Na primeira temporada da série nacional Coisa mais linda, da Netflix, a atriz Larissa Nunes tinha um papel mais secundário. Ivone aparecia apenas como a irmã de Adélia (Pathy DeJesus), uma das quatro protagonistas do seriado. Com a morte de Ligia (Fernanda Vasconcellos), a vaga deixada acabou sendo “ocupada” por Ivone, que ganhou mais tempo de tela e um desenvolvimento próprio, assim como o núcleo que a envolve.
“Eu e a Pathy sempre conversamos um pouco sobre qual era a trajetória dessas irmãs e quando elas tomariam a frente das próprias histórias. O lado mais complexo da Adélia tem a ver com isso, são camadas e nuances, justamente um pano para elas se desenvolverem”, explica Larissa em entrevista ao Correio. “Essa expectativa de continuidade tem a ver com o desejo do aparecimento das narrativas pretas, da gente poder contar as nossas histórias, com nuances, altos e baixos”, completa.
Para ela, a complexidade de Ivone foi uma surpresa que descobriu apenas quando recebeu o roteiro da segunda temporada. “Eu imaginava que ela estaria mais presente, porque é irmã da Adélia e faz parte de um núcleo importante para a série. Mas não imaginaria que ela ocuparia um lugar de protagonista na segunda temporada. Foi muito bonito me reencontrar com essa personagem e mais bonito ainda esse processo todo de ir conhecendo mais sobre ela, assim como o público”, lembra.
Até a parte musical de Ivone, que é um dos destaques da segunda temporada, foi uma revelação para Larissa Nunes. “Eu não tinha noção de que Ivone teria esse sonho de ser cantora. Fui lendo e vendo que ia ter música e desdobramentos disso”, conta. A artista, então, preparou-se vocalmente e teve ajuda da parte responsável pela trilha sonora de Coisa mais linda. “A trajetória de Ivone é contada musicalmente, praticamente todos os episódios têm composições conhecidas. É um repertório muito rico”, afirma ela, que cantou artistas como Dona Ivone Lara e Elizeth Cardoso.
Trajetória musical
Adentrar no mundo da música não foi tão difícil. Larissa já tinha uma carreira que perpassava por esse âmbito, trabalhou em musicais e já tinha experiência como cantora de rap. “Eu venho do hip-hop, tenho uma tecitura vocal mais grave. A Ivone tem esse tom solar, aberto. Foi uma coisa diferente e desafiadora, me despertou mais a vontade de cantar, de mostrar mais a minha possibilidade vocal”, comenta.
Isso ocorre quando Ivone canta Noite sem luar, composição autoral da série que é creditada à personagem Ligia. Larissa aponta o momento como o verdadeiro desabrochar da personagem. “Essa música tem uma memória dentro do contexto da série, tem um significado muito grande. Antes de filmar a cena, imaginei como seria a Ligia cantando essa música, mas imprimindo a voz da Ivone. Acho que foi um momento muito bonito, um processo de transição. Foi difícil porque cantei num registro vocal que não estou acostumada”, revela.
Essa força de Ivone na música inspirou Larissa, que, no início da pandemia, gravou uma mixtape toda a distância, Quando Ismália enloqueceu... Uma mixtape de confinamento, composta por 10 músicas. “Sou da música independente, e isso já faz quatro anos. Passei por um processo de me tornar atriz e fiquei um pouco off da música. Cantava no teatro, escrevia músicas, mas, nessa quarentena, estava com alguns anseios. Ainda em março, fui escrevendo sobre algumas angústias e veio essa mixtape, que é um EP bem caseiro, fiz gravando de celular, encontramos uma sonoridade com pegada do vinil para justificar o som”, explica. O álbum fala sobre amor, solidão e a vontade de rever as pessoas. “É um desabafo, um trabalho de transição do que está por vir”, diz.