As plataformas de paquera, no entanto, passaram a desestimular os encontros durante a pandemia. Mas, as conversas virtuais continuaram. Entre março e maio deste ano, o site Par perfeito teve aumento de 70% de cadastros. Pesquisa feita pela empresa, com 1,2 mil usuários, revelou que 61% deles acreditam que as pessoas estão conversando mais neste período. Fora da situação de pandemia, dos 1,2 mil entrevistados, 51% consideram que conversa cerca de 1 a 2 semanas antes de sair para um encontro e 27% acham que de 3 a 4 semanas é o suficiente para marcar algo.
Segundo a psicóloga Talitha Nobre, os humanos são seres sociáveis por natureza, pois dependem um do outro. “Este é um momento de muita aflição e temos necessidade de nos relacionar, pois é cultural: o toque, o calor e a troca de afeto. O fato de isso não ocorrer tem gerado muita inquietação”, afirma. Ela explica que as pessoas encontraram, na internet, um meio de diminuir esses sentimentos angustiantes.
Muitas pessoas já procuravam o virtual para interagir de maneira casual ou amorosa. Mas, agora, o comportamento tomou uma proporção maior. “Ajuda a diminuir os impactos negativos do isolamento. Porém, ainda há um vazio, que é a falta do toque, do abraço, do real, do íntimo, entre outros”, analisa a profissional, graduada pela Universidade Veiga de Almeida (UVA).
Segundo ela, não há uma receita de bolo para lidar com essa situação, pois cada um é singular. “O autoconhecimento pode ajudar, cuidar de si e manter-se no chão. Tem pessoas que aprenderam coisas novas e outras voltaram a fazer o que já não faziam durante a quarentena.”
Mais tempo, mais Tinder
A funcionária pública Adrienne Lima, 25 anos, conta que o Tinder era só um passatempo, um aplicativo que costumava abrir quando estava sem nada pra fazer. Agora, sem programas com os amigos, sem festas para frequentar, o período à toa é maior e ela acaba passando mais tempo no app. “O Tinder não é um aplicativo com o qual eu super me identifico, mas, quando estou entediada, dou uma olhada. Agora, tenho mais momentos de tédio, consequentemente, estou mais lá”, conta. Segundo ela, o comportamento dos amigos solteiros está parecido com o dela e a dinâmica dos bate-papos no aplicativo mudou. “Antes, conversavam um pouco e já queriam encontrar. Agora, não”, relata.
Ela conta que alguns tentam marcar encontros. “Alguns até colocam na descrição ‘é com você que eu vou furar a quarentena?’, outros querem deixar pra depois”, relata. Adrienne admite que encontrou uma pessoa. Foram a um local aberto assistir ao pôr-do-sol e ficaram de máscara o tempo todo. Não pretende fazer novamente. O que ela mais tem curtido, atualmente, é a oportunidade de conversar com pessoas de fora do país, pela função passaporte, liberada pelo aplicativo neste período. “Quem sabe, depois que tudo passar, eu faço umas viagens?”, brinca.
Filipe Colucci, 24, vive no mundo cibernético. “Eu sou uma pessoa totalmente virtual, uso as redes sociais para conversar e interagir”, conta. O jovem explica que já usou aplicativo de paquera, como o Tinder, mas não encontrou ninguém e preferiu desinstalar. “É uma solução para quem se sente sozinho neste momento. Estou tendo vontade de baixar de novo e tentar conhecer uma pessoa, principalmente, por causa do isolamento. Às vezes, eu uso as redes sociais também, mas é raro.”
O morador da Ceilândia observa que é necessário ter cuidado ao se relacionar virtualmente. “Você não sabe com quem está conversando do outro lado da tela e não podemos confiar totalmente”, analisa.
A psicóloga Talitha Nobre recomenda ter o pé no chão e não criar expectativas sobre os relacionamentos virtuais. “Na interação a distância, pode haver uma ilusão de quem está do outro lado da tela. Aí que vêm as frustrações, caso não supram as expectativas”, afirma. Um dos perigos da relação virtual é a idealização da outra pessoa por não conhecê-la pessoalmente ou não poder conviver com ela. “Até convivendo há chances de decepções”, observa.
Erotismo cibernético
Victoria Regina Italiano, 23, percebeu a tensão e a ansiedade das pessoas sobre a sexualidade durante a quarentena e decidiu usar as redes sociais para ajudá-las. “Criei um blog e um perfil no Instagram durante o isolamento. O objetivo deles é disponibilizar um conteúdo poético, lírico, erótico e gratuito”, conta ela, que é estudante de letras da Universidade Brasília (UnB). O perfil @pilula_de_poesia e o blog abordam sexo e prazer de forma saudável, com contos e poesias eróticas sem expor ninguém. “A ideia é de que ajudem essas pessoas de forma virtual a lidarem, por meio da literatura, com sentimentos sexuais. Essa situação mexe muito com a cabeça da gente”.
O sexo virtual e a masturbação acabam atendendo às necessidades de quem está sozinho. Professores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, elaboraram um guia com recomendações para uma vida sexual saudável na pandemia. Segundo o documento, a abstinência, a masturbação e o sexo por plataformas digitais são os comportamentos mais seguros, mas traz dicas para quem não se contenta com essas alternativas.
De acordo com a ginecologista Ana Carolina Lúcio, com a diminuição de contato físico, da interação e das saídas, as opções apresentadas no guia são recursos para substituir o sexo. “Se a pessoa se sente confortável, e não há contato físico com ninguém, é um meio mais seguro, principalmente agora, além de ajudar a manter a sexualidade viva durante o isolamento. O hábito mantém a mente e o corpo funcionando, oferecendo uma série de benefícios ao organismo”, explica ela, que é membro Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Ela acredita que há várias vantagens na masturbação, como melhora da libido, alívio de dores relacionadas à menstruação, fortalecimento do sistema imunológico e até dos músculos da região pélvica. Mas, apesar de ser uma prática saudável, é fundamental ficar atento aos excessos, pois, pode afetar a saúde psicológica e sexual: “Um sinal de alerta é se a prática começar a interferir na rotina.”
Prazer também é negócio
Para ajudar na masturbação muitas pessoas procuram por vibradores e outros acessórios. Juciene Alves Rodrigues, 29 anos, tem uma loja virtual (@boutiquedajurodriguesoficial) e conta que se surpreendeu com o lucro na quarentena. “Comecei há cerca de um ano nesse mercado, com o objetivo de completar a minha renda. Logo no início da pandemia, eu fiquei com medo: ‘e agora? Acabou o meu negócio’. Mas, foi ao contrário”, afirma. “Casais estão comprando produtos, como lubrificante, fantasias e óleos de massagem. E os solteiros não perderam tempo! Há muitos pedidos de vibradores tanto masculinos quanto femininos”.