Nenhuma articulação do corpo humano tem a mobilidade do ombro. Os movimentos na junção braço-tórax podem ser realizados em todos os sentidos, ao contrário do que acontece com joelhos e cotovelos. Mas, justamente para possibilitar essa vasta gama de movimentos, a cintura escapular, como é chamado o conjunto de músculos, ligamentos e ossos, não é rígida, o que faz do ombro a articulação mais frágil que o ser humano tem. Segundo um artigo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os problemas nessa região representam de 8% a 13% de todas as contusões entre atletas. A incidência é maior nos esportes de arremesso, como beisebol, vôlei e até mesmo natação, pelo movimento das braçadas.
As lesões dividem-se em traumáticas e atraumáticas. "As do primeiro grupo são totalmente imprevisíveis e acontecem depois de impactos fortes na região. Já as lesões sem contato são causadas pela sobrecarga da articulação ou realização de movimentos repetitivos e de forma errada", explica o ortopedista e especialista em ombro, Lúcio Fonseca.
Para minimizar os riscos, é preciso se certificar de que a técnica adotada e a carga são as corretas. O também ortopedista José Antônio Borja alerta: "É fundamental que toda a musculatura, anterior e posterior, esteja equilibrada. Quando uma parte está mais desenvolvida que a outra, passa a exercer uma tensão excessiva nos demais músculos".
Esse problema é identificado especialmente entre os nadadores, cujos movimentos afetam principalmente o peitoral, em detrimento das costas. O estudo da Unifesp aponta que mais de 60% dos praticantes da modalidade no Brasil vão apresentar patologias nessa articulação em algum ponto da carreira. No vôlei, esse índice é de 44%.
Lesionada depois de ignorar a dor
Foi justamente o excesso que comprometeu o ombro da professora de boxe e ex-pugilista Fernanda Caiado, 33. Ela começou a sentir dores durante seu exigente trabalho de condicionamento físico, que inclui musculação (série pesada para os braços), ginástica localizada, treinos específicos de boxe e spinning. "Sentia algumas fisgadas, mas como já havia deixado de competir, não dei muita atenção. A dor ficou cada vez pior, até que, depois de oito meses de incômodo, me submeti a uma ressonância magnética", lembra. O diagnóstico foi um processo inflamatório grave no manguito rotador. Se o tratamento não fosse imediato, os tendões poderiam ser comprometidos e uma cirurgia seria a única opção. Foram quatro meses de fisioterapia, acupuntura e trabalhos musculares.
Ainda hoje, quase um ano depois do início do tratamento, Fernanda faz exercícios de fisioterapia, para não arriscar novos desgastes. "Até hoje sinto uma certa insegurança na hora de levantar pesos. Antes, fazia exercícios com a carga de 12kg em cada braço. Agora, não passo dos 8kg", comenta. Uma coisa é certa, depois da lesão. Se sentir dor novamente, vai direto a um especialista.
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