O comércio reabriu. Muitos voltaram ao trabalho presencial. O mundo vem se adaptando ao novo normal, mas nem todos estão emocionalmente preparados para isso. O medo de voltar à rotina é compreensível e momentâneo, mas pode se tornar uma aversão irracional ao meio social, no que se define como síndrome da cabana – também conhecida como síndrome de pânico de reentrada ou síndrome do prisioneiro.
Caracterizada pela dificuldade de retomar a vida normal após longos períodos de isolamento, a síndrome da cabana não é classificada como uma doença, mas, sim, como um fenômeno de resposta psicológica. Mesmo compartilhando muitos sintomas semelhantes a males como síndrome do pânico e ansiedade – como falta de ar e taquicardia –, não pode ser colocada como similar.
Manifesta-se quase sempre por uma mudança de estímulos externos. “Enquanto a síndrome do pânico e a ansiedade levam ao isolamento, na síndrome do prisioneiro ocorre o contrário. É o isolamento que leva a pessoa a ter respostas fisiológicas que a condicionam à aversão social”, explica Fabiana Gauy, psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental e mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de Brasília (UnB).
Do ponto de vista da conduta, o analista comportamental Osmar Bria explica que a síndrome tem relação com a forma com a qual o ser humano constrói o comportamento. “Ele começa com um estado de humor – triste, feliz, receptivo etc. Quando esse estado de humor se repete muitas vezes, acaba se tornando um temperamento. À medida que é replicado, esse temperamento passa a ser um hábito, que, aos poucos, vai se tornando um traço da personalidade da pessoa”, esclarece.
É por isso que o isolamento provocado pela covid-19 levou a síndrome a acometer tantas pessoas, já que elas foram condicionadas a um longo período de mudanças drásticas de hábito. “A síndrome pode atingir tanto aqueles que enxergam o período como traumático e de medo quanto por quem enxergou a quarentena como conforto. Muitos experimentaram benefícios na diminuição das responsabilidades sociais e profissionais e podem apresentar irritabilidade, ansiedade e desconforto ao sair disso”, diz Fabiana Gauy.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte