Acusado de ministrar eritropoietina recombinante (EPO) aos cinco atletas que defendiam a Rede Atletismo e foram suspensos pelos próximos dois anos, o fisiologista Pedro Balikian ainda não se pronunciou desde a divulgação do caso. Indignados, os competidores cobram explicações.
"Eu me sinto enganada. Ele não atende mais os nossos telefonemas e sumiu. Não digo que ele seja culpado, mas que ele venha à imprensa e diga a verdade, que assuma a responsabilidade pelo que fez", declarou Josiane Tito, do revezamento 4x400m.
[SAIBAMAIS]Técnico de três dos cinco atletas afastados, Jayme Netto Júnior assumiu a culpa pelo doping, mas disse que foi orientado por Balikian. Os competidores alegam que não tinham consciência do uso da EPO - hormônio capaz de melhorar a capacidade de oxigenação do sangue. "Ele falava que eram apenas aminoácidos", disse Lucimara Silvestre, do heptatlo.
Bruno Lins Tenório de Barros, que compete nos 200m e no revezamento 4x100m, pede transparência. "Eu gostaria que ele aparecesse e explicasse para todo mundo, como nós estamos fazendo. Nós não temos nada para esconder", disse o atleta, que pensa em cursar uma faculdade enquanto está suspenso.
Na última quinta-feira, os competidores que testaram positivo prestaram esclarecimentos à Comissão de Inquérito Administrativo da Confederação Brasileira de Atletismo (Cbat). Na manhã desta sexta, o fisiologista é esperado para depor ao lado dos técnicos Jayme Netto Júnior e Inaldo Sena.
Lucimar Teodoro, dos 400m com barreiras, flagrada com femproporex no Troféu Brasil, também acusa Pedro Balikian. Diferente dos demais atletas suspensos, que recebiam a substância proibida através de injeções na barriga, ela consumia os medicamentos por via oral.
"Não tenho raiva nem ódio dele. Só queria saber o porquê do erro. Foi uma coisa boba e que prejudicou todo mundo. Ele tinha que assumir a culpa, como nós assumimos", declarou. Após a divulgação dos resultados, os atletas dispensaram a realização da contraprova e foram suspensos por dois anos.
Apesar de cobrar o fisiologista, Lucimar atribui a responsabilidade pelo incidente aos próprios competidores. "Pode-se dizer que os atletas brasileiros são totalmente burros nesse tipo de coisa. Os culpados maiores somos nós mesmos, por confiar e não ter conhecimento do que estávamos tomando", reconheceu.
Atletas ignoram mundial
Os atletas afastados por doping estavam classificados para o Mundial de Berlim. Alguns competidores, inclusive, já faziam aclimatação na Alemanha. Excluídos no torneio, eles preferiram não assistir as provas pela televisão.
"Eu nem vi o Mundial. A competição estava acontecendo, e eu estava curtindo a minha vida aqui", diz Josiane Tito, que pretende retomar os treinamentos apenas em outubro de 2010.
Lucimara Silvestre também ignorou o torneio em Berlim. "Nessa época, eu estava triste, porque sabia do meu potencial, sabia que podia quebrar meu próprio recorde. Só melhorei depois que acabou o Mundial", contou.
Já Lucimar Teodoro acompanhou somente apenas as exibições do velocista jamaicano Usain Bolt na competição alemã. "Eu não acompanhei quase nada", declarou a competidora.