O sonho era disputar a quinta Olimpíada da carreira, mas a chance de confirmar seu nome na equipe de revezamento 4x100m terminou para o velocista André Domingos nesta quinta-feira e ele achou melhor aposentar a sapatilha definitivamente. "O grande adversário da minha vida era este momento, a hora de parar", desabafou entre lágrimas após a final dos 100m do Troféu Brasil, que definiu o revezamento brasileiro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto. "Queria muito ir a Pequim, mas não adianta ficar dando murro em ponta de faca", lamentou o velocista de 36 anos. Duas vezes medalhista olímpico, bronze em Atlanta-96 e prata em Sydney-2000, sempre com o revezamento, André nem chegou à final da disputa desta tarde.
Voltando de uma lesão no tendão de Aquiles do pé esquerdo, ele parou na semifinal da disputa. Emocionado, acompanhou a decisão e foi abraçar o companheiro de Olimpíadas, Vicente Lenílson, que venceu a prova com 10s26. André machucou o pé no início de maio, quando disputava o Grande Prêmio de Uberlândia e teve 30% do tendão rompido. Na tentativa de garantir sua vaga olímpica, recorreu a um tratamento alternativo usando plaquetas do seu próprio sangue para acelerar a recuperação.
O tratamento, que demoraria pelo menos um mês pela técnica tradicional passou para uma semana e meia, mas não foi o suficiente para vencer a disputa da classificação. "Vim e lutei como guerreiro. Perdi a batalha, mas não a guerra". Apesar do anúncio surpreendente, André garante que a decisão não foi impensada. "Conversei muito com o Robson Caetano. Já estava pensando em encerrar a carreira com chave de ouro em Pequim, mas não deu".
Para André, o tempo definiu seu destino. "Aos 36 anos, as lesões são maiores, o tempo de recuperação também. Não adianta brigar contra o tempo", resigna-se. "Tive uma carreira brilhante, ganhei tudo que poderia e fiz o que fiz pelo Brasil". O futuro, porém, permanece indefinido. Formado em Educação Física, Design de Ambiente e estudando Arquitetura, ele confessa não saber o fará daqui por diante, mas tem uma certeza: não quer se afastar completamente do atletismo. "Isto aqui é a minha vida. Não sei fazer mais nada".
Com convite para trabalhar como comentarista por uma emissora de televisão, ele ainda estuda a proposta. Fora isto também deverá entrar no programa Heróis Olímpicos, da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), mas descarta uma carreira como treinador. Quanto à Olimpíada de Pequim, André promete torcer pelos ex-companheiros. "Vou estar em alma, vou rezar e torcer para que tudo dê certo, porque o que fica são os amigos. O que fica é a lembrança do que o André Domingos fez".