Ailim Cabral
postado em 12/01/2020 08:00 / atualizado em 30/01/2022 13:36
Quem sou eu? Essa é uma pergunta que praticamente todo mundo já se fez em algum momento da vida. São diversos os motivos que nos levam ao questionamento de nossa identidade. Para algumas pessoas, porém, as dúvidas vão além das filosóficas e têm a ver, literalmente, com o que elas veem no espelho. É a chamada transgeneridade.
Por definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se de uma “incongruência de gênero acentuada e persistente entre o gênero vivido pelo indivíduo e aquele atribuído em seu nascimento”. Ou seja, pessoas transgêneras são aquelas que não se identificam com o sexo biológico no qual nasceram — condição cercada de tabus e preconceitos, que acabam causando confusão e dificuldade de aceitação da própria identidade em crianças, adolescentes e adultos.
Especialista no tema e pioneiro no Brasil, o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), explica que a identidade de gênero, seja ela trans, seja cisgênero, se estabelece nas crianças em torno dos 4 anos. “Por volta dessa idade, elas iniciam uma confirmação, por meio de perguntas sobre ser menino ou menina, e uma busca pela validação dos pais.”
Para o especialista, diversas crianças e jovens percebem, desde muito cedo, que há algo de diferente neles mesmos, muitas vezes sem conseguir compreender — uma vez que o tema ainda é tratado como tabu e tem pouca visibilidade. Esse foi o caso de Maria Eduarda Maia Gomes Pereira, 13 anos. Duda, como hoje é chamada, nasceu João Victor, mas, por volta dos 2 anos, os pais perceberam que a criança se aproximava muito mais de tudo relacionado ao universo feminino do que ao masculino.
A mãe, a professora Patrícia Maia Gomes Pereira, 50, lembra que, quando a filha começou a falar, dizia que queria ser igual a ela — e não ao pai —, além de sempre preferir os brinquedos e brincadeiras típicas de meninas.
Quando Duda tinha cerca de 4 anos, os pais, percebendo que a criança sofria, a levaram ao psicólogo. “No início, achávamos que ela era um menino que seria gay, e estávamos tranquilos com isso, nunca foi um problema”, explica Patrícia. A procura pelo profissional foi motivada porque, mesmo tendo toda a liberdade para se expressar, brincar e vestir o que quisesse em casa, Patrícia e o marido percebiam que Duda continuava angustiada, e não conseguiam ajudar.
As consultas não tiveram muito resultado, os profissionais diziam que era muito cedo para definir questões de sexualidade e diziam que a identificação com a mãe era normal em crianças mais novas. Quando Duda tinha 8 anos e estava no terceiro psicólogo, os pais perceberam que ela sofria por não se encaixar em papéis que eram esperados “dele (João Victor)” socialmente, e viam a sua frustração.
Representatividade
Na época em que era João Victor, Duda chorava ao usar roupas “de menino” e não gostava do próprio nome. Patrícia conta que, apesar de se preocuparem com o preconceito e a violência do mundo exterior, em casa, deixavam claro que a filha podia ser quem quisesse, mas nem Duda nem os pais estavam familiarizados com a transexualidade.
Um dia, quando Duda tinha entre 9 e 10 anos, viu uma personagem trans em uma novela e disse: “Eu acho que é isso que eu sou, mamãe”. Nesse momento, Patrícia conta que foi pesquisar, viu uma reportagem do médico Dráuzio Varella e pensou: “Matamos a charada, ela é trans!”
Depois disso, a família passou a compreender melhor o processo, ler, se informar e iniciar o processo para que a filha pudesse ser, por fora, quem ela sempre foi por dentro. “Vemos a necessidade de falar sobre isso, contar nossa história. A Duda sofreu muito, e nós também, porque não tínhamos conhecimento, informação, não se ouvia falar sobre isso.
Mudança classificatória
Em 2018, após 28 anos da última revisão, a OMS retificou a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), deixando de considerar a transexualidade como um transtorno mental. Agora, a condição é especificada em uma seção nova, que trata de condição relacionadas à saúde sexual.
Nasce, enfim, Maria Eduarda
Na época, a família buscou o Amtigos, em São Paulo, e entrou em uma longa fila de espera. Desde então, as roupas de Duda mudaram, ela deixou o cabelo crescer e escolheu o novo nome, no qual já pensava desde os 8 anos. “Perguntei para a minha mãe qual seria meu nome se eu tivesse nascido menina, e gostei muito de Maria Eduarda. Ali, decidi que queria que esse fosse meu nome”, lembra.
Entre 11 e 12 anos, começaram as mudanças na escola — como a do nome social na chamada e a do uso do banheiro feminino. A família lembra que enfrentou algumas dificuldades com uma das funcionárias, mas, ao entrar em contato com os responsáveis pela escola, tudo foi resolvido, os direitos de Maria Eduarda respeitados. Apesar de usar o nome social, a família ainda não iniciou o processo de retificação dos documentos.
Aos 12 anos, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, Duda começou o bloqueio hormonal para impedir o avanço da puberdade masculina. Ela toma injeções com os bloqueadores uma vez por mês e realiza uma bateria de exames a cada 90 dias, além de fazer acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
O plano de Duda é iniciar a hormonização aos 16 anos, por meio do projeto de pesquisa do Amtigos, coordenado por Alexandre Saadeh. “Está dando certo, vai chegar o grande dia, que vai ser depois da cirurgia de ressignificação sexual”, conta Duda. Patrícia completa que, até chegar lá, ela tomará a decisão com mais maturidade — no Brasil, a cirurgia só é feita após os 18 anos.
Duda afirma que, tirando algumas ondas de calor e oscilações de humor que teve no início do tratamento de bloqueio hormonal, sente-se calma e estabilizada. “Eu me olho no espelho e já estou feliz, finalmente me sinto satisfeita com a minha aparência e me vejo no reflexo”, revela a adolescente hoje com 13 anos.
A luta contra o preconceito
Patrícia conta que a maioria da família apoiou, e o marido sequer dá espaço para os que discordam se manifestarem. “Ele apresenta a Duda como filha dele. E acabou. Quando alguém pergunta se não era um menino, ele diz que nós achávamos que sim, mas, na verdade, era uma menina, a Duda. E acaba aí.”
Apesar da rede de apoio, Patrícia revela ter medo dos perigos aos quais a filha está sujeita e se sente mais segura ao saber que, com a transição desde cedo, ela terá aparência totalmente feminina e ficará menos exposta. “Quem é pai e mãe sabe o que sinto quando pergunto: até onde você vai pela felicidade dos seus filhos?”
Em um mundo cheio de preconceitos, os pais de Duda são minoria entre famílias de jovens transexuais. Médico de família e comunidade no Adolescentro de Brasília, Luiz Fernando Marques, um dos fundadores do Ambulatório Trans no Hospital Dia, ressalta a importância do suporte familiar a essas crianças e jovens. “Os pais e mães são o exemplo dos filhos, são os heróis. Queremos ser amados e aceitos pelos nossos heróis, e é um grande reforço quando os pais estão junto nesse processo de aceitação, que não é fácil.”
No Adolescentro, além de atendimentos individuais e em grupo, a equipe multidisciplinar faz mediações de conflito e conversa com as famílias e os jovens. “Aceitamos a dificuldade deles e fazemos um trabalho para que compreendam melhor seus filhos.” O médico explica o quanto o suporte é benéfico aos jovens, que, muitas vezes, enfrentam sofrimentos intensos e problemas de saúde mental devido a não aceitação, à ignorância e à violência que existem na sociedade.
Luiz alerta que o número de jovens e crianças trans que lutam contra depressão, ansiedade e pensamento em atos suicidas é muito alto, mas ressalta a importância de não relacionar as patologias à transgeneridade. “Isso não está relacionado ao fato de serem trans, mas, sim, por saberem que vão sofrer violências, preconceitos e ter grandes barreiras sociais por serem quem são. Muitas vezes, eles não se aceitam porque acham que não serão aceitos.”
Jovens famosos
As pessoas trans têm buscado ocupar seu lugar de direito na sociedade e isso inclui a visibilidade e a representatividade. No caso das crianças e dos jovens, se reconhecer em outro é extremamente importante para a reafirmação e a aceitação da própria identidade, como explicam os especialistas.
Ativismo
Jazz Jennings é a estrela do reality show A vida de Jazz, transmitido pelo canal TLC. A jovem norte-americana se identificou e foi diagnosticada com incongruência de gênero (na época chamado de transtorno de identidade de gênero infantil) aos 4 anos, em 2000. Ela foi uma das primeiras pessoas do mundo a ser registrada como trans no início da infância. No programa, é possível acompanhar todo o seu processo de transição, desde o bloqueio hormonal, no início da adolescência, até a hormonização e, por fim, a cirurgia. Todo o processo é documentado pelas câmeras e oferece um olhar real da vida de uma pessoa trans que convive com a aceitação da família. A jovem transgênero é escritora, ativista dos direitos LGBTQ e youtuber, além de ter fundado a Purple Rainbow Tails, instituição que faz e vende caudas de sereia de borracha e reverte os lucros para ajudar crianças trans.
Super-heroína
Rebekah Bruesehoff, assim como Jazz, é uma jovem ativista trans. Aos 12 anos, tem aparições em diversas publicações ao redor do mundo, como Huffington Post, Teen Vogue, The Advocate Magazine, LGBTQ Nation, British Vogue, entre outras, além de fazer participações em programas de televisão nos Estados Unidos. Ela já recebeu prêmios pelo seu ativismo e é um fenômeno nas redes sociais. Sua última conquista foi se tornar parte de um projeto da Marvel, chamado Marvel’s Hero Project, na qual ela será uma super-heroína trans.
Mudança com responsabilidade
O processo de transição tem etapas. A primeira delas é o bloqueio puberal ou hormonal, feito nos pré-adolescentes e adolescentes. O ideal é que seja realizado antes de a puberdade se iniciar, impedindo, assim, o aparecimento dos caracteres sexuais secundários do sexo biológico do jovem, como a barba ou o crescimento dos seios.
Quanto mais tarde é feito o bloqueio, mais chances a pessoa tem de desenvolver características físicas típicas do gênero no qual nasceu e não se identifica. “Quanto mais velha a pessoa, mais difícil é a transição em termos de passabilidade. Quanto antes interferir, melhor”, explica Luiz Fernando Marques.
Tanto Luiz quanto o psiquiatra Alexandre Saadeh deixam claro que, em nenhum momento, duvidam da criança ou do jovem que se identifica como transgênero, mas existe uma avaliação multidisciplinar para que se tenha certeza do diagnóstico, garantindo, assim, mais segurança ao processo ao qual o jovem se propõe a passar.
Alexandre esclarece que é necessário estar atento e acompanhar a criança, observando como e com o que ela se identifica e deixá-la seguir o próprio curso de autodescoberta. “É importante acompanhar e estimular que a criança revele o que se passa dentro dela, mas não podemos ir na frente da criança e definir se ela é cis, trans, homo ou heterossexual”, completa.
Algo que comumente acontece, tanto por parte das famílias quanto das próprias crianças e jovens, é achar que é homossexual, antes de se perceber trans. Quando começa a chegar à puberdade e o corpo inicia a mudança, o jovem tende a experimentar um sofrimento intenso com suas características físicas. “Quando entramos com o bloqueio, damos um tempo a mais para que aquele jovem se descubra e se conheça.”
Entre as vantagens do processo de transição iniciado na adolescência, está, justamente, o fato de que o bloqueio hormonal é reversível e não causa danos ao desenvolvimento. Alexandre explica que, caso a criança ou o jovem desista durante o processo, não haverá danos. Parando com o bloqueio, ele passará pelo processo de puberdade do corpo em que nasceu, sem prejuízo ao desenvolvimento ou ao crescimento.
Facilitadores
No Amtigos, a hormonização, ou seja, a administração de hormônios do gênero no qual a pessoa se identifica, inicia-se a partir dos 16 anos. No Brasil, apenas três lugares começam o processo antes dos 18 anos — além do ambulatório da USP, um projeto vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outro à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com a nova determinação do CFM, publicada no dia 09 de janeiro, as terapias hormonais poderão ser iniciadas, de forma geral, a partir do 16 anos.
Os atendimentos realizados são baseados em projetos de pesquisa, de acordo com determinações do Conselho Federal de Medicina. Atualmente, no Amtigos, são atendidas 85 crianças e quase 300 adolescentes.
Além de auxiliar e atender essas crianças e jovens, os projetos permitem coleta de dados e a fundamentação e publicação de trabalhos que facilitarão cada vez mais a vida das pessoas trans. “Precisamos mostrar que essas crianças existem, sempre existiram, mas, agora, elas são vistas. Isso vai dar um significado muito grande na história dessas pessoas, para que elas possam ser quem são e não quem a sociedade gostaria que elas fossem”, completa Alexandre.
O acompanhamento inclui as especialidades de psiquiatria, psicologia, endocrinologia, pediatria generalista, fonoaudiologia, enfermagem e serviço social. Os protocolos se baseiam em pareceres do CFM e de pesquisas feitas em outros países, como Canadá, Holanda, Estados Unidos e Inglaterra.
Aparência
Passabilidade é o termo usado para se referir a homens e mulheres trans que não têm características do gênero em que nasceram e contam com aparência semelhante a pessoas cis. Ou seja, pessoas trans que “se passariam” por pessoas cis. Controversa, para algumas pessoas trans, a característica é uma vantagem; para outras, não, pois elas desejam ser vistas e percebidas como trans, apesar de todas as dificuldades e preconceitos que isso pode ocasionar.
A transição depois da puberdade
Assim como grande parte das crianças transgênero, antes de se descobrirem e se identificarem como pessoas trans, dois dos jovens que aceitaram dividir suas histórias, Lucas Miguel Epaminondas Silva, 19 anos, e Samantha Carvalho Gregório, 17, achavam que eram cis homossexuais.
Desde pequena, a estudante Samantha se identificava com temas e objetos relacionados ao universo feminino. Sentia-se livre e feliz quando podia brincar de boneca com as amigas. Gostava de observar a mãe se maquiando e sonhava em ser como ela. Mas, desde os 8 anos, sentia que não podia querer tudo o que queria porque eram “coisas de menina”, e ela nasceu em um corpo masculino.
“Eu era muito reprimida em tudo que tinha de mais feminino, e passei a enxergar esse lado meu como algo muito negativo”, lembra. Aos 12 anos, sentia que precisava se reafirmar como “homem de verdade”. Fez uma lista das meninas da sala para eleger de quem “ia gostar” e tentar namorar para “provar que era macho”.
Com muita dificuldade de autoaceitação, aos 13 anos, Samantha se assumiu aos amigos mais próximos como bissexual; aos 15, se disse gay. Mas algo ainda não se encaixava. A jovem não se sentia bem com o próprio corpo, não gostava de ser tratada com pronomes e nomes masculinos, mas não conseguia entender direito o que a incomodava.
A autoaceitação
Em uma conversa com uma amiga, expressou a possibilidade de talvez ser trans. “Ela, que já tinha perguntado uma vez se eu achava que era trans, só perguntou como eu queria ser chamada. Dois dias depois disso, eu não tinha dúvidas de que eu era uma mulher e queria viver como tal”, lembra.
Samantha morava com o pai, que sempre a aceitou como era, mas o processo, desde a autodescoberta, foi difícil para a jovem, que lutou contra crises constantes de ansiedade e depressão. Entre 15 e 16 anos, começou a usar maquiagem e a modificar as roupas que ainda eram masculinas, deixou os cabelos e as unhas crescerem. No segundo semestre do segundo ano do ensino médio, mudou o nome na escola, e ali tudo melhorou. “Eu me sentia mais livre”.
No terceiro ano, mais segura de si, fortalecida e madura, Samantha ia de salto para escola e ajudava pessoas que também lutavam com questões semelhantes. “Eu comecei a ajudar as pessoas mostrando quem eu era, e isso foi maravilhoso: poder fazer minha parte pela comunidade LGBTQ.”
Samantha faz questão de se apresentar como “uma mulher trans, travesti”. E assume a militância, lutando contra o assédio e reafirmando seu lugar de direito na sociedade. “Acho necessário. Pessoas morrem por isso, e preciso fazer a minha parte, lutar para que o mundo seja melhor.”
Ela tem acompanhamento psicológico desde nova e, com a ajuda do pai, o corretor de imóveis Lázaro Gregório, 56 anos, tem todos os documentos retificados, inclusive a certidão de nascimento. “Resolvi entrar na Justiça logo. Com essa onda conservadora que vivemos, tive medo que os direitos dela retrocedessem e não quis esperar ela fazer 18 anos”, conta.
Quando completar 18, Samantha vai começar o processo de transição com a hormonoterapia, mas afirma não ter vontade de fazer a cirurgia de redesignação por se sentir bem com o órgão sexual.
Lázaro afirma que, apesar de sempre ter acreditado que as pessoas têm o direito de ser quem são, se preocupa com a segurança da filha. “O mundo é cruel com quem é diferente, e nenhum pai deseja que seus filhos sofram, mas a obrigação de pai e mãe é estar ali, apoiar. Deus te deu para você cuidar”, reflete.
O pai ainda aproveita a oportunidade para celebrar o fato de ter uma filha livre para ser quem ela é. “Eu gosto muito de ser pai da Samantha. Acho muito legal o posicionamento dela no mundo, na escola, e de uma forma geral. O fato de ela existir da forma como existe, para mim, é incrível”, declara.
Dificuldade em se enxergar trans
O estudante Lucas Miguel Epaminondas Silva, 19 anos, percebeu que havia algo diferente por volta dos 5, 6 anos de idade, mas somente se reconheceu trans quando estava prestes a completar 18. O processo foi longo e, antes de se descobrir um homem trans, achou que era uma mulher lésbica. “Sabia que tinha algo que não se encaixava, mas não conseguia identificar o que era.”
Quando criança, sempre queria interpretar um menino nas brincadeiras. Os nomes que mais gostava de usar nesses momentos eram Lucas e Miguel. Na pré-adolescência, o incômodo e o desconforto pioraram, as características femininas começaram a aflorar e o incomodavam profundamente. “Eu me sentia um estranho, odiava vestidos e tudo o que se referia ao padrão de comportamento e à aparência que eu deveria ter. Eu me questionava ‘quem sou eu’ o tempo todo, porque não me enxergava naquela pessoa”, lembra.
Vivendo uma adolescência marcada pelo sentimento de não pertencimento, Lucas disse à família que era uma mulher lésbica, fato que não foi aceito. Por volta dos 14 anos, o jovem começou a ter crises de ansiedade e depressão e chegou a se automutilar. Quando a situação se tornou insustentável e até perigosa, ele e a família buscaram auxílio no Adolescentro, onde começou um processo de aceitação.
Aos 16 anos, viu o vídeo de um homem trans contando sua história e, finalmente, começou a se identificar e a se enxergar como quem realmente era. Com uma família muito fechada, ele só pôde começar a mudar as roupas depois de mais velho — e aos poucos. Escondia-se em camisetas e calças folgadas, o cabelo estava sempre na altura do ombro.
No ano passado, Lucas começou a usar o nome social e se assumiu para os amigos mais próximos. Foi somente aos 18 anos que começou o processo de transição, com a hormonoterapia e o bloqueio dos hormônios femininos. E, finalmente, pôde cortar os cabelos como sempre quis. “Tudo se tornou mais evidente quando fiz 18. Depois que comecei o processo, resolvi contar. Eu sofri demais, mas agora, que sei quem sou, quero ser feliz, me libertar.”
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