Jornal Correio Braziliense

Superesportes

1958 - O ano em que tudo começou - Cinqüenta anos em cinco conquistas

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Dizem por aí que 1958 foi o ano no qual se descobriu o Brasil. A realidade é que o país, ainda deitado em berço esplêndido, aguarda, ad infinitum, dias melhores. Mas, em 1958, Juscelino Kubitschek estava no terceiro dos 50 anos que faria a nação viver em apenas cinco, como dizia, ufanista. O crescimento industrial e Brasília, então um megacanteiro de obras, eram realidades incontestáveis. O endividamento e o custo de vida, também. Mas surgia João Gilberto, com o 78 rotações Chega de saudade, e, com ele, a bossa nova. Tinha também Gabriela, cravo e canela, que Jorge Amado acabara de lançar, e até um rinoceronte, o Cacareco, eleito vereador pelo voto irreverente do carioca. Lá fora, eram tempos de guerra fria. Estados Unidos e União Soviética trocavam ameaças de destruição atômica e se digladiavam em várias outras frentes, como a espacial. Nos céus, o Sputnik, primeiro satélite artificial, era um gol da potência comunista. Para empatar, os norte americanos criaram a poderosa Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço, a Nasa. No Vaticano, João XXIII sucedia a Pio XII, que deixara essa vida com a santidade chamuscada pelas acusações de fazer vistas grossas às atrocidades do nazismo. No mundo da bola, o surgimento do radinho de pilha era uma atração a mais para o torcedor, principalmente o do Vasco, que comemorava o supercampeonato carioca. Começava, então, a era de um supercartola. Bem-sucedido empresário, Jean-Marie Faustin de Goedefroid Havelange não entendia muito de futebol, mas soube se cercar de gente do ramo e fazer um planejamento eficiente para o Mundial da Suécia. Mesmo assim, a Seleção Brasileira, comandada por Vicente Feola, desembarcou no país escandinavo sob descrédito total ; dos gringos e dos brasileiros. Para complicar, um certo relatório recomendava a escalação do maior número possível de jogadores brancos, por serem, segundo os gênios que o elaboraram, emocionalmente mais estáveis. No primeiro jogo, contra a Áustria, Didi era o único "não-branco", mesmo porque seu reserva, Moacir, não era exatamente do tipo ariano. O empate diante da Inglaterra, a seguir, foi um alerta. Era necessário um time mais ousado. E ousadia significava botar os escurinhos para jogar. Dentre eles, Pelé, prestes a completar 18 anos, e um mestiço de negro e índio fulniô, com apelido estranho: Garrincha. Entre os brancos que ficaram, um ponta-esquerda exercia inovadora função tática de recuar para fechar o meio de campo: Zagallo. E foi assim que aconteceu no domingo, 29 de junho, há exatos 50 anos. Pela primeira vez, uma seleção vencia a Copa do Mundo em um continente que não o seu. Era a primeira de cinco conquistas que transformariam o Brasil na maior potência do planeta bola. Apesar da nossa pouca memória, 1958 foi, realmente, o nosso ano inesquecível.