;Embora a barbárie campeie, causando estragos irreparáveis à saúde física, psicológica e integral da população negra, excluída, pobre e brasileira, embora o ;espetáculo; diário seja dantesco, que é o mesmo que infernal, ainda tem gente que quer que a gente desenhe. Não é o filho da casa-grande que é baleado ao ir para o colégio dentro do transporte escolar ou do bairro. Para os que ainda querem que desenhemos, lá vai: não é coincidência.
Se o menino ou a menina assassinados ostentassem pomposos nomes, ricos berços e claras peles, o assunto logo atingiria o patamar de catástrofe. A palavra bandido rapidamente seria trocada por ;adolescente; e, em vez de ser visto como monstro, logo alcançaria o status de vítima. Embora seja branco, alvo, o branco não é alvo da polícia e não está nas cadeias e tampouco é a cor dele que se vê no transporte público lotado.
Sabemos que o estrago racista produz uma cascata de danos. Então conclamo os corajosos, os que sabem separar sua religião da intolerância com as outras para que não desistam. Essa crônica é para o professor que é budista, mas tem a coragem de estudar e ensinar a cultura do candomblé e sabe que esta é tão importante quanto o ensinamento da mitologia grega. Quando podemos estudar sem preconceito nossa ancestralidade, fortalecemos toda a sociedade.
Dentro da sala de aula, com estratégica sabedoria, podemos enriquecer muito a subjetividade. O que nos foi contado pune os índios, desrespeita e assassina os negros e coroa os vilões. Repito e o faria mais dez mil e seiscentos e trinta e nove vezes: o racismo é crime e está engendrado na linguagem, no ensino público, nos podres poderes, na cabeça de muitos por aí. Então, pare de sujar diariamente suas mãos.
Pesquisemos. A palavra Inhaca, por exemplo, usada para se referir à sujeira, ao mau cheiro, é, na origem, o nome de uma ilha em Moçambique. Chega. O desenho está feito. Se você olhar com muita atenção para o que tem no desenho, vai ver no fundo um aglomerado formado por aparentemente invisíveis letras. Fique atento, aprenda com urgência e com paciência e já verás: neste desenho, ao fundo, está escrito Quilombo Resistência!”
Elisa Lucinda, uma das mulheres mais incríveis que já tive o prazer de conhecer, escreveu esse artigo que público hoje em homenagem a todos os Zumbis que resistem por aqui.