueiro. Ele teve facilidade para nos ensinar a ser uma seleção compacta. Nosso técnico é tão exigente que o combate ao adversário começa comigo, lá no ataque. Esse é um grande diferencial no trabalho dele.;

Novakovic espera que a segunda participação da Eslovênia na Copa traga os mesmos benefícios da classificação inédita de 2002. ;Nosso resultado foi ruim, é verdade, mas a nossa presença despertou o orgulho nos nossos jogadores. Oito anos depois, o nosso desafio é provar que um país tão pequeno como o nosso pode enfrentar os gigantes do futebol sem medo.;