Edu Reis aprendeu com o avô que lugar de homem é, sim, na cozinha. Cozinheiro de mão cheia, o militar, também chamado Eduardo Reis, ensinou ao neto o beabá dos temperos. Já a avó, outra craque das panelas, enxergou desde cedo o talento do garoto para a culinária e não admitia que ele seguisse outra profissão, se não a de chef. Mas, apesar de todo o incentivo, Edu demorou até se render à gastronomia.
Nascido em Brasília, Edu foi criado pelo pai, que morreu quando ele era ainda criança, e pelos avós, que o ensinaram não só a cozinhar, mas a cuidar de todos os afazeres da casa. Quando seu Eduardo morreu, Maria Gaspar dos Reis, ou simplesmente dona Quinhas, se mudou para Ibirá, cidade distante 40km de São José do Rio Preto.
Aos 19 anos, Edu acabou indo morar com a avó no interior de São Paulo, onde ingressou na faculdade de administração ; mesmo contra a vontade de dona Quinhas, que insistia que ele seguisse o caminho das panelas. Formado, foi trabalhar em um hotel e cursou uma pós-graduação em hotelaria, o que lhe permitiu fazer uma disciplina básica em gastronomia. ;No hotel, sempre que faltava alguém na cozinha, eu ia dar uma ajudinha;, lembra.
Edu trabalhou em uma associação de rede hoteleira, onde conheceu a ex-mulher, que é nutricionista. Foi ali que surgiu, em 2015, a ideia de abrirem um delivery de comida saudável. ;Ela criava os pratos, e eu os executava.; No mesmo ano, decidiram participar de uma batalha gastronômica promovida por uma escola de gastronomia de São José do Rio Preto, a Le Grand Chef. O campeão ganharia uma bolsa de estudos. A ex-mulher venceu e Edu ficou entre os oito mais bem colocados.
Como a administração da escola gostou do trabalho dos dois, eles passaram a fazer eventos para a Le Grand Chef, e Edu cursou algumas disciplinas extracurriculares. Na mesma época, a avó morreu e ele viu que era chegada a hora de realizar o sonho dela. Abriu, com a sócia, um bistrô na casa da matriarca, em Ibirá, e passou a comandar a cozinha. A pegada também era de uma culinária saudável, sem uso de industrializados ou gordura. Batizou o restaurante de Quinhas.
Em 2016, Edu voltou a participar da batalha gastronômica. Desta vez, terminou em quarto lugar. Mas no ano seguinte, com o fim do casamento, decidiu desfazer a sociedade no restaurante e dar um novo rumo, tanto à vida pessoal quanto à profissional. Como tinha uma tia que trabalhava no Consulado do Brasil no Porto, decidiu se mudar para Portugal e fazer um curso de extensão em gastronomia na Escola de Turismo do Porto. Antes, passou duas semanas em Madri, onde estudou técnicas gastronômicas na Le Cordon Bleu espanhola.
Profissionalização
Sempre ativo, logo que chegou a terras lusitanas, o brasiliense decidiu que, além de estudar, ia se virar para ganhar um dinheiro extra ; e, sobretudo, experiência. A tia começou a divulgar o trabalho do sobrinho entre os colegas do consulado, e Edu passou a fazer pequenos eventos como personal chef. Um dia, durante um passeio pelo shopping de Matosinhos, distrito do Porto, resolveu deixar o currículo em alguns restaurantes. ;Acabou que uma casa brasileira, a Fogo de Chão, me chamou para trabalhar.;
Assim, durante todo o curso ; que, por conta das disciplinas que tinha feito no Brasil, durou pouco mais de um ano ;, Edu trabalhava no restaurante e fazia pequenos eventos para brasileiros. ;Foi um grande aprendizado;, atesta. Concluída a escola, o brasiliense tinha recebido o título de chef com o qual a avó tanto sonhou.
Em julho de 2018, Edu voltou para o Brasil, mais especificamente para Brasília, onde mora a mãe. Em menos de um mês de nova residência, surgiu uma oportunidade de emprego na Berlim Pães e Cozinha, no Lago Sul. ;Tive que estudar muito, porque não conhecia quase nada da gastronomia alemã. Só sabia o que era joelho de porco e salsichão;, diverte-se.
Logo que entrou no restaurante, Edu passou por um desafio: precisava preparar um menu para o Restaurante Week ; os pratos, com o fim do festival, acabaram incorporados ao cardápio. O chef também criou outras receitas e ficou à frente da cozinha por mais de um ano, até agosto deste ano.
Foi quando recebeu o convite do então chef do Doma Rooftop, Fábio Marques, para ser seu subschef no restaurante que tinha acabado de abrir as portas na orla do Lago Sul. Edu nem pensou duas vezes. Pouco tempo depois, em setembro deste ano, com a saída de Fábio, assumiu o comando da cozinha da casa. A sua missão: dar uma identidade para o lugar.
;Nosso cardápio é essencialmente mediterrâneo e contemporâneo. A maior parte dele é formado por frutos do mar, mas oferecemos também risotos, carnes e até pratos veganos;, detalha. ;Como Doma significa casa em grego, batizamos os pratos à la carte com ilhas gregas; os executivos, com batalhas gregas; e as sobremesas com deuses gregos.;
A receita que o chef compartilha com os leitores fará parte desse novo cardápio e é ideal para compartilhar. Aos poucos, Edu foi trocando o menu e, a partir da próxima semana, ele estará completamente reformulado, com a cara do novo chef. Do jeitinho que dona Quinas sonhou!
Mar Naxos
Ingredientes
- 4 camarões grandes e limpos
- 200g de filé de salmão
- 6 anéis de lula
- 2 tentáculos de polvo
- 100g de mexilhões
- 8 patas de caranguejo empanadas
- 8g de páprica defumada
- 1 limão-siciliano
- Azeite, manteiga, pimenta-do-reino e sal grosso a gosto
- 50g de farinha de trigo
- 10g de farinha panko de pistache
- 1 ovo
Modo de fazer
- Limpe bem todos os crustáceos.
- Banhe o polvo e os mexilhões em azeite e leve ao forno por aproximadamente 50 minutos. Em seguida, deixe-os resfriar por uma hora.
- Em uma frigideira com manteiga e azeite, saltei os camarões, a lula, o polvo e os mexilhões e tempere com páprica, sal grosso e pimenta-do-reino batidos no liquidificador. Quando estiver quase seco, regue com limão siciliano. Reserve.
- Em outra frigideira, sele o salmão no azeite.
- Empane as patas de caranguejo. Primeiro passe no ovo batido, depois na farinha de trigo e, por último, na farinha panko de pistache. Repita o procedimento mais uma vez e passe em olho fervente.
- Monte todos os ingredientes em um prato grande. Serve de duas a três pesoas.
Serviço
Doma Rooftop Restaurante
SHTN Trecho 1, na orla do Lago Paranoá
Telefone: 99219-4211