Fotos espontâneas, apegadas mais ao momento do que a uma estética visual preestabelecida. Essa é a essência do trabalho da fotógrafa familiar e de parto Claudia Ruiz. Como muitos profissionais do ramo, ela teve que transformar a forma de trabalhar, mas sem perder suas características marcantes.
Por meio do projeto Quarantine Grains, Claudia vem registrando a convivência de famílias usando a tecnologia e a internet. Para ela, essas fotografias conseguem representar com fidelidade o que todos estão vivendo, presos em casa e reféns de uma nova rotina de higiene e cuidados.
Apesar de fotografar por meio do computador, a essência da produção continua a mesma. “Conduzo o processo a distância da mesma forma que faria em um ensaio presencial. Há total interação com o cliente do outro lado, e procuro captar a essência de cada um, refletir na imagem quem a pessoa realmente é e o que está vivendo”, explica.
O trabalho é o mesmo, mas a forma como se traduz em fotografia muda. Nesses ensaios, a foto passa a ter particularidades, tais como presença de ruído e movimentos borrados — nada comuns em ensaios tradicionais. “O ruído na imagem representa o incômodo que essa situação toda causa nas pessoas. Se a fotografia fosse perfeita, não seria tão representativa e, certamente, seria incompetente ao transmitir a fase ímpar que vivemos”, defende.
É o momento de esquecer o conceito da fotografia perfeita. Mais importante do que isso é tentar registrar, junto à foto, todos os momentos experienciados na quarentena. “Esse tipo de trabalho mostra imagens marcantes na vida das pessoas, em uma nova linguagem visual. São fotos que contam uma história real e com laços emocionais verdadeiros por toda a eternidade”, explica.
Pelas circunstâncias, Claudia Ruiz aponta que é crucial conduzir o ensaio de maneira leve e simples. Precisa ser um momento de descontração, em que a interação entre fotógrafo e clientes se torna essencial e ainda mais especial. “É uma fotografia colaborativa. Em períodos como esse, de dificuldade e crise, em que todos tememos e zelamos pelo bem-estar da nossa família, os laços que partilhamos se fortalecem e se tornam momentos únicos”, diz. “Embora eu não possa estar presencialmente com meus clientes, a tecnologia me permite registrar e dividir com eles momentos especiais durante o confinamento.”
Afago e história
“Foi um momento simbólico, mágico e emocionante.” É assim que a psicóloga Clara Seiblitz Figueiredo, 37 anos, descreve o ensaio a distância que fez. Após muitos convites anteriores feitos por Cláudia Ruiz, para os quais ela sempre arrumava desculpa por causa da timidez, ela rendeu-se à experiência.
Para tornar a vivência do ensaio mais tranquila, convidou o marido, que topou o desafio. Como resultado, as fotos retratam a simplicidade e a vida do casal por meio de cliques bem descontraídos. “Usamos o meu celular velhinho, mas deu tudo certo. Foi extremamente prazeroso, desafiador e de uma harmonia muito gostosa com meu companheiro. Dividimos a nossa intimidade e a nossa casa”, conta.
Segundo relato da psicóloga, as fotos marcaram o momento pelo qual o casal passa. Em isolamento desde 10 de março, Clara conta que, para ela e a família, o período vem sendo marcado pela difícil readaptação, não só à pandemia, mas, também, a Portugal, país para onde se mudou recentemente. “Pôde nos trazer muitas alegrias e risadas durante o ensaio. Um verdadeiro sopro de vida e beleza em um momento sombrio e angustiante.”
Clara, que aprecia a arte da fotografia e, principalmente, a sensibilidade do olhar apurado dos profissionais, conta que, depois do ensaio, passou a admirar ainda mais o trabalho feito por fotógrafos. “Venci a vergonha de ser fotografada e foi um dia muito divertido em meio a uma situação caótica e de medo”, relata.
Já para o consultor em TI Gessandro Machado de Carvalho, 43, que também participou do projeto Quarantine Grains, o ensaio fotográfico será guardado como o registro de um momento histórico. “É um trabalho totalmente alinhado com o cenário atual, nunca havíamos experimentado um momento tão estranho quanto esse, trancados em casa, sem saber o que vai acontecer”, define.
O consultor, que trabalhou com cobertura fotográfica de casamentos, defende a importância desse tipo de registro e acredita que isso vai marcar época. “Certamente, poderei mostrar e contar para minha filha, Olívia, que hoje tem apenas 8 meses, sobre esse momento tão singular que ela viveu ainda nova, por meio dessas fotografias”, diz.
Conheça o trabalho dos profissionais
Lara Garcia, videomaker: @larapgarcia
Lucas Kiaw, fotógrafo: @photoskiaw
Claudia Ruiz, fotógrafa: @quarantinegrains e @claudiaruizfotografia