Revista

O universo do feminino


Gabriele Oliveira se interessou cedo pela prática da meditação e o funcionamento dos chakras, por influência da mãe. Mas se jogou de vez em exercícios que a aproximassem da própria essência depois do diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos, que provocava alterações hormonais fortíssimas. Acreditando que nenhuma doença se limita ao físico, ela pensou que intensificar essas práticas poderia ser uma saída para fazer o corpo melhorar. De fato, hoje, ela pode se considerar curada.

Mediadora do grupo Cura do Feminino, Gabriele passou a viajar com alguma frequência para estudar sobre a cultura oriental e práticas milenares, como a medicina ayurveda e a filosofia chinesa do Tao. Ela conta que, mesmo em momentos de partilha feminina nesses outros países, que reúnem mulheres de diversas culturas, percebe que todas têm desejos e dúvidas superparecidos, do Brasil ao Camboja.

Ela propõe a realização de círculos femininos para um mergulho no silêncio interior e um (re)encontro com a essência feminina e com a ancestralidade. As práticas são guiadas em grande parte pela filosofia do sagrado feminino, que tem se popularizado nos últimos anos, em sintonia com o fortalecimento de ideais feministas.

Dependendo da mestre, o método sofre mudanças. Mas a ideia geral desse estilo de vida é tomar consciência — e abraçar — tudo que é feminino. A volatilidade de humor natural em razão dos hormônios e ciclos femininos, a menstruação e o poder de gestar.

No grupo, as reuniões podem durar horas. As mulheres meditam, dançam, fazem exercícios de respiração, conversam. Para trazer essa vivência para o dia a dia de forma simplificada, Gabriele sugere alguns passos.

Primeiro, o poderosíssimo estar entre mulheres. Segundo, optar por produtos naturais, na contramão da venda de cosméticos a todo custo, mesmo que carreguem substâncias duvidosas, e o consumo de alimentos ultraprocessados. Quanto mais natural possível, melhor. Em seguida, recomenda a meditação. Vale forçar até virar hábito.

Silêncio

Elas também exercem o poder do silêncio, que trabalha muito o ego. “Estamos acostumadas a chegar em casa e ligar a televisão, de forma mecanizada. Entrar no carro e ouvir o rádio. Se estamos malhando, escutamos música. Por vezes, só precisamos deixar silenciar para o que há de mais bonito se manifestar.”

Outro conceito importante do grupo é a relação do ser mulher com as fases da lua e outros elementos naturais. “É pensar que nós somos natureza e que nossos corpos não se comportam diferente de outros ciclos. Se pensarmos por essa lógica, a lua cheia é tempo de extroversão, de traçar novos planos. Por outro lado, quando ficamos mais introvertidas, isso pode ser justificado pela lua nova, que mal consegue ser vista. Existe uma série de analogias.”

A ginecologia feminina e o corpo num todo sentem os efeitos do processo. Gabriele conta que já recebeu mulheres que queriam muito engravidar, mas não conseguiam. Foi o caso da servidora pública Andreya Mota, de 34 anos. Mesmo com bons resultados nos exames médicos, ela e o marido não conseguiam engravidar. Chegaram a perder um bebê. Andreya acredita que era por viver no automático que as tentativas eram todas comprometidas.

Depois de se aprofundar na meditação e em outras práticas saudáveis diárias, inclusive de partilha com outras mulheres, se sentiu mais leve de pressões externas. “Me abri para um novo ciclo. Mudei minha visão sobre as mulheres e entendi a importância da sororidade e da empatia.” Como resultado dessa melhor relação com as próprias emoções, Andreya já está no quarto mês de uma gestação saudável. Izzah Mariann Toth, terapeuta, 41, participou do grupo Mulheres Essenciais e acabou tornando-se uma das facilitadoras dele. Nele, trabalha-se com a psicoterapia corporal, com a metodologia core energética. “Trabalhamos as emoções que estão no corpo, liberando todas as couraças”, explica Izzah. Depois do movimento do corpo, há o colo, que é uma roda de partilha para as participantes do grupo se expressarem sem receberem julgamentos, feedbacks, ou conselhos.

No total, são quatro facilitadoras. Cada uma delas em um momento da vida. Izzah tem dois filhos e está casada há quase 20 anos. Fernanda Palmerston, 28, é recém-casada. Devamani, 36, espera sua primeira filha. E Leena, 55, já tem netos. “Nós representamos quatro arquétipos da deusa, várias fases. Dessa forma, o que fazemos aqui é uma construção coletiva, uma parceria com várias formas de ver as coisas, o que enriquece muito”, afirma Izzah.

Fernanda esclarece que não se trata de um grupo terapêutico, mas de vivências, e que acaba sendo terapêutico até para elas. Mas ela explica que o grupo não parte de um esquema idealizado de união entre as mulheres. “A rivalidade entre as mulheres é, inclusive, um tema que acaba perpassando os encontros e a gente procura levá-las a perceber isso e criar outro padrão, porque ali, todas percebem que cada uma tem suas questões, suas dificuldades”, afirma Fernanda.

Ela acrescenta que toda competição parte de uma ideia ilusória da outra e, entendido isso, consegue-se deixar isso de lado e focar no que a outra pode nos ajudar a melhorar.

O grupo também trabalha com o sagrado feminino, que seria tudo aquilo que define a mulher como tal. Devamani explica que algumas definem o conceito como delicadeza, outros, como força, já que a mulher é capaz de parir.

“Nós queremos despertar em todas aquilo que nos faz ser mulheres e que aprendamos a lidar com as desigualdades, com o machismo e com os nossos ciclos, ainda que isso não seja cultural”, afirma a terapeuta Devamani, 36.

Contexto

Ela alerta para a cilada de pensar no sagrado feminino como um estado de espírito zen. “Essa é outra armadilha, porque todos temos dificuldades no dia a dia. Como eu vou ser esse ser idealizado? A mulher tem que se adequar ao seu contexto”, explica Devamani. Para isso, o grupo questiona certas atribuições dadas às mulheres: “tem que cuidar”, “tem que ser boazinha”, “tem que dizer sim sempre”. “A ideia é que as mulheres tirem essas máscaras criadas culturalmente e entendam que podem sentir raiva, se sentir poderosas. Não precisa ficar congelada, porque isso não é real. É uma busca por autoconhecimento”, afirma Fernanda.

Para elas, o autoconhecimento tem a ver com o contato com o próprio corpo e com o movimento do corpo. “Nós pegamos nas nossas pernas, nos nossos braços, se sente e resgata amorosidade com nós mesmas, o respeito pelo que queremos, pelo que sentimos”, explica Izzah.

Serviço

Cura do Feminino
Evento: Workshop “Despertar do Feminino” & Meditação da Lua Cheia
Data: 10/03 (terça-feira)
Horário: 19h30
Local: Espaço Astrea, na SHIS QI 26
Novos cursos a partir de 17/03
Confira o site para saber mais sobre a agenda: www.curadofeminino.com
Instagram: @curadofeminino

Mulheres Essenciais
Data de início: 26/3/2020 (quinta-feira), com encontros quinzenais
Horário: 19h30
Local: Espaço Soma, na 914 Norte, dentro do ColéGio Arvense
Inscrições pelo site: https://linktr.ee/mulheres.essenciais
Instagram: @mulheres.essenciais
Vagas limitadas