Confesso que nestes tempos de quarentena tenho consumido um pouco mais de chocolate do que antes. Fazer o quê? Quarentena não é fácil, não. Alimentos com altos teores de carboidratos e gorduras têm grande poder de estimular nossos centros cerebrais relacionados ao prazer e à sensação de nos sentirmos recompensados, promovendo a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, a serotonina e a endorfina. Isso já explica, em parte, porque o chocolate é tão prazeroso. Mas as razões não param por aí.
O chocolate ainda é rico em substâncias chamadas de aminas biogênicas (ex: cafeína, teobromina), que também têm alto poder de estimular o sistema de recompensa cerebral. Contém também a anandamida, substância que se liga aos mesmos receptores em que a maconha exerce seus efeitos no cérebro e ainda faz com que a anandamida produzida pelo nosso corpo tenha efeito mais duradouro. Triptofano também faz parte do chocolate, substância precursora do neurotransmissor serotonina, conhecido por muitos como um dos protagonistas da química da felicidade. Além disso, o chocolate é capaz de reduzir os níveis de hormônios do estresse, tanto o cortisol quanto a adrenalina.
Mas os efeitos vão muito além do prazer e da redução do estresse. Sabemos hoje que o consumo de chocolate amargo promove uma série de outros efeitos benéficos ao nosso corpo pelo seu alto teor de flavonoides, as mesmas substâncias que fazem a boa fama dos chás, frutas e verduras. Entre os inúmeros bons efeitos já descritos temos: 1) aumento dos níveis de óxido nítrico, considerado um dos principais combustíveis para a saúde dos nossos vasos sanguíneos; 2) redução da agregação das plaquetas, ação que é igual à da aspirina; 3) aumento dos níveis do HDL – nosso colesterol bom – entre outras ações antioxidantes; 4) redução de marcadores de inflamação – lembrando que aterosclerose é igual a inflamação; 5) redução da resistência à insulina, facilitando sua ação nas células; 6) aumento do fluxo sanguíneo periférico (nos membros) e nas artérias do coração; 7) redução da pressão arterial e aumento do fluxo sanguíneo cerebral e/ou atividade neuronal durante uma tarefa cognitiva. E os efeitos chegam até a pele, com aumento de sua microcirculação sanguínea e maior nível de fotoproteção.
Vale lembrar que não é fácil encaixar uma barra de chocolate todo dia em nosso cardápio devido ao seu alto valor calórico. A boa notícia é que muitos estudos revelaram efeitos positivos do chocolate amargo mesmo em baixas doses, como um a dois quadradinhos por dia.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília