Jornal Correio Braziliense

Superesportes

Juiz agredido em partida em Ceilândia descarta deixar profissão

Juiz da partida que terminou em pancadaria em Ceilândia conta como foi agredido após esquecer de se benzer na volta do intervalo

O árbitro de futebol Paulo Lima, 40 anos, sempre se benze antes de cada tempo do jogo. No último domingo, ao apitar a semifinal do campeonato amador da Liga de Esportes das Categorias Independentes de Ceilândia (Lecic) entre Real Sociedade e 26 Futebol Clube, esqueceu de fazer o sinal da cruz depois do intervalo. "Eu já vinha sendo agredido verbalmente durante a partida. Como o Real havia perdido o último jogo, a torcida e os jogadores estavam nervosos. Fui ameaçado várias vezes, mas ignorei. Quando houve o pênalti contra o Real na prorrogação, eles piraram e partiram para cima de mim com tudo. O goleiro até tentou me defender, mas piorou. O jogo não tinha segurança e a sorte é que ao lado tinha um show e consegui correr para lá para me proteger", narra Paulo, que ganhou um galo na cabeça, um hematoma de 15cm na canela e dedos inchados, machucados na tentativa de se defender dos chutes. Paulo afirma que preferia não ter ganho o dinheiro a viver o pesadelo. "Não sou árbitro por dinheiro. Faço porque amo. O que aconteceu no domingo ficou lá em Ceilândia. Não deixarei de atuar por causa do incidente", revela o trabalhador da construção civil. Mesmo sem acreditar na Justiça, ele registrou ocorrência na 15ª Delegacia de Polícia de Ceilândia contra quatro jogadores do Real e ficou de voltar para concluir o relato com mais calma. "Não vou retirar a queixa. Os culpados devem pagar pelo que fizeram. O pênalti que marquei era incontestável." Embora seja corajoso e destemido quanto às marcações e advertências em campo, Paulo teme retaliações. "Tenho medo que descubram meu endereço e façam algum mal a mim e à minha família." Paulo Lima conta como foi agredido:
Curso de formação para árbitros profissionais » Prazo para inscrições: até 17 de julho » Custo: R$ 50 de inscrição e R$ 350 o curso (em seis parcelas) » Vagas: 35 para homens (25 menores de 25 anos) e 10 para mulheres » Requisito: nível médio completo » Aulas: de agosto a dezembro, à noite e nos fins de semana » Informações: 3307-2252 e www.unb.br/fef Na alegria e na tristeza O amor de Paulo Lima pelo futebol começou nos anos de 1990, como jogador do Cruzeiro. Em 1997, ao enfrentar o Varjão, ele sofreu uma lesão e foi para o banco. Insatisfeito com a arbitragem do jogo, o presidente do time adversário convidou Paulo para apitar o restante da partida. "Ele disse que pior do que o juiz que estava apitando não poderia ficar. E como eu jogava bem, deveria entender mais de futebol do que o árbitro. Me passou o apito e gostou tanto que me chamou outras vezes para arbitrar por lá", conta. Desde então, Paulo não largou o apito. Ele nunca disse não para um jogo. Nem mesmo quando namorava Wilanir, com quem é casado há 17 anos. "Ele inventava histórias para não me encontrar no fim de semana e ir para o futebol. Pensei que fosse melhorar depois do casamento, mas não. Às vezes, quero passear com ele e nossos filhos e tenho que me programar para o horário em que não há partida. Viagem? Só fora da temporada. E mesmo assim, ele dá um jeito de descobrir onde tem um campinho e se oferece para apitar", revela a mulher. "Faço 0800 (de graça) e eles adoram. Não é todo mundo que tem dinheiro para contratar um juiz para seu jogo", conta, orgulhoso. Com bom humor, Wilanir leva numa boa a vida dupla de Paulo - entre os canteiros de obra e os campos. Mesmo sem entender - e sem querer entender - as regras do esporte, ela apoia o marido. "Sempre que ele vai apitar, fico com o coração na mão. Casamento é assim: na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença", afirma a mulher, que cuidou das lesões do marido com "muito gelo". "É o melhor analgésico do mundo", completa Paulo. Estatísticas e curiosidades » Com dois anos de arbitragem na primeira divisão local, o árbitro pode fazer teste na CBF. » No DF, um árbitro profissional recebe R$ 400 por partida; o assistente, R$ 210. » Árbitro da Fifa na Série A ganha R$ 2.800 por partida; na Série B, R$ 2.400. » Árbitro da CBF, de R$ 1.500 a R$ 2 mil por jogo. Assistente, de R$ 700 a R$ 1 mil.