Ao desembarcar no São Paulo, Ricardo Gomes encontrou Hernanes, melhor jogador do Brasileiro de 2008, na reserva. Em quatro dias de trabalho, o comparou a Kaká, lhe devolveu a titularidade e ainda deu a faixa de capitão. Resultado: 2 x 0 no Náutico, com participação do camisa 10 nos dois gols. A tarefa, agora, é fazer algo parecido com Washington.
O atacante, contratado para ser o artilheiro do clube na temporada, tem sofrido mais do que o meio-campista com a torcida. Depois de ser considerado um dos principais culpados pela derrota por 2 x 0 para o Cruzeiro, que custou a eliminação na Libertadores, o camisa 9 deixou o Morumbi no sábado sob intensas vaias.
A irritação nas arquibancadas é consequência da falta de gols nas últimas partidas - a última fez em que o centroavante balançou as redes foi na vitória por 3 x 0 sobre o Cruzeiro, pelo Brasileiro, em 31 de maio. Para explicar seu jejum, o jogador cobrou mais criatividade do meio-campo. Garantiu que, se tivesse três chances, faria pelo menos um gol. Diante do Náutico, teve quatro oportunidades, e falhou em todas.
"Todos os melhores atacantes do mundo passaram por períodos complicados. O Washington não foi o primeiro e não será o último atacante a perder oportunidade. O gol vai sair, não tem problema errar. O que não admito é jogador se esconder, tem que tentar", comentou Ricardo Gomes.
Mais adepto à conversa do que Muricy Ramalho, o novo comandante fez Hernanes renascer com diálogos no CT são-paulino. O mesmo vai acontecer com o Washington, mas não da mesma maneira. Além de treinar mais seus meio-campistas para deixar o artilheiro em condições de fazer gols, o técnico conta com a história de superações do jogador que mais balançou as redes em uma edição do Brasileiro (34 pelo Atlético-PR, em 2004).
"O Hernanes tem uma história aqui, e o Washington só chegou agora. Além disso, a situação é mais difícil porque ele é atacante e atacante tem que botar a bola para dentro. Mas o Washington vai vencer no São Paulo, pode ter certeza. Tem que falar isso todo dia para ele. E ele tem a cabeça muito boa, por tudo que já passou", indicou Ricardo, lembrando dos problemas cardíacos que quase encerraram a carreira de Washington.
Com este espírito, o camisa 9 aparenta serenidade. Em 2008, antes de se tornar um dos artilheiros do Brasileiro com 21 gols, também sofreu com as críticas em meio a um jejum na temporada. Como fez nas Laranjeiras, o atacante prefere prometer pouco e mostrar senso de coletividade ao colocar os resultados do time à frente do desempenho pessoal.
"É bom começar jogando, porque dá confiança para trabalhar e melhorar cada vez mais nos treinos", comentou o jogador, que voltou ao time titular na estreia de Ricardo Gomes após não ser relacionado nem para o banco no jogo anterior, na derrota por 3 x 1 para o Corinthians. "O Ricardo conversa mais que o Muricy, mas é um pouco diferente. Com o tempo vou conhecê-lo melhor", completou, também apostando no bate-papo com o novo chefe.