Revista

A luta contra o preconceito

Patrícia conta que a maioria da família apoiou, e o marido sequer dá espaço para os que discordam se manifestarem. “Ele apresenta a Duda como filha dele. E acabou. Quando alguém pergunta se não era um menino, ele diz que nós achávamos que sim, mas, na verdade, era uma menina, a Duda. E acaba aí.”

Apesar da rede de apoio, Patrícia revela ter medo dos perigos aos quais a filha está sujeita e se sente mais segura ao saber que, com a transição desde cedo, ela terá aparência totalmente feminina e ficará menos exposta. “Quem é pai e mãe sabe o que sinto quando pergunto: até onde você vai pela felicidade dos seus filhos?”

Em um mundo cheio de preconceitos, os pais de Duda são minoria entre famílias de jovens transexuais. Médico de família e comunidade no Adolescentro de Brasília, Luiz Fernando Marques, um dos fundadores do Ambulatório Trans no Hospital Dia, ressalta a importância do suporte familiar a essas crianças e jovens. “Os pais e mães são o exemplo dos filhos, são os heróis. Queremos ser amados e aceitos pelos nossos heróis, e é um grande reforço quando os pais estão junto nesse processo de aceitação, que não é fácil.”

No Adolescentro, além de atendimentos individuais e em grupo, a equipe multidisciplinar faz mediações de conflito e conversa com as famílias e os jovens. “Aceitamos a dificuldade deles e fazemos um trabalho para que compreendam melhor seus filhos.” O médico explica o quanto o suporte é benéfico aos jovens, que, muitas vezes, enfrentam sofrimentos intensos e problemas de saúde mental devido a não aceitação, à ignorância e à violência que existem na sociedade.

Luiz alerta que o número de jovens e crianças trans que lutam contra depressão, ansiedade e pensamento em atos suicidas é muito alto, mas ressalta a importância de não relacionar as patologias à transgeneridade. “Isso não está relacionado ao fato de serem trans, mas, sim, por saberem que vão sofrer violências, preconceitos e ter grandes barreiras sociais por serem quem são. Muitas vezes, eles não se aceitam porque achan que não serão aceitos.”




Jovens famosos
As pessoas trans têm buscado ocupar seu lugar de direito na sociedade e isso inclui a visibilidade e a representatividade. No caso das crianças e dos jovens, se reconhecer em outro é extremamente importante para a reafirmação e a aceitação da própria identidade, como explicam os especialistas.





Ativismo
Jazz é a estrela do reality show A vida de Jazz, transmitido pelo canal TLC. A jovem norte-americana se identificou e foi diagnosticada com incongruência de gênero (na época chamado de transtorno de identidade de gênero infantil) aos 4 anos, em 2000. Ela foi uma das primeiras pessoas do mundo a ser registrada como trans no início da infância. No programa, é possível acompanhar todo o seu processo de transição, desde o bloqueio hormonal, no início da adolescência, até a hormonização e, por fim, a cirurgia. Todo o processo é documentado pelas câmeras e oferece um olhar real da vida de uma pessoa trans que convive com a aceitação da família. A jovem transgênero é escritora, ativista dos direitos LGBTQ e youtuber, além de ter fundado a Purple Rainbow Tails, instituição que faz e vende caudas de sereia de borracha e reverte os lucros para ajudar crianças trans.




Super-heroína
Rebekah, assim como Jazz, é uma jovem ativista trans. Aos 12 anos, tem aparições em diversas publicações ao redor do mundo, como Huffington Post, Teen Vogue, The Advocate Magazine, LGBTQ Nation, British Vogue, entre outras, além de fazer participações em programas de televisão nos Estados Unidos. Ela já recebeu prêmios pelo seu ativismo e é um fenômeno nas redes sociais. Sua última conquista foi se tornar parte de um projeto da Marvel, chamado Marvel’s Hero Project, na qual ela será uma super-heroína trans.