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Prazer em cozinhar

Apaixonada pelas panelas desde criança, brasiliense abre restaurante que prioriza a comida de afeto e cheia de história de família

Liana Falcão tinha 10 anos quando o irmão nasceu. Encantada por ter um bebê nos braços, queria cuidar dele, inclusive, preparando a comidinha. Tanto insistiu com a mãe, que ela ensinou a garota a fazer a sopinha do caçula. Foi assim, de forma pouco usual, que Liana descobriu a paixão pelas panelas e, mais ainda, o prazer que sentia ao ver outra pessoa provando a comida que fazia com tanto amor.

E logo a brasiliense se tornou a cozinheira oficial da família. “Quando o meu pai levava amigos para casa, eu corria para a despensa para ver o que tinha e sempre criava alguma coisa”, lembra. Mas o prazer pela culinária veio bem antes disso, nas idas semanais à Feira do Guará, com o avô, para tomar caldo de mocotó. “O meu avô é cearense e a minha avó, mineira. Na minha casa, não tinha essa de pouca comida à mesa. Tudo sempre foi muito farto.”

Antes de perceber que a gastronomia poderia se tornar profissão, porém, Liana fez de tudo um pouco: vendeu roupa, foi acupunturista, fabricou produtos artesanais, como sabonete e vela, foi técnica administrativa... Até que, quando trabalhava como recepcionista em uma clínica de nutrição, decidiu ser nutricionista.

Ingressou na faculdade em 2013 e, depois de um ano e meio de curso, começou a fazer marmitas com receitas especialmente voltadas para quem tinha algum tipo de intolerância alimentar. Passou, inclusive, a distribuir para uma loja da cidade quitutes como pizza sem leite, queijo de mandioca, coxinha sem manteiga, quibe de soja. “Foi quando meu pai falou: você está no curso errado.” Liana seguiu o conselho paterno e, em 2015, largou nutrição e começou a cursar gastronomia.

Comida de afeto

Ainda no primeiro semestre de faculdade, conseguiu um estágio com o chef Lui Veronese, que à época chefiava a cozinha do Cru Balcão Criativo. “Foi uma experiência maravilhosa, de muito aprendizado.” Depois, começou a fazer eventos, auxiliando outros chefs da cidade, como Claude Capdeville, do Toca do Chopp, e o fabricante de linguiças Leo Hamu.

Em maio do ano passado, surgiu uma oportunidade que a brasiliense logo tratou de agarrar: ocupar um dos boxes da Quituart, tradicional praça gastronômica no coração do Lago Norte. Surgia, assim, o Relicário — Cozinha Afetiva. “Aqui, fazemos comida de verdade e, como o nome diz, cheia de memórias afetivas.”

Um dos carros chefes da casa, por exemplo, é um dos pratos preferidos da mãe de Liana: moqueca de siri. E ela é servida com quiabo frito, bem sequinho, sem aquela baba que lhe é peculiar — outra receita de família. Em homenagem ao avô, tem o bolinho de carne de sol e mandioca. “Quando éramos crianças, ele fazia uns bolinhos de feijoada com a mão e colocava nas nossas bocas. Esse bolinho é uma releitura, também o modelo com as mãos”, detalha.

Do pai, capixaba, surgiu a ideia do peixe com banana-da-terra, outro sucesso do restaurante. Entre os petiscos, o Dadinho de tapioca, cuja receita a chef compartilha com os leitores da coluna, figura como favorito. Servido com melado de cana, não poderia ser mais nordestino. E, para acompanhar todas essas delícias, drinques à base de frutas, muitos deles de autoria da companheira de Liana, Camila Holanda.

“O que mais sai é a caipirosca de cajá, hortelã e pimenta-rosa. E ela é uma homenagem a Liana, que, quando esteve em Fortaleza, minha cidade natal, adorou cajá”, conta Camila. Ela faz questão de ressaltar que a receita não é feita com cajá-manga, comum na região do cerrado.

Em uma terça-feira por mês, Liana ainda prepara jantares com cardápio fechado — entrada, prato principal e sobremesa — para pequenos grupos pré-agendados. “Fizemos uma pausa nas férias, mas voltaremos em março”, garante. “O meu maior prazer é ficar quietinha, da minha cozinha, vendo os clientes provarem e aprovarem os pratos que preparo e sirvo com tanto carinho.” Hábito adquirido quando ainda era criança!

Serviço
Relicário — Cozinha Afetiva
Quituart — Setor de Habitações Individuais Norte QI 10, 
Canteiro Central — Lago Norte
Telefone: 99939-1819
Instagram: @relicariocozinhaafetiva
Abre na sexta-feira, das 18h30 às 23h30, e sábados e domingos, da 11h às 17h


Dadinho de tapioca

Ingredientes
  • 1kg de tapioca granulada
  • 600g de queijo coalho ralado
  • 1 litro de leite
  • 1 colher de chá de sal
  • Óleo

Modo de fazer
  • Em uma panela, misture a tapioca, o queijo, o leite e o sal e leve ao fogo baixo, sempre mexendo. Deixe cozinha por aproximadamente 15 minutos. O ponto certo é quando a massa não cai da colher.
  • Espalhe a massa em um tabuleiro e leve à geladeira por duas a três horas.
  • Quando estiver duro, corte em cubinhos.
  • Frite em óleo bem quente até que fique dourado.
  • Sirva com melado de cana ou geleia.