São Paulo %u2013 Ter sobrenome de tricampeão ajuda o aspirante à Formula 1 Bruno Senna, 26 anos, a ter visibilidade, mas atrapalha os planos de chegar à maior competição automobilística do mundo. "Muita gente não me conhece pessoalmente e reluta em me aceitar numa equipe", diz. Mas ele insiste. Considerado talentoso nas pistas, está disposto a provar que a sua habilidade para pilotar é genética.
Sobrinho de Ayrton Senna, morto em 1994 na Itália, ele negocia com três equipes a possibilidade de ingressar na temporada de 2010. Até este sábado (17/10), ele jurava que não tinha fechado com nenhuma, apesar dos rumores dando conta que ele assinou com a Campos, escudeira espanhola que estreia na Fórmula 1 no ano que vem. "Não assinei nada ainda. Além da Campos, também conversei com a Manor e a Lotus. Mas só vou anunciar uma decisão em breve", garante.
Discreto que nem o tio, diz que se cobra e assume uma frieza comum aos pilotos. Assume que é comum os pilotos manipularem resultados, mas diz que jamais simularia um acidente como fez o colega Nelsinho Piquet. Para as meninas, ele manda um recado: "Estou solteiro". Leia trechos da entrevista exclusiva que Bruno concedeu ao Correio no dia do seu aniversário de 26 anos.
Afinal, quando sai o anúncio oficial de que você vai correr na Fórmula 1?
Ainda estamos negociando com três equipes, mas não fechamos com nenhuma. Daqui a umas duas semanas devemos bater o martelo.
>b>Quando nasceu o desejo de você correr?
Quando eu tinha quatro anos, tive vontade. Aos 10, meu tio morreu e tive de suspender as corridas por causa do trauma da minha família. Aos 18, disse para a minha mãe que queria correr e aos 20 comecei no kart.
Que tipo de influência o Ayrton Senna teve sobre você?
A minha família era toda voltada para o trabalho do meu tio. Então, a influência foi total. Ele me levava para correr. Posso dizer que não é nada forçado e que a minha vontade foi natural.
O Ayrton morreu competindo. Você tem medo de ter o mesmo destino?
Não tenho esse medo. Um piloto entende muito melhor um acidente do que alguém que está de fora. Sempre entendi que correr envolve um risco, mas esse risco é calculado. Consigo entender cada situação.
De onde os pilotos tiram tanta frieza?
Acho que do nosso autocontrole nas situações que enfrentamos. Sempre há riscos de falhas mecânicas, de se envolver em acidentes com outros pilotos e outras variáveis. Na maioria das vezes, a gente assume esse risco e tem que saber lidar com isso.
Qual cobrança pesa nas suas costas por ser sobrinho do Ayrton?
Existe uma cobrança, mas eu sei lidar com ela. Tenho objetivos, metas reais e estratégias. A cobrança é natural.
Como você lida com o fato de Rubinho Barrichello ter "roubado" o seu lugar na Fórmula 1
É natural competir com outros pilotos por uma vaga. Encaro essa competição como outra qualquer. Não estou brigado com o Rubinho por causa disso. Sempre que a gente se encontra, nos falamos. Não sou amigão dele, mas temos uma boa relação.
O tempo passa e a sua aparência fica mais semelhante à do Ayrton. Até o seu corte de cabelo é igual. Para completar, você mandou fazer um capacete idêntico ao que ele usava. Isso é proposital?
Nunca parei para pensar nisso. O meu capacete é uma homenagem a ele. Infelizmente ou felizmente, toda a minha família tem semblante parecido, inclusive o Ayrton.
Alguns críticos dizem que ficar semelhante ao Ayrton é uma
estratégia de marketing...
Estou dizendo que não. Mas se os meus críticos acham isso, paciência. O que eles querem que eu faça? Uma plástica para não ficar parecido com o Ayrton?
Você seria capaz de simular um acidente para manipular
o resultado, como o Nelsinho Piquet fez?
Jamais. Isso está totalmente fora da minha capacidade. Mas o julgamento que se faz do Nelsinho é simplista. Ele não é a única pessoa que participou disso e nem é o único culpado. Nem todo mundo está falando a verdade nesse caso.
É comum manipular resultados nas corridas para beneficiar
companheiros de equipe, como fez o Nelsinho?
Existem fórmulas de manipular resultados que são competitivas. Se o companheiro de equipe estiver na frente e precisar diminuir a velocidade para segurar o carro, é normal. As equipes sempre fazem isso para obter resultados. Isso é uma estratégia de competição.
Você já lançou mão desse artifício para obter vantagem para a sua equipe?
Não, porque fora da Fórmula 1 não é comum esse tipo de estratégia. Mas, dependendo do que me é pedido, poderei atender. Entretanto jamais simularia um acidente de forma deliberada, nem agiria de má-fé.