A área verde de Brasília, com vastos gramados e sombras das árvores, sempre foram um convite para piqueniques, especialmente neste período de seca, quando os dias ficam ainda mais bonitos e o pôr do sol, deslumbrante. Com a recomendação de distanciamento social, porém, o brasiliense viu-se obrigado a encontrar alternativas para viver esse momento de lazer.
Longe das aglomerações, muitos têm recorrido aos gramados das entrequadras para estender a toalha e se divertir com a família. Em alguns casos, o quintal de casa, a varanda do apartamento ou até a sala de casa se transformam em uma aconchegante área de piquenique, com direito a muitas guloseimas e diversão garantida.
Esse é o caso de Thais de Souza Thomaz, 27 anos. “Eu amo juntar a família e os amigos para preparar a comida e, depois, saboreá-la. Por isso, adoro piquenique ou uma mesa bem-posta. Com o coronavírus, as coisas mudaram, e ficou inviável sair de casa”, afirma a agente de registro em certificação digital.
Antes da quarentena, Thais costumava acordar cedinho para ir ao parque desfrutar da natureza e da boa companhia dos parentes e amigos. “Moramos em apartamento e, como não há espaço nem varanda, íamos frequentemente aos parques”, diz. Receosa de encontrar aglomerações nesses espaços e, consequentemente, maior exposição ao coronavírus, ela pensou em outras saídas.
“Quando queremos fazer algo ao ar livre, vamos para a casa da minha irmã, que tem um grande espaço verde.” Mas, quando isso não é possível, Thais e o marido fazem mesas temáticas, enfeitam o ambiente e preparam os petiscos. “É um momento único e especial. A mesa arrumada faz com que a gente se sinta em outro ambiente e, assim, ficamos mais tempo conversando e menos tempo mexendo no celular”, conta.
A moradora do Guará prepara refeições românticas no tapete, na cama ou na mesa. Já houver tema junino, a mesa do hambúrguer, do Mickey e até piquenique na sala. Tudo sempre bem decorado, charmoso e organizado.
Em busca de ar puro
Em isolamento desde março, a servidora pública Ana Carolina Sousa, 39 anos, tenta sempre dar uma quebrada na nova rotina, nem sempre fácil, com piqueniques ou mesas decoradas com esmero. “Precisamos, de vez em quando, de um local arejado e espaçoso.” Para tanto, a família costuma usar a varanda do apartamento e o quintal da nova casa, para onde está prestes a se mudar. “Não tínhamos planos de fazer a mudança agora, mas as áreas de lazer do condomínio estão fechadas e eu tenho duas filhas sem aulas. Então, antecipamos a decisão. Vamos nos mudar em agosto, e, como o espaço é maior, já fizemos um piquenique lá.”
Enquanto não troca de endereço, Ana Carolina esmera-se em arrumar a mesa a varanda do apartamento com jogos americanos e guardanapos combinando com a louça. “Com o isolamento, esse local tornou-se um refúgio”, garante. É um espaço onde pode apreciar o sol matinal, com uma mesinha de café, ou o pôr do sol, com um lanche da tarde. “No meu aniversário, comemoramos na varanda! O carrinho de chá serviu como apoio para o bolo e os docinhos.”
Criatividade e conforto
Se a ideia é fazer um piquenique para fugir da rotina, então pense: o que é um piquenique e como fazê-lo sem sair de casa? “É um lanche no chão, muito à vontade e despretensioso. Para buscar esse clima, primeiro, tem que pensar no ambiente. Se você tem um quintal, vale achar um cantinho debaixo de uma árvore ou no jardim, que seja bem acolhedor. O mesmo vale para a varanda”, ensina a decoradora e arquiteta Cristiane Schiavoni. Para quem mora em apartamento e não tem área ao ar livre, usar a criatividade e a imaginação pode ajudar. “A sala é o melhor ambiente. Afaste os móveis e estenda a toalha em cima do tapete para iniciar os preparos”, sugere. E quem não tem varanda? Cristiane diz que é possível fazer uma mesa posta no estilo piquenique. “Use a tradicional toalha xadrez ou invista em outras estampas, como a floral, para criar um clima bem gostoso.” A louça também é importante para criar o clima. “Como está em casa, vale até investir em potes mais pesados e bonitos, como cerâmicas, que vão deixar um visual bem interessante.” A arquiteta indica apostar em papel craft, os famosos pacotes de padaria, para criar “trouxinhas” e colocar os aperitivos. “Fica bem bacana e supercombina com piqueniques.”
Cuidados ao ar livre
O epidemiologista Walter Ramalho explica que, tomando os devidos cuidados, as atividades em locais públicos, como parques e gramados, podem ser realizadas. “O ideal é mantermos o isolamento. É sabido que atividades físicas e contato com a natureza são bons para saúde mental, mas precisamos ter alguns cuidados, como manter o distanciamento de 2 metros, usar máscara e evitar tocar em objetos de uso comum”, adverte.
O uso da máscara torna-se indispensável para se proteger e proteger o próximo, inclusive em ambientes abertos e arejados, que, à primeira vista, podem parecer inofensivos. Efetivamente, existe um perigo maior de transmitir o vírus da covid-19 em ambiente fechado, mas isso não significa que não haja probabilidade de a transmissão ocorrer ao ar livre.
Como estamos tratando de um vírus de fácil transmissão, a máscara não é um item opcional. “Em ambiente aberto, com várias pessoas espirrando, falando, muitas partículas ficam em suspensão”, afirma Walter. O álcool em gel também é um importante companheiro nos locais em que não se tem fácil acesso ao banheiro para lavar as mãos. Sempre que tocar ou esbarrar em algum objeto, é recomendado higienizar as mãos com o produto para não correr o risco de levá-las ao rosto ou à boca e se contaminar.
Outra particularidade do agente do novo coronavírus é ter grande parte de seus portadores assintomáticos. Sendo assim, não é possível saber quem, de fato, está com covid no ambiente. Por isso, a recomendação principal é ficar em casa. “Podemos sair, andar um pouco de bicicleta? Sim, podemos, mas o ideal é que seja em um ambiente mais familiar. Se for socializar com outras pessoas, escolha as que têm mais cuidado, que sejam pessoas de extrema confiança e que estejam fazendo quarentena”, explica o especialista.
Walter Ramalho explica que, em ambientes fechados ou ao ar livre, as aglomerações são sempre contraindicadas. Além disso, alerta sobre a enorme importância da responsabilidade social neste cenário de pandemia. “Os países de maior sucesso para controle da covid-19 são aqueles que têm um protocolo social muito bem estabelecido. Se tiver com suspeita ou confirmação da doença, informe para as pessoas com quem teve contato.”
Piquenique no gramado
A necessidade de tomar sol e ter contato com a natureza levou a servidora pública Elaine Aragão Maia, 49, e a família até o gramado entre as quadras 206 e 207 Sul em um domingo ensolarado. A sugestão de aproveitar o espaço público para fazer um delicioso piquenique foi prontamente acolhida por todos. “Tenho um kit de piquenique que está guardado há muito tempo e não estava usando. Aí veio essa ideia”, conta.
Ela explica que o planejamento original era ir para um parque, mas teve que fazer adaptações. “Quando começaram com a ideia de abrir os parques, nós tentamos, mas não estava aberto para fazer piqueniques, só exercício físico. Então, procuramos um gramado que pudéssemos usufruir e não ficássemos próximos de outras pessoas.”
Foi assim que a família chegou ao gramado na Asa Sul, que conta com uma área extensa para fazer o piquenique. Outras pessoas também fazem exercício, passeiam com os pets e se divertem com as famílias. Lá, ela aproveitou a tarde para confraternizar, lanchar e respirar um pouco de ar fresco com o marido, Rafael Maia, 46, servidor público, e a filha, Rafaela Maia, 13, depois de meses confinados em casa, em isolamento social.
Para a ocasião, eles organizaram uma cesta com pães, patês e pastas como acompanhamento, um bolo, que fizeram em casa, e uma garrafa de vinho para os adultos. “Também estendi uma toalha no gramado. Passamos uma tarde deliciosa e todo mundo voltou para casa com outro astral. Queremos repetir isso. Não vai ser uma coisa de todo domingo, mas é algo que tentaremos trazer para a rotina”, afirma Elaine.
Cercados de cuidados
Outra preocupação deles era manter os cuidados para evitar a contaminação pela covid-19, como usar máscaras — retiradas apenas para o momento de alimentação — e se certificar, a todo tempo, sobre a aglomeração no espaço. “Quando chegamos, já tinha umas duas famílias lá. À medida que a tarde foi passando, outras pessoas começaram a chegar. Mesmo percebendo que estavam mantendo a distância segura, eu disse para irmos embora quando começou a ficar mais cheio. Passamos cerca de duas horas lá”.
Elaine acredita que essa tendência, de utilizar os espaços públicos para momentos de lazer, é algo positivo e que o brasiliense passará a fazer ainda mais. “Você vê muito isso nos Estados Unidos e em lugares de inverno rigoroso. Quando chega a primavera, o verão, eles vão para os parques. O brasiliense está seguindo um caminho muito parecido.”
Diversão responsável
Diante da vocação natural de Brasília para piqueniques, os proprietários do Quanto Café tiveram a ideia de criar um kit especial. Formado por um balde, toalha, marmita com queijo artesanal e frutinhas, bolo de laranja e geleia, cuca de amoras e banana, biscoitinho de queijo, iogurte vegano no creme de manga e granola, suco de laranja e uma garrafa de espumante, ele tem, ainda, a finalidade de não acumular lixo – o baldinho serve para levar as comidas, colocar o gelo para manter o espumante gelado e, depois, pode ser reutilizado como vaso de plantas. As comidinhas são todas produzidas no próprio café, e as toalhas e as flores, encomendadas de uma costureira e uma floricultura da quadra.
Acampamento no quintal
Para promover uma atividade diferente com os filhos no espaço de casa, Gabrielle Troncoso, 41, servidora pública, montou um acampamento no quintal. Durante a tarde de um sábado, eles armaram as barracas, organizaram os colchões, fizeram as comidas e até uma fogueira para garantir uma noite divertida. “Em casa com as crianças, você vai entrando no tédio, porque não pode passear, ir ao cinema, então, tivemos essa ideia. Fizemos o jantar nas mesinhas lá de fora e ficamos na fogueira, brincando, conversando até a hora de dormir”, explica.
Antes mesmo da ideia do acampamento, a família já realizava atividades no quintal de casa. Em outra oportunidade, transformaram o almoço de fim de semana em um piquenique na grama. Segundo Gabrielle, eles aproveitam que moram em uma casa, com quintal, para fazer, pelo menos, uma refeição da semana na área externa, onde promovem brincadeiras, como jogar bola.
Para Davi Troncoso, 9, e Gabriel Troncoso, 6, cada atividade que põem em prática dentro ou fora de casa é uma grande aventura. A nova rotina da pandemia trouxe mudanças no comportamento e a possibilidade de explorar mais o lar. “A gente acaba dando um pouco mais de liberdade para eles fazerem as coisas, deixamos pegarem as almofadas para fazer túnel, marcar o chão com fita para fazer brincadeira. O Gabriel fez até um ‘escritório’ na varanda, porque vê a gente trabalhando” afirma o pai, Luciano Troncoso, 48, também servidor público.
Lado lúdico
Realizar opções lúdicas com os pequenos é grande parte do objetivo de atividades como o acampamento que fizeram ou as refeições semanais ao ar livre. Além disso, os pais enxergam essas iniciativas como uma oportunidade de exercitarem outras brincadeiras e saírem um pouco dos eletrônicos e da televisão.
“Apesar de as crianças se adaptarem mais rápido que os adultos, o distanciamento é muito ruim e solitário. Aqui em casa, pelo menos, tem o irmão, mas, ainda assim, eles não têm o bônus do encontro com os amiguinhos e as atividades que a escola promove. Então, fazer algo diferente dá uma renovada no clima chato da quarentena. O Gabriel já está pedindo outro acampamento”, conta Gabrielle.
A escolha de se manter em casa foi outro ponto importante para eles. Seguindo um isolamento social em que só saem quando precisam fazer compras no mercado ou para algo relacionado ao trabalho, esse é o ambiente de segurança para a família no momento. “Quase não estou saindo para trabalhar e, com as crianças, não saímos para nada.”
Dicas para deixar o momento mais agradável
* Após escolhido o lugar, pense no cardápio. Como é algo no chão, aposte em opções para comer com as mãos – frutas picadinhas, pãezinhos e aperitivos, pois são opções fáceis, leves e bacanas. Se for um dia mais frio, vale apostar em cobertores para aquecer a família. Use velas, elas aquecem e também ajudam a decorar, além de criar um clima especial.
* Vale higienizar todos os itens com álcool 70 e deixar um álcool em gel à disposição para que todos usem quando necessário.
* Para a decoração, use flores que podem ser encontradas facilmente nos supermercados, como margaridas ou flores do campo.
Fonte: Decoradora e arquiteta Cristiane Schiavoni.
Não se esqueça!
* O contato com aglomerações deve ser evitado
* Respeite o distanciamento social
* Use máscara ao sair de casa
* Higienize as mãos
Fonte: Ministério da Saúde
*Estagiárias sob a supervisão de Sibele Negromonte