Jornal Correio Braziliense

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Imunização total

Hoje, a rede pública só disponibiliza vacina para um dos cinco sorogrupos da meningite, doença com maior incidência na infância. Obter a proteção completa ainda é muito caro

Siena, Itália ; Rara e com maior incidência na infância, a meningite pode ser causada por bactérias de cinco sorogrupos: A, B, C, W e Y. Desde 2010, a imunização para o tipo C está no calendário de vacina do Sistema Único de Saúde (SUS), mas, segundo o Ministério da Saúde, a adesão a ela ainda está abaixo do esperado. Mesmo assim, ainda segundo o órgão, foi possível diminuir a incidência da doença em dois terços.

Existe outra vacina que conjuga os sorotipos A, C, W e Y e uma separada para o tipo B, mas elas ainda só estão disponíveis em clínicas privadas e por um preço nada acessível. Além disso, elas costumam faltar, mesmo no serviço particular, quando a procura fica grande demais, especialmente se há aumento de incidência da doença.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a meningite mais prevalente no Brasil ainda é a causada pela bactéria C, responsável por 55% dos casos da doença, o que justifica o oferecimento de tal imunização pelo serviço público de saúde. No entanto, estão aumentando os casos da doença causada pelos outros sorotipos.

Desde o ano passado, o Ministério da Saúde estudava incluir a vacina quadrivalente ACWY (conjugada contra os quatro sorotipos) no calendário de vacina nacional do SUS. Neste ano, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm) anunciou que o SUS, finalmente, a incorporaria, mas não há previsão para elas estarem de fato disponíveis.

Em um evento da SBIm, em abril, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do órgão, Carla Domingues, explicou que a decisão governamental esbarra em uma limitação da indústria. No primeiro pregão realizado pelo ministério, no ano passado, para receber propostas de interessados em vender o imunizante, não houve interessados. ;O ministério já deu autorização e teremos a verba. Agora, só falta laboratório para produzir;, explicou ela na ocasião.

A bióloga Noemi Caro, chefe da unidade de processo de fabricação de embalagens e armazém em Rosia (Itália), da farmacêutica GSK Vacinas no país, explica que cada lote de vacina passa por um longo processo até ser liberado e alcançar os consumidores.

;São muitas variáveis. Todos os lotes são iguais, mas são muitos passos para garantir que são mesmo iguais: identificação dos antígenos; transformá-los em vacina; avaliar a segurança e a eficácia, o registro e a aprovação; garantir a purificação da bactéria; preencher as injeções e inspeções; embalar e, por fim, liberar;, enumera. Por isso, ainda que a empresa entregue cerca de 2 milhões de dose por dia a 158 países, é comum a falta de abastecimento quando há crises de uma doença e tanta gente procura a vacina. ;Nós não conseguimos prever tão bem essa demanda repentina;, afirma.

A repórter viajou a convite da farmacêutica GSK Vacinas