O festival começa na próxima terça-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, e a programação se estende até 24 de novembro ; com a exibição de 38 produções de 20 países participantes, escolhidas entre os 1.066 inscritos. Os temas são variados: amor, esporte e arte são alguns exemplos. Porém, o protagonismo das pessoas com deficiência é critério primordial nas exibições.
A existência do Assim Vivemos já estimulou a presença dessa parcela da população na produção cinematográfica, e o número de inscrições de filmes com essa característica no Brasil evoluiu bastante. ;Com a proposta do projeto, nós esperamos modificar a visão das pessoas e diminuir essas barreiras, tanto de acessibilidade com relação à atitude e ao preconceito quanto aos ambientes ; fisicamente nas cidades e de inclusão no mercado, nas escolas e nas universidades;, defende a fundadora e curadora do festival, Lara Pozzobon.
Acessibilidade
No projeto, a inclusão é um fator primordial dentro e fora das telonas. O Assim Vivemos é o primeiro festival de cinema no Brasil a oferecer acessibilidade para pessoas com deficiência visual ; disponibilizando audiodescrição em todas as sessões e catálogos em braille ; e auditiva ; com legendas inclusivas nos filmes e interpretação em Libras nos debates.
A servidora pública Maíra Bonna Lenzi tem deficiência auditiva bilateral severa profunda de nascença e comparece ao evento desde a primeira edição, em 2003. Ela já participou uma vez como debatedora e incentiva fortemente os amigos a prestigiarem. ;O festival oferece recursos de acessibilidade, tema que ainda é uma luta diária para as pessoas com deficiência que aspiram por cultura, como eu. Em qual situação, além desta, eu tenho legendas em tempo real em qualquer evento cultural?;, questiona.
Para ela, um evento como esse é fundamental por diversos motivos, e um deles é a representatividade. ;Ainda não vemos muitos de nós em telas de cinema, no teatro, em novelas e em manifestações culturais em geral. Observamos em muitos dos documentários exibidos no projeto potenciais atrizes, atores, diretores e fotógrafos, que poderiam estar inclusos em um meio não exclusivamente para pessoas com deficiência.;
A servidora pública acredita que ainda existe muito preconceito quando o assunto é deficiência. ;No caso da surdez, por exemplo, ainda existe a visão de que surdo é mudo. Não somos mudos, nós falamos, seja em língua portuguesa, seja em Libras. Nós temos voz, não somos calados;, defende.
Maíra ainda completa: ;Hoje, ações como o desenho universal, as tecnologias assistivas, a reabilitação e a sensibilização da comunidade fazem com que qualquer um de nós possa ser representante, com dignidade, dessa sociedade. A luta é diária, mas, aos poucos, plantamos sementes para que possamos colher, hoje, os frutos;.
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Contando a própria história
Durante os dias de festival, serão exibidos filmes feitos por e com pessoas com deficiência. O documentário autobiográfico Meu nome é Daniel é uma das 32 produções apresentadas durante os dias de programação. O diretor e protagonista, Daniel Gonçalves, é o primeiro no Brasil que tem alguma deficiência a dirigir um longa-metragem sobre a própria vida.
Para ele, é primordial que o protagonismo dessa parcela da população se expanda também nos bastidores do cinema. ;É muito significativo, porém muito triste, ocupar essa posição sozinho. Eu espero que esse número aumente e que possamos ter voz. É muito importante que sejamos capazes e tenhamos espaço para contar as nossas próprias histórias, além de sermos retratados;, acredita.
O enredo do documentário acompanha o desenvolvimento de Daniel e a busca dele por um diagnóstico, que até hoje não foi encontrado. Ele tem uma deficiência de origem desconhecida que afeta a coordenação motora. ;É uma história sobre como é ter deficiência, conviver com ela, desconstruir os conceitos do que é ser ;normal; e também sobre a importância da família nesse processo;, explica o protagonista.
A produção foi lançada no último mês, mas gravada em 2018. Desde a produção, o filme já passou por cerca de 15 festivais e ganhou cinco prêmios. ;Eu fui jurado do Festival Assim Vivemos em 2015, e apresentar um filme nesse projeto, para mim, é muito significativo. É o festival mais antigo e que reúne nomes muito importantes e passa por grandes capitais do Brasil;, ressalta.
O Assim Vivemos já passou pelo Rio de Janeiro e, após as exibições em Brasília, segue para São Paulo. Além dos filmes, o projeto promove debates com temas como inclusão pela arte, família e estímulo, autismo e moradia assistida e duas oficinas. Veja a programação completa no site do caderno Diversão & Arte.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte