A primeira vez que a modelo pet Saphira, um labrador fêmea de 4 anos, doou sangue foi quase por acaso. Sua dona, a estudante Aléxia Torres, 22, foi a uma loja de bichos de estimação só para comprar um brinquedo e, lá, conheceu uma família. “Eles estavam desesperados procurando animais dispostos a doar sangue, porque a bolsa de sangue estava custando mais de mil reais e a cachorrinha deles estava muito mal”, relembra.
Um estudo realizado pela Associação Veterinária Britânica investigou como anda a conscientização dos donos de animais em relação à doação de sangue. A pesquisa indica que 70% dos proprietários nem sabem que cães e gatos podem doar. No entanto, 89% dos tutores declararam que estariam dispostos a deixar seu animal fazer parte da iniciativa se o processo fosse adequado.
No Brasil, profissionais garantem que a situação não é diferente, tanto que é comum a falta de sangue nos hemocentros veterinários. “A demanda é grande. Aqui na USP, contamos bastante com a ajuda dos animais de órgãos públicos, como dos cães vinculados à polícia. Mas a doação de pets domésticos ainda é pequena”, diz Denise Fantoni, médica veterinária e idealizadora do banco de sangue do Hospital Veterinário, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
Diante do desespero da família, Aléxia não pensou duas vezes. Informou-se sobre os critérios para doar e descobriu que Saphira estava apta, diferentemente de seu outro cachorro, Harley, um yorkshire, sem peso suficiente. Os cães devem ter pelo menos 25kg para fazer a doação.
Na hora, ela já sabia qual a decisão certa a tomar. Depois da primeira experiência, Saphira ainda doou sangue mais duas vezes. Denise explica que deve haver um intervalo mínimo de dois meses entre elas. Aléxia admite que não é um processo tão fácil. “Para o cachorro é um pouco complicado, porque não pode se mexer, leva mais ou menos meia hora, mas não machuca”, relata.
Seguro
O médico veterinário Marcio Barboza, gerente técnico pet da MSD Saúde Animal, explica que o desconhecimento vai desde a iniciativa até a forma como é retirado o sangue. “As pessoas nem sabem da possibilidade de poder ajudar um animal doente ou ferido e também sentem receio de causar sofrimento ao pet doador. Porém, quando realizado em um local apropriado, o procedimento é rápido, indolor e não causa mal ao animal”, explica.
A estudante garante: “Vale muito a pena. Você ver um bichinho que está à beira da morte melhorar porque você tomou a iniciativa não tem preço”, completa.
Com a dificuldade dos bancos de sangue animal, não se pode bobear com a saúde dos pets. “Algumas situações são possíveis evitar, como as doenças transmitidas por pulgas e carrapatos. Para isso, é necessário manter cachorros e gatos sempre com o controle de ectoparasitas atualizados, além da vacinação e vermifugação em dia”, alerta Barboza. Consultar o médico veterinário é sempre importante.
Onde ir
Em Brasília, o Hospital Veterinário da Universidade de Brasília é um dos lugares onde se pode doar sangue, mas muitas clínicas particulares também contam com bancos de sangue.
Requisitos para doação
» Tanto cães quanto gatos devem ter idade entre 1 e 8 anos, nunca terem recebido transfusão, serem dóceis, saudáveis, vacinados e com vermifugação em dia.
» O único critério diferente é que os cachorros precisam pesar, no mínimo, 25kg, enquanto os felinos, ao menos, 4,5kg.
Fonte: MSD Saúde Animal
Quem precisa receber sangue?
Segundo a veterinária Luana Sartoris, da Nutrire, vítimas de atropelamentos, de picadas de cobras, com intoxicações e com problemas renais e no pâncreas são as que mais necessitam de doação. “É fundamental que os tutores se informem sobre esse procedimento e contribuam para que possamos salvar mais vidas”, alerta. Muitos têm medo porque ainda desconhecem o procedimento. A ideia de dor e sofrimento para o doador é comum, mas completamente equivocada, conforme explica a médica.
Tipos sanguíneos
Assim como os humanos, todo animal tem uma tipagem e um fator tipo RH, ou seja, o processo de transfusão precisa ser entre pets de mesma espécie, mas independentemente da raça. “Enquanto nós temos sangues dos tipos A, B, AB e O, os gatos contam com três tipos sanguíneos; e os cães, 13”, conta Luana Sartoris.
Solidariedade retribuída
Além de praticar um gesto de amor e empatia, a iniciativa tem retorno para os donos dos animais. Antes da doação, os animais passam por um checape clínico gratuito para verificar se o bicho está apto a doar. São exames para verificar anemia, infecções e doenças como leishmaniose, verme do coração e aquelas transmitidas por carrapato. Para os gatos, o checape inclui, entre outras coisas, testes para a Imunodeficiência Viral Felina (FIV) e Leucemia Viral Felina (FELV).