A dor foi horrível e o choro, inevitável. Triste, o brasiliense Matheus Nolasco de Oliveira Silva chorou de novo quando soube que estava fora do próximo jogo pelo Campeonato Paulista infantil. Acabou ficando cinco meses no estaleiro.
Numa disputa normal de bola com o goleiro, Matheus pisou errado e o estrago foi imediato. "Na queda, o corpo foi para um lado, mas a garra da chuteira (do pé direito) ficou presa na grama e eu senti um estalo e muita dor", conta o brasiliense de apenas 14 anos. Agora, já sem traumas, ficou na sua lembrança aquele treino trágico de uma quinta-feira, 22 de maio de 2008, no CT Meninos da Vila, escolinha do Santos Futebol Clube, do craques Pelé e Coutinho, e os mais recentes Robinho e Neymar.
Dos primeiros socorros à mesa de cirurgia, dois meses depois do acidente em campo, Matheus recebeu uma placa de platina, fixada com quatro pinos, para corrigir as fraturas da tíbia e fíbula da perna direita. Hoje, ele exibe as cicatrizes, pouco acima do tornezelo, como uma espécie de troféu. Mas um prêmio para ser esquecido. Aos 14 anos, candidato a craque, Matheus enfrenta estágios próprios de quem já é profissional.
Saído dos empoeirados campos de peladas da Ceilândia, onde o futebol era praticado de forma lúdica, Matheus foi aprovado numa peneira do Santos, no início de 2007. Assim, aos 12 anos, o garoto esguio de 1,72m e 54kg se afastou prematuramente da família para iniciar carreira e tentar vaga no valorizado mercado do futebol profissional.
Já adaptado à rotina de estudos (8ª série) pela manhã, treinos à tarde e jogos nos fins de semana, o atacante enfrentou, um ano depois de ter chegado à Vila Belmiro, um drama que normalmente ocorre com quem já é titular: as graves contusões.
"O médico (Gustavo Guedin) nos alertou que Matheus poderia ficar inutilizado para o futebol", recorda Luiz Alberto, o Betinho, pai de jogador. "Fiz a minha parte. Ele é uma criança em fase de crescimento e os ossos são importantes na fase de desenvolvimento", foram as palavras do doutor Gustavo à época, preparando a todos para a pior notícia, a inatividade para o futebol. "Só o tempo mostrará se ele está recuperado e se não ocorrerá rejeição ao material implantado", ouviu Betinho. Palavras que aterrorizaram a família do jovem brasiliense, mas que, felizmente, não se confirmaram.
Fisioterapias, revisões e nada de sequelas
O tempo passou. Ao lado da mãe, Lucimar, desde o dia seguinte à lesão, Matheus enfrentou todas as fases exigidas. Com apoio de psicóloga, oferecida pelo clube,passou por fisioterapia e revisões médicas. Aos poucos, retomou os exercícios físicos, depois com bola e, finalmente, os treinos coletivos com os colegas, quatro meses depois de seu afastamento dos campos.
"Não ficaram sequelas", comemora Lucimar. "Foi uma lesão grave, mas está superada. Matheus treina normalmente", comenta Igor Nunes, um dos dirigentes do Santos que tem contato direto com a garotada das categorias de base. "Nunca pensei na gravidade. Sempre acreditei que sairia bem dessa", comemora hoje Matheus, de férias em Brasília e levantando poeira no campo improvisado de Ceilândia, num reencontro com os amigos. (JC)
Jantar e conselhos com Neymar
Quando se transferiu para a cidade de Santos, no litoral paulista, em agosto de 2007, Matheus Nolasco de Oliveira Silva jogava bola "por diversão". Seu depoimento está em reportagem publicada no Correio Braziliense, naquela ocasião.
Em duas temporadas, porém, o garoto, agora com 14 anos, amadureceu. E o envolvimento com o futebol ficou sério, com compromissos reais que ele mesmo reconhece. Na prática, esse atacante da camisa sete do time infantil da escolinha Meninos da Vila - em 2010 será juvenil - vive ainda na infância situações comuns de experientes jogadores: afastou-se da família para se profissionalizar em outro estado, tem agenda diária lotada - focada nos estudos e treinos -, sofreu grave lesão na perna direita, colocando a carreira em risco, recuperou-se de cirurgia, passou por sessões de fisioterapia, recebeu apoio de psicóloga e, finalmente, voltou a treinar e jogar normalmente.
Toda essa agitada fase de adaptação a uma vida de atleta de alto nível acabou sendo recompensada há poucos dias, quando Matheus foi jantar com Neymar, uma das estrelas do Santos. Famoso, o artilheiro, de apenas de 17 anos, conversou muito com o garoto da Ceilândia. Deu conselhos sobre a carreira que se forma. A conversa poderia ter sido mais longa. Mas Neymar foi descoberto pelos torcedores, que estavam no mesmo restaurante, e a agitação encerrou o jantar de massa e pizza.
"Todo mundo queria tirar foto com ele, pedia um autógrafo, e aí ficou complicado", diverte-se Matheus, orgulhoso do amigo de clube, mas também aprendendo como é dura a vida de jogador famoso. (JC)
Saído das poeiras de Ceilândia
Por trás dessa agitada formação de Matheus Nolasco estão duas instituições fortes: a família e a estrutura do Santos Futebol Clube. "Enfrentamos o período da cirurgia com muita oração", revela o pai, Luiz Alberto, o Betinho. Com a mulher, Lucimar, e junto dos avós, eles não escondem a fé cristã para ajudar a suportar os momentos difíceis dessa separação do filho.
Mas Betinho esperava por isso. Ele observou o talento do filho muito cedo, quando ainda era peladeiro do Nosso Esporte Clube, time da QNM 20, da Ceilândia. A agremiação, voltada para os garotos da região, sobrevive com apoio do comércio da comunidade e amigos, como Eliemerson Alves de Brito, um dos técnicos, e Genival Vitorino da Silva, "que dá a maior força", garante Betinho.
"Foi daqui, deste campo empoeirado, que Matheus saiu para o Santos. Hoje, ele joga num excelente gramado, tem vestiário confortável e estrutura de jogador profissional", orgulha-se Eliemerson. Já na escolinha Meninos da Vila, onde o brasiliense deverá chegar ao juvenil em 2010, as regras também são duras. Inclusive na alimentação, controlada por nutricionista. "Chocolate, refrigerantes, batatas fritas e lanches, nem pensar", diz o jovem talento, resignado.
Garoto de poucas palavras quando saiu de Brasília, Matheus está hoje mais à vontade para conversar. A mudança para São Paulo, a convivência num grande clube e até a paciência para superar a contusão teriam o ajudado a amadurecer? "Acho que sim. Foi tudo muito difícil", resume ele.
As palavras de Igor Nunes, dirigente das categorias de base do Santos FC, não deixam dúvidas das qualidades do jovem atacante candango e de aonde ele pode chegar. "Matheus tem potencial. A lesão que enfrentou foi grave, mas já superou. A vantagem é que, além de ser bom tecnicamente, ele tem um excelente biotipo para atacante e um carisma impressionante", sentenciou Igor.
Quem é ele
Nome: Matheus Nolasco de Oliveira Silva
Data de nascimento: 21 de abril de 1995
Local: Brasília
Altura: 1,72m
Peso: 54kg
Primeiro clube: Nosso Futebol Clube (Ceilândia)
Clube atual: Santos Futebol Clube (categoria infantil) Posição: atacante Camisa nº: 7