Sobre ser coordenador de tênis em um país estrangeiro
"Fiz alguns trabalhamos para diferentes federações, mas coordenador geral como
agora é a primeira vez"
Por que aceitou trabalhar no Brasil
"Eu estava trabalhando com a estrutura do tênis espanhol e me demiti no final do ano passado, quando vencemos a Copa Davis (a Espanha bateu a Argentina, na casa dos rivais, na decisão), porque pensei que tinha chegado a hora de outros desafios e eu queria me focar mais na minha academia. Mas aí eu já tinha começado a conversar com a Confederação Brasileira na época das Olimpíadas de Pequim. No final do ano, nós estreitamos essas conversas. Eles me pediram para apresentar um projeto, eu fiz, eles acharam bom e pensaram que talvez um estrangeiro seria bom para conseguir unir todas as pessoas do tênis brasileiro. Então eles me ofereceram essa posição, que é um grande desafio para mim. Eu sei que tenho um trabalho grande para fazer, muito difícil. Mas para alguém como eu, gosto desses desafios. O Brasil tem um potencial incrível. E é um país muito especial porque tem muita gente trabalhando isoladamente. Tem muita gente que atinge o sucesso fazendo o trabalho sozinho. Mas eu acredito que uma Confederação forte, dando apoio a todos, é o lugar certo para colocar todas as pessoas trabalhando juntas. Acho que se o Brasil reunir todas as pessoas, será muito perigo para todos os outros (países) porque o potencial do país é muito grande. Obviamente, precisamos do apoio de muitas pessoas ligadas ao tênis. Precisamos do apoio dos clubes, dos técnicos desses clubes. São muitas pessoas que precisam colocar um pouco delas mesmas para fazer o tênis no Brasil melhor. Para mim é uma felicidade poder tentar participar desse processo e quanto mais as semanas passam eu fico mais feliz porque percebo que existe um grande desejo de fazer o tênis crescer. Espero que a Confederação se torne mais forte, porque há muita coisa que precisa ser feita e não apenas dita"
Influência de Nadal nas crianças espanholas
"Acho que Nadal está além da figura do tenista. Ele se tornou um símbolo, especialmente para as crianças, porque ele é especial. Ele tem valores que são muito bons não apenas para o esporte. Valores que são muito bom para a educação. Ele é humilde, é um lutador, é disciplinado, é concentrado. Todos esses valores, para os jovens, são muito bons, não só para o esporte, mas para a vida" "É como aconteceu com Kuerten aqui. Ele era a mesma coisa. Ele criou esse interesse que foi além do tênis, que se tornou público. Na Espanha nós somos felizes no tênis porque nos últimos 20 anos tivemos vários tenistas bons. Eu joguei bem, Moyá,Bruguera, Corretja, Ferrero. Nós tivemos quatro número um do mundo nos últimos 20 anos. Nós sempre tivemos símbolos para os mais jovens. Mas Nadal ultrapassou todo mundo. Ele colocou os objetivos em um patamar bem mais elevado. E ele tem apenas 22 anos. Então ele pode colocar esses patamares em posição ainda mais alta. Então vai ser difícil que apareça alguém como ele;. "O importante é que, na Espanha, as pessoas trabalham esse momento. Eles trabalham agora com uma nova geração de tenistas para os próximos cinco ou dez anos"
O fenômeno Guga
"Uma das mensagens que a gente quer passar é tentar trazer o Guga para os clubes.Ninguém pensou, naquela época, em se trabalhar torneios nos clubes e competições para os mais jovens. Nós não vamos produzir jogadores para copiar Guga, mas Guga tem que ser o espelho. Ele tem vários valores que são importantes. Ele conseguiu fazer a transição do juvenil para o profissional. Ele soube como fazer isso. Ele foi um profissional disciplinado, com estilo, que trabalhou muito. E todas as coisas têm que ser repassadas". "Guga não será mais um modelo para as crianças de hoje (porque jovens de 7, 8 anos praticamente não viram Guga jogar). Mas ele tem muita experiência sobre o sistema do Brasil. O Brasil tem que ter sua própria personalidade, seu próprio sistema e seu próprio jeito de fazer as coisas. Viver aqui é diferente do que viver na Dinamarca, na Holanda ou mesmo nos Estados Unidos. Aqui se vive melhor do que em outros lugares. É por isso que todo mundo quer vir para cá. Porque aqui se vive melhor. Temos que fazer o sistema brasileiro adaptado às condições de como as pessoas vivem aqui. Não copiar o que os franceses fazem. Por que lá é diferente. Podemos usar algumas coisas dos franceses, dos espanhóis, mas temos que criar um sistema brasileiro, para os brasileiros, para sua cultura, para os jogadores brasileiro. E Guga é uma peça-chave. E é por isso que temos que usá-lo e usar outros grandes jogadores. Essa é chave para dar às pessoas nos clubes, os técnicos, mais motivação para fazer torneios. Hoje não existem mais torneios interclubes. Não temos mais técnicos nos clubes. Não temos mais técnicos nas pequenas escolas para motivar as crianças e produzir. Nós não temos no Brasil uma máquina de produção. Temos um cara trabalhando aqui, outro ali, no litoral. Por causa do talento e como temos jogadores muito bons, um Guga apareceu. Mas foi por conta dessa luta particular"
O trabalho no Brasil?
"A CBT tem que oferecer a todo momento suporte e apoio a esses garotos que não sabem o que fazer e quando fazer. O que eu vejo aqui é que tem muita gente trabalhando mas não há qualquer ordenamento. Não há um link. As pessoas não estão usando os espelhos e as experiências dos outros. Os brasileiros são muito individualistas. Acho que meu trabalho aqui será mais fácil porque eu sou de fora. E sendo de fora não faço parte de nenhum interesse e talvez possa fazer todos eles perceberem que juntos o trabalho pode ser feito melhor para todo mundo, bem melhor do que é feito separadamente. Se compartilharmos informações, se treinarmos juntos, se estivermos mais em contato, se a CBT der esse apoio a todo mundo, teremos uma situação vitoriosa. Por certo nós vamos crescer. Com o tempo, se fizermos esse trabalho com os clubes e com as escolas continuadamente, teremos mais jogadores e esse processo será bem mais fácil. Mas temos que começar reunindo as pessoas do tênis".