"Eu me sentia um estranho, odiava vestidos e tudo o que se referia ao padrão de comportamento e à aparência que eu deveria ter. Eu me questionava ‘quem sou eu’ o tempo todo, porque não me enxergava naquela pessoa"
Lucas Miguel Epaminondas Silva
Lucas Miguel Epaminondas Silva
O estudante Lucas Miguel Epaminondas Silva, 19 anos, percebeu que havia algo diferente por volta dos 5, 6 anos de idade, mas somente se reconheceu trans quando estava prestes a completar 18. O processo foi longo e, antes de se descobrir um homem trans, achou que era uma mulher lésbica. “Sabia que tinha algo que não se encaixava, mas não conseguia identificar o que era.”
Quando criança, sempre queria interpretar um menino nas brincadeiras. Os nomes que mais gostava de usar nesses momentos eram Lucas e Miguel. Na pré-adolescência, o incômodo e o desconforto pioraram, as características femininas começaram a aflorar e o incomodavam profundamente. “Eu me sentia um estranho, odiava vestidos e tudo o que se referia ao padrão de comportamento e à aparência que eu deveria ter. Eu me questionava ‘quem sou eu’ o tempo todo, porque não me enxergava naquela pessoa”, lembra.
Vivendo uma adolescência marcada pelo sentimento de não pertencimento, Lucas disse à família que era uma mulher lésbica, fato que não foi aceito. Por volta dos 14 anos, o jovem começou a ter crises de ansiedade e depressão e chegou a se automutilar. Quando a situação se tornou insustentável e até perigosa, ele e a família buscaram auxílio no Adolescentro, onde começou um processo de aceitação.
Aos 16 anos, viu o vídeo de um homem trans contando sua história e, finalmente, começou a se identificar e a se enxergar como quem realmente era. Com uma família muito fechada, ele só pôde começar a mudar as roupas depois de mais velho — e aos poucos. Escondia-se em camisetas e calças folgadas, o cabelo estava sempre na altura do ombro.
No ano passado, Lucas começou a usar o nome social e se assumiu para os amigos mais próximos. Foi somente aos 18 anos que começou o processo de transição, com a hormonoterapia e o bloqueio dos hormônios femininos. E, finalmente, pôde cortar os cabelos como sempre quis. “Tudo se tornou mais evidente quando fiz 18. Depois que comecei o processo, resolvi contar. Eu sofri demais, mas agora, que sei quem sou, quero ser feliz, me libertar.”