O Brasil é quinto país que mais ingere álcool em toda o continente americano — o consumo per capita anual é de 8,9 litros, nível acima da média mundial, de 6,4 litros. Não bastasse a predisposição natural à bebida, uma maratona de quatro dias de folia dá mais um empurrão para que o país se mantenha nessa posição: o carnaval.
Nesta época do ano, muitos acabam exagerando na bebida, exceto aqueles que fazem uso de algum tipo de medicamento. Mas, apesar de os antibióticos serem um dos principais motivos para se negar uma gelada, a interação com outros remédios também pode gerar efeitos tão indesejáveis quanto, em alguns casos, irreversíveis.
Clínico geral responsável pela emergência 24 horas do Hospital Santa Lúcia, Luciano Lourenço conta que é comum as pessoas chegarem ao pronto-socorro com sintomas de intoxicação pela mistura de álcool e medicamentos. “Não são apenas antibióticos. Remédios de uso comum, como anti-inflamatórios, dipirona, paracetamol, entre tantos outros, também podem causar danos quando entram em contato com grandes doses de álcool”, afirma.
Outro exemplo são os psicofármacos, como benzodiazepínicos, antidepressivos e antipsicóticos, que potencializam o efeito depressor do álcool. “Do ponto de vista da pessoa que ingeriu álcool e alguma dessas substâncias, a sensação é de ter bebido muito mais do que bebeu de fato; os efeitos de embriaguez são mais acentuados com pequena ingestão de álcool. Com altas doses, pode haver efeito sedativo e até coma”, aponta o psiquiatra Eli Chenilha.
O tipo de bebida e as características individuais dos medicamentos ditam a forma e a intensidade das reações. Enquanto alguns remédios têm o efeito potencializado quando combinados à bebida, outros ficam com a função terapêutica comprometida. “O álcool também é capaz de mudar a molécula da substância do medicamento, e esse é o efeito mais grave, pois é quando se configuram os quadros de intoxicação”, explica Luciano.
O clínico recomenda ingerir álcool só quando não houver mais resquícios de medicação no organismo — o tempo de metabolização varia de acordo com o remédio; no geral, é de, no mínimo, 12 horas. “Interromper tratamentos não é recomendado. O paciente pode conversar com o médico da possibilidade, é importante que todo o processo seja supervisionado.”
Como bebida e medicamentos são metabolizados pelo fígado, ambos podem sobrecarregar o órgão. É importante estar alerta a possíveis complicações: casos mais graves de intoxicação podem causar insuficiência hepática e até a morte. “O indicado é não misturar álcool com medicamentos. E se decidir ingerir qualquer bebida alcoólica, saiba dos riscos e beba sempre com moderação”, recomenda a hepatologista Natália Trevizoli.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte