De volta ao país depois de conquistarem a melhor campanha da história do Brasil nas Paraolimpíadas (47 medalhas, com 16 de ouro), os atletas com diversos tipos de deficiência tinham basicamente dois pedidos: não serem considerados "coitadinhos" e conseguirem maiores patrocínios, de forma a obterem ainda mais medalhas nos Jogos de Londres, daqui a quatro anos.
"Estamos mostrando que, independente de eu não ter um braço, treino para conseguir essas medalhas. Claro que tem a superação de ser deficiente, mas somos atletas como qualquer outro", afirma Daniel Dias, que conseguiu nove medalhas (quatro de ouro) na classe S5 da natação. Atualmente, ele vive com um salário mensal oriundo das Loterias Caixa, patrocinadora do Comitê Paraolímpicos Brasileiro (CPB), assim como a maior parte dos medalhistas brasileiros em Pequim.
Este ano, a entidade injetou cerca de 6,4 milhões de reais no CPB, que também conta com recursos da Lei Agnelo-Piva e da Lei de Incentivo ao Esporte, totalizando o montante em 20 milhões - apenas da Petrobrás, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebeu cerca de 27 milhões destinados à preparação final para as Olimpíadas, onde o país levou 15 medalhas (três de ouro).
"A medalha olímpica de bronze valeu 20 mil reais, mas de ouro paraolímpica hoje não tem uma patrocínio específico. Não ganhei nada de dinheiro com os meus resultados na Paraolimpíada. Financeiramenmte, os resultados paraolímpicos precisam ser melhor vistos quando comparado com os olímpicos", reclama Terezinha Guilhermina, ouro, prata e bronze na classe T11 do atletismo.
Campeão quatro vezes na natação classe S10 da China, André Brasil concorda. "A diferença ainda é grande: a gente vê altos investimentos no esporte olímpico, mas não no paraolímpico", comenta o atleta. Ele, porém, evitou entrar em polêmica quando questionado sobre a maior eficiência dos paraolímpicos. "É difícil fazer essa comparação, pois temos muito mais classes e medalhas. Além disso, a natação olímpica também obteve um grande resultado com o Cesar Cielo e mesmo com o Thiago Pereira", acredita.
Dono de três ouros no atletismo na classe T11, Lucas Prado endossou o discurso de que pessoas com deficiencia são plenamente capazes de competir em alto nível. "Muitas pessoas pensam que o deficiente é um coitadinho, que não é capaz de correr e quebrar sua própria marca. Mas estamos conseguindo espaço pouco a pouco. Espero que agora os patrocinadores vejam que podem investir na gente, algo que possui um retorno bom", destacou.
Secretário-geral do CPB, Andrew Parsons explica que falta os empresários enxergarem os competidores com deficiencia como "profissionais". "Pelo menos até antes de Pequim, a iniciativa privada não tinha descoberto o esporte paraolímpico como forma de investimento. No máximo, éramos ligados a uma espécie de ação social", confessa.
O dirigente garante que o CPB está trabalhando para mudar esta mentalidade. "Estamos tentando nos colocar na mídia e tornar o esporte paraolímpico atraente com os resultados obtidos. Queremos tentar convencer a iniciativa privada a nos patrocinar entrar através da lei de incentivo ao esporte", afirmou. Para Dias, entretanto, este aspecto ainda tem muito a evoluir. "As Paraolímpiadas, por exemplo, não tiveram uma divulgação tão grande, como transmissão em TV aberta. Isso é uma grande diferença", observou.