Jornal Correio Braziliense

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Apenas mais um passo para Bellucci

Em entrevista exclusiva, Thomaz Bellucci ressalta que ter vencido o ATP de Gstaad, na Suíça, na semana passada, não mudará sua vida. Ele quer seguir ralando para voltar a brilhar em breve

Aos 21 anos, o paulista Thomaz Bellucci viu a primeira semana de agosto surgir com um presente dos mais valorosos em sua carreira ao olhar o ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e ver seu nome na 66ª posição. Nada mau para quem, até a semana passada, aparecia na 119ª posição. O incrível salto de 53 posições deveu-se ao histórico título de Gstaad, na Suíça, conquistado no último fim de semana, quando ele derrotou o alemão Andreas Beck na decisão. Com o feito, Bellucci conquistou o primeiro troféu em um torneio de grande porte na carreira e, assim, entrou em um seleto grupo de tenistas brasileiros que já sentiram esse gostinho. Além dele, apenas seis jogadores do país já venceram torneios de primeira linha: Gustavo Kuerten (20 torneios), Luiz Mattar (7), Fernando Meligeni (3), Thomaz Kock (2), Jaime Oncins (2) e Ricardo Mello (1) conseguiram triunfar no disputado circuito mundial. De quebra, Bellucci, o segundo mais jovem tenista do país a vencer um torneio de grande porte (Guga tinha 20 anos quando venceu Roland Garros pela primeira vez, em 1997), quebrou um tabu de cinco anos do Brasil sem ganhar eventos da série ATP. O último tinha sido Ricardo Mello, em 2004, em Delray Beach, nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, onde irá se preparar para tentar ir bem no US Open, no fim do mês, Bellucci conversou sobre o momento atual e ressaltou ainda que tem muito a melhorar e não pretende se iludir com esse título. Ouça o podcast com a íntegra da entrevista com Bellucci:
Já caiu a ficha de que você agora é um campeão da ATP? Foi uma conquista muito importante. Fiquei bem contente com o resultado. Eu sempre trabalhei para isso e sempre foi o meu objetivo. Aconteceu um pouco mais rápido do que a gente previa, mas foi mais pelo nosso trabalho. Trabalhamos duro, no ano passado deu tudo certo, acabou faltando um pouco de sorte, mas agora estamos indo no caminho certo. Essa foi a segunda final do ano. No Brasil (Costa do Sauípe), você foi vice-campeão. Como foi a sensação de perder em casa e ser campeão na Suíça? No Sauípe, eu perdi, mas fiquei satisfeito porque fiz grandes jogos naquela semana e perdi para um grande jogador que foi o Robredo (espanhol Tommy Robredo) na final, então não fiquei chateado. Agora, na Suíça, senti um pouco menos de nervosismo na final. Consegui levar bem os pontos importantes. Na Suíça, é claro que eu me senti melhor por ter ganho, mas fiquei muito satisfeito também por ter feito a final no Brasil. Em 2007, você jogou um Future de apenas US$ 10 mil no Clube do Exército, em Brasília, e perdeu nas quartas de final. Em 2008, você jogou com Rafael Nadal na quadra central de Roland Garros e depois disputou as Olimpíadas de Pequim. Agora, venceu seu primeiro torneio. A que se deveu toda essa evolução? Acho que foi mais em função do meu trabalho. Desde aquela época, eu já treinava bastante e batalhava para ganhar aqueles torneios. Às vezes, faltava um pouco de experiência para ganhar alguns jogos e com o tempo eu fui amadurecendo nesse ponto. E também o João (João Zwetsch, técnico do jogador) me ajudou bastante, me passou várias coisas legais neste ano. Então, foi um conjunto de coisas: o meu amadurecimento, minha evolução técnica, e a ajuda do João. Este ano, você experimentou uma final de ATP, no Brasil Open, mas depois amargou uma queda no ranking, deixando o grupo dos 100 melhores do mundo. Qual foi a fase mais difícil desse processo? Foi aquela fase em que eu acabei perdendo um pouco o ritmo e perdi alguns jogos que estavam relativamente ganhos. Isso acontece na carreira de qualquer jogador, essas fases não tão boas, e foi naquele momento em que eu acabei caindo para os 130, 140 do mundo e voltando para os challengers (torneios de médio porte) e foi a fase mais difícil. Mas em nenhum momento a gente abaixou a cabeça e foi isso a chave de a gente ter voltado agora. Quais são os pontos em que você acredita que mais terá de evoluir? Acho que a parte do físico eu preciso evoluir bastante e a parte técnico e tática também. Na parte técnica, eu tenho que ser um pouco mais sólido e no aspecto tático tenho que saber usar melhor os meus golpes. Então, é uma série de fatores que eu preciso melhorar e não posso relaxar agora por esse título. No aspecto mental, que é muito importante no tênis, ter vencido o primeiro torneio tirou um peso dos seus ombros? Acho que não. Eu sou novo e tenho muito tempo para jogar os torneios grandes. Tenho 21 anos só e tenho mais 10 ou 15 anos de carreira e não é um torneio que vai mudar a minha vida. O mais importante foi o aspecto da confiança, de saber que eu posso jogar em alto nível, que eu posso ganhar dos melhores jogadores e que posso chegar aonde eu quero. Em breve, teremos a Copa Davis, em Porto Alegre, contra o Equador. Quais as chances de o Brasil vencer o confronto e voltar ao Grupo Mundial? Acho que as chances são boas. A gente joga em casa, com o piso escolhido (saibro), e a gente está com uma confiança maior por estar com o melhor time que a gente já teve nos últimos quatro ou cinco anos, então estamos bastante otimistas. Temos uma dupla que está jogando em alto nível. Com certeza, somos os favoritos porque estamos jogando em casa e temos jogadores melhores ranqueados. Então, temos boas chances de passar para o Grupo Mundial (onde estão as 16 melhores equipes da Copa Davis).