"Quem é você, hein?", perguntou a Wellington Dias a dona de um quiosque no Parque de Águas Claras, curiosa ao vê-lo dar entrevista e posar para fotos. O jogador do claudicante Brasília, que disputa a recém-criada quarta divisão do Campeonato Brasileiro, reagiu com um sorriso um tanto sem graça.
Há alguns anos, ele também mal disfarçava um certo constrangimento, mas por ser reconhecido nas ruas. Era a estrela do Brasiliense vice-campeão da Copa do Brasil de 2002. Dava autógrafos aonde ia e emendava uma entrevista atrás da outra, inclusive para a imprensa nacional. "Eu ficava com muita vergonha", confessa. "No começo foi difícil. Fui me acostumando aos poucos. O Brasiliense ficou muito conhecido e eu fiz parte disso. Fiz por merecer também."
Com tanta notoriedade à época, parecia questão de (pouco) tempo ele acertar com um grande clube e deslanchar de vez. O Flamengo chegou a procurá-lo, mas o dono do Brasiliense, Luiz Estevão, ofereceu um aumento substancial de salário e o meia-atacante resolveu ficar por aqui mesmo. O Corinthians também veio atrás dele. E Wellington ficou balançado com a proposta do time de coração. Luiz Estevão, no entanto, pediu mais do que o clube paulista estava disposto a oferecer. O jogador engoliu a grande frustração e até hoje evita criticar o cartola candango. "Ele é como um pai para mim."
Wellington ficou, então, à espera de outra oportunidade num time de projeção. Não aconteceu. Hoje, sete anos depois da mais bem-sucedida temporada de sua carreira, figura no rol das promessas do futebol que não se confirmaram. O motivo? Para o atleta, as duas graves contusões que teve em 2003 e 2004.
Esperança
Com entradas e saídas do departamento médico e a consequente queda de rendimento, Wellington Dias resolveu deixar Brasília. Passou por times do interior de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Até que foi "repatriado" pelo Brasiliense no começo de 2009, após dois anos e meio longe. O fantasma das contusões, porém, voltou a atormentá-lo. Com estiramento muscular, ficou dois meses parado e não conseguiu mais recuperar a vaga de titular. Acabou emprestado ao Brasília.
O que para todo mundo é um demérito - a disputa da Série D nacional -, o meia-atacante de 31 anos prefere encarar como um recomeço. "Quis ir (reforçar o Brasília) para pegar ritmo de jogo e retornar bem ao Brasiliense. Ainda confio em defender um grande clube nacional. Posso voltar a atuar como em 2002."
Tropeço na estreia
O time candango não estreou bem na Série D. Ficou apenas no empate por 1 x 1 com o Crac-GO, ontem, no Cave. Adriano marcou para os donos da casa aos dois minutos do segundo tempo. Léo Andrade deixou tudo igual, em cobrança de pênalti, sete minutos depois. Wellington Dias teve atuação apagada e foi substituído por Djalminha no segundo tempo. A partida contou com público de 302 pagantes. Na próxima rodada, sábado, o Brasília enfrenta, fora de casa, o Araguaia-MT. Ontem, a equipe mato-grossense arrancou um empate por 1 x 1 com a Anapolina, em Anápolis.
MEMÓRIA
A surpresa Brasiliense
O Brasiliense tinha apenas um ano e nove meses de existência quando surpreendeu o país ao chegar à final da Copa do Brasil de 2002. Pelo caminho, deixou clubes tradicionais, como Fluminense e Atlético-MG, despachados com derrotas nas quartas de final e nas semifinais, respectivamente. Na decisão, o time candango se deparou com o Corinthians e a força da camisa alvinegra se fez notar no primeiro jogo, no Morumbi. O árbitro daquela partida, o gaúcho Carlos Eugênio Simon, deixou de marcar falta do atacante Gil no zagueiro Thiago, do Jacaré, em lance que resultou no segundo gol dos paulistas; e não assinalou pênalti do corintiano Anderson em Carioca. Com a vitória por 2 x 1, a equipe do Parque São Jorge tinha a vantagem do empate no segundo confronto. E foi o que conseguiu: 1 x 1 e título garantido. Wellington Dias terminou o torneio como artilheiro do Brasiliense, com oito gols.
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