Teresinha dos Santos não tem dúvidas: o momento em que se sente mais realizada é quando está na cozinha. “Cozinhar me desestressa dos problemas e me deixa muito feliz”, resume. Prestes a completar 73 anos, Tê, como é carinhosamente conhecida, mantém-se mais ativa que nunca, principalmente nesta quarentena, quando, assim como muitos, viu-se obrigada a mudar a rotina e a se reinventar.
Mudança nunca foi exatamente um problema para ela. Maranhense, da cidade de Balsas, Tê chegou a Brasília ainda adolescente, em 1963. Veio com os tios e os primos tentar uma vida melhor na recém-inaugurada capital. Logo conseguiu trabalho como empregada doméstica. Com a morte dos tios, passou a morar na casa dos patrões. “Eles se tornaram minha família. Ajudei a criar os filhos, os netos e até os bisnetos. Como nunca tive filhos, eles são meus também.”
E assim se passaram 39 anos — período em que Tê aproveitou para também se aperfeiçoar na arte da culinária. “Sempre fui muito curiosa. Considero a cozinha um laboratório, adoro inventar receitas. Assisto a todos os programas de gastronomia e faço coleção de livros e revistas de receitas.” Mas o inesperado aconteceu: depois de quase quatro décadas, os patrões se separaram. E a fiel ajudante foi taxativa: não tomaria partido, ou seja, não trabalharia para nenhum dos dois. Era chegada a hora de, pela primeira vez, morar sozinha.
Tê recebeu uma proposta para trabalhar dois dias da semana como cozinheira na casa de uma amiga da família. A essa altura, o tempero dela já tinha ganhado fama. E como, agora, tinha tempo de sobra, a maranhense decidiu preparar também quitudes sob encomenda. Aproveitou ainda para fazer vários cursos para “clarear as ideias” e se aperfeiçoar no que, intuitivamente, já dominava.
Um bufê para chamar de seu
E os pedidos começaram a chegar, principalmente dos amigos e dos amigos dos amigos. Um dos primeiros trabalhos foi um almoço de casamento, que ela lembra com um certo trauma, mas com muito orgulho e como um grande aprendizado. “Era uma festa para 300 convidados, mas acabou em 500. A família da noiva era de Minas Gerais, e os parentes todos vieram. Preparamos diversos pratos. Tinha leitão assado, bobó de camarão, feijoada... Foi um estresse só, mas deu tudo certo, e a experiência foi maravilhosa”, diverte-se.
Aprovada com louvor na prova de fogo, Tê estava pronta para encarar qualquer desafio. Desde então, fez salgados para festas — e até casamentos —, refeições congeladas, almoços na casa do cliente e em clube e ficou famosa pela deliciosa feijoada. Tudo, porém, era divulgado no boca a boca. “Muitas vezes, ela não sabia colocar preço no seu trabalho, e as pessoas pagavam bem menos do que ela merecia”, explica Rodrigo Moll, neto dos primeiros patrões de Tê e que também a considera avó.
Como o rapaz trabalha no Sebrae, resolveu ajudar a “avó” a estruturar o bufê. Em 2016, nascia o Cozinha da Tê. Criaram logomarca, tabela de preço, usaram as redes sociais para divulgação, enfim, profissionalizaram o serviço, mas sem deixar de lado o toque artesanal e afetivo — marcas registradas da cozinha da maranhense. Ela continuava responsável pela produção, e o neto passou a administrar o negócio.
E não faltavam festas. “Chegamos a fazer eventos para 120 pessoas, mas decidimos limitar a 80 para manter a qualidade”, diz Rodrigo. Principalmente porque a cozinheira prefere trabalhar sozinha, apesar da insistência de todos para contratar ajudantes.
Mas aí veio a quarentena. Tê, que, por conta da idade, faz parte do grupo de risco, logo passou a cumprir o isolamento social. “A dona da casa em que eu trabalhava é médica, então, assim que começou a pandemia, deixei de ir para o serviço.” Sob a constante vigilância dos “filhos” e netos”, foi proibida de frequentar até o supermercado. “Eles fazem as compras e trazem para mim.”
Ativa, ela não estava feliz com a situação. Foi aí que surgiu a ideia de repaginar o bufê e transformá-lo em Cozinha da Tê em Casa. Já que as festas estavam suspensas, ela levaria sua famosa feijoada e outras delícias até a casa do cliente. A Feijuca da Tê é oferecida na versão completa, com torresmo, arroz, farofa e couve refogada; na opção vegana; e também congelada — nesse caso, sem acompanhamento. As encomendas podem ser feitas até a quinta-feira, e as entregas ocorrem no sábado e domingo.
Além disso, o cardápio conta com empadas e empadões, caponata, pudim de leite e pãozinho de maçã, cuja receita ela compartilha com os leitores da coluna. Tê lembra que uma vizinha, gaúcha, a ensinou a fazer os pães, mas ela acabou mudando totalmente e receita e dando o seu toque especial. “Hoje, tem gente que me procura só para comer esses pãezinhos”, ri. A cozinheira planeja ainda ampliar o cardápio com algum outro prato quente.
Hoje, Tê está feliz porque, finalmente, voltou a trabalhar. Mas o coração anda vazio, pois não pode mais reunir a família que adotou para os almoços de fim de semana. Ela segue, porém, com a certeza de que logo tudo passará!
Serviço
Cozinha da Tê em Casa
Instagram: @cozinhadate
WhatsApp: (61) 3383-4057
Pãozinho de maçã
Para a massa
Ingredientes
- 300g de manteiga
- 1/3 de xícara de farinha de trigo
- 4 xícaras de farinha de trigo
- 2 colheres de sopa de fermento biológico para pão
- 1/2 xícara de água morna
- 3/4 xícara de leite escaldado
- 1/4 de xícara de açúcar
- 1 colher de chá de sal
- 1 ovo batido
- 2 gemas para pincelar
- 1 colher de sopa de leite (para misturar na gema)
Modo de preparar
- Com as mãos, misture a manteiga com 1/3 de xícara de farinha de trigo, formando uma bolinha. Forre com papel-alumínio e leve à geladeira por 10 minutos.
- Amoleça o fermento em água morna e reserve.
- Em fogo baixo, aqueça o leite com o sal e o açúcar até dissolver. Não deixe ferver. Deixe esfriar e adicione o fermento dissolvido. Misture.
- Em uma tigela grande, coloque quatro xícaras de farinha de trigo e abra um espaço no meio. Adicione nele o ovo batido e a mistura do leite. Misture os ingredientes com a mão, amassando até ficar homogêneo.
- Polvilhe uma bancada com farinha de trigo. Com um rolo, abra a massa na forma de um retângulo com cerca de 3cm de altura e coloque a manteiga que estava reservada na geladeira no meio da massa. Feche as abas sobre a manteiga, como se fosse um envelope. Abra novamente a massa com um rolo, sem deixar a manteiga vazar. Depois, faça novamente o envelope e abra a massa mais uma vez. Repita o processo por mais três ou quatro vezes, até incorporar a manteiga. Uma dica: caso haja dificuldades em fechar o envelope, coloque a massa por cinco minutos na geladeira para ficar mais consistente, antes de abri-la novamente.
- Deixe a massa descansar na geladeira, coberta por um pano, enquanto prepara o recheio.
Para o recheio
Ingredientes
- 1,5kg de maçã
- 1 xícara de açúcar
- 1 colher de sopa de canela em pó
Modo de preparar
- Descasque as maçãs e corte em fatias bem finas. Em uma panela, coloque-as junto com o açúcar e a canela em pó. Leve ao fogo médio e mexa por mais ou menos 10 minutos. Não adicione água.
- Depois de pronto, encaixe uma peneira em uma vasilha e coloque a maçã para que o excesso de calda escorra e o recheio esfrie.
- Separe 1/3 da massa e retorne o restante à geladeira. Polvilhe novamente a bancada e, com o rolo, abra a porção retirada da geladeira, deixando-a com cerca de 4mm de espessura.
- Corte triângulos de 13cm de base e 17cm de altura. Na base de cada triângulo, coloque uma colher de sopa do recheio e enrole a massa até a outra ponta. Retire metade da massa que está reservada e repita os passos. Em seguida, faça o mesmo processo com o restante da massa que ficou reservado na geladeira.
- Depois de recheados, coloque os pãezinhos em uma assadeira grande untada com manteiga. Eles vão crescer um pouco, portanto é importante que não estejam muito próximos. Em seguida, dissolva as gemas com o leite e pincele os pãezinhos.
- Leve ao forno preaquecido a 180º por 30 minutos ou até dourar.