Silvana Sousa*
postado em 22/10/2019 12:00 / atualizado em 18/06/2022 14:48
Rugas, linhas de expressão, cabelos brancos. As marcas do tempo, que antes assustavam a maioria das mulheres, hoje as empoderam. Os crescentes movimentos feministas trouxeram à tona não apenas questões de liberdade, mas também mudaram a forma como elas encaram a vida e a idade.
A psicóloga Débora Porto explica que a relação da mulher com o envelhecimento é definida pelo contexto no qual foi criada. Isso porque, desde o nascimento, é desenvolvido um entendimento sobre o que é ser mulher, como se comportar e o que espera dela. “À medida que a idade avança, essas vivências se tornam mais fortes. Caso essa mulher tenha uma visão negativa sobre o papel social que desempenha, provavelmente lidará com a idade de forma sofrida. Se entende como um processo natural, a tendência é que encare a idade como aliada.”
Por esse motivo, a idade para a mulher ainda é baseada na dualidade negativa e positiva, pois a visão da idade ainda está sob processo de mudança. Sendo assim, o envelhecimento da mulher pode ser um fator desencadeante para crises de autoestima. “No envelhecimento, a mulher começa a ir na contramão do que se espera socialmente dela, uma tríade cruel de jovialidade, beleza e saúde. Há mudanças corporais e a experimentação dos efeitos da passagem do tempo perante o espelho.”
Para não deixar que essa visão negativa impacte na qualidade de vida da mulher madura, a psicóloga defende buscar autoconhecimento. “É importante dedicar mais tempo para si e trazer vivências que favoreçam a construção de saberes sobre o natural da mulher, como menopausa, desaceleração do trabalho e entender que, enquanto há saúde, há espaço para mudanças. É preciso se permitir a experiência de lidar com a novidade, seja ela qual for”, orienta.
Mas a visão da passagem do tempo para a mulher vem sendo cada vez menos um motivo de angústia, para se tornar um fator de empoderamento. É o que garante a filósofa e mestra tantra Carol Teixeira, que tem a feminilidade como um dos principais pilares de seu trabalho. “As mulheres estão mais seguras com o passar do tempo. Lidam com questões profissionais, amorosas e de autoestima que vêm junto à idade com muito mais naturalidade.”
Para a mestra, a negatividade da idade em relação à mulher é resultado de uma construção patriarcal sobre o papel dela no contexto social. “As mulheres estão mudando sua visão social, e essa transformação traz consigo o desprendimento da obsessão pela jovialidade. Sem dúvidas, esse desapego às amarras sociais está tornando-as mais realizadas, pois atingem um estado de autoconhecimento e abraçam a idade.”
Não se engane, porém: a aceitação da passagem do tempo não é sinônimo de descuido. Elizabeth Bouhana, diretora científica da L’Oreal observa que, cada vez mais, as mulheres buscam envelhecer com qualidade e, por isso, redobram os cuidados ainda mais novas. “Cuidar mais da pele é uma tendência, existe a conscientização que o rosto jovem um dia envelhece, e essa compreensão traz cuidados, a aplicação de um creme antes de dormir ou a lavagem do rosto todas as manhãs”, aponta.
Maturidade bem recebida
Com o pé nos 50 anos, Lílian Neuberger Guimarães, 47, se define como uma mulher que não tem medo de envelhecer. O espírito aventureiro a levou a mudar de vida justamente no período em que a sociedade pede que tenha uma vida estável: após os 30.
A empresária deixou um emprego fixo em Curitiba e se mudou para Brasília, com o marido e os dez cachorros, para empreender. O conhecimento adquirido como o passar do tempo foi o que mais a encorajou. “A idade chegava com seus desafios e eu encarava todos de frente, sem medo e como boa ariana que sou. Trabalhava com turismo e, depois de alguns processos de autoconhecimento, resolvi investir na área de desenvolvimento pessoal e profissional de pessoas e empresas. Depois disso, estudei outras alternativas de empreendimentos e hoje toco três empresas diferentes e nada complementares”, conta.
Lílian sempre foi uma mulher cuidadosa e, com o chegar dos 40, eles apenas se intensificaram. “Desde que apareceram, nunca pensei em pintar ou esconder meus cabelos brancos. Assumo meus brancos, que ainda são poucos, e todas as marcas que o tempo quer colocar no meu rosto e corpo. Também há beleza neles.”
Mas o principal, para ela, foi o discernimento que veio com a idade e que, segundo ela, foi um fator de empoderamento, que a fez ser ainda mais dona do próprio nariz. “Acredito que a maturidade fez eu me importar menos e me impor mais. Sei que sou boa no que faço, aliás, sempre busquei a excelência em tudo o que fiz, e posso mudar de rumo quando quiser, pois sei que tenho competência para isso.”
Envelhecimento e holofotes
Durante um evento da L’Óreal Paris, no Rio de Janeiro, no mês passado, as atrizes Cláudia Raia e Tais Araújo e as apresentadoras Fátima Bernardes e Fernanda Gentil, comandaram um talk sobre idade e empoderamento, compartilhando suas vivências, principalmente levando em consideração o contexto midiático no qual estão inseridas.
Para Cláudia Raia, o limite de idade é imposto e não condiz mais com a mulher atual. “A mulher de 50 anos de hoje não é a que está nos livros. Ela trabalha, sai com as amigas, comanda a casa e é muito mais dona de si. Ainda vejo mulheres chegando a essa idade infelizes, pois acreditam que não podem mais mudar, pois a sociedade as julga. Isso já está mudando, e passou da hora de nos empoderarmos e acreditarmos que a vida após os 50 é engrandecedora.”
Já a apresentadora Fátima Bernardes apontou a idade com um dos fatores pelos quais as pessoas as questionaram quando decidiu mudar de carreira. “Minha inquietação, na verdade, foi o contrário, meu medo era de que o tempo passasse ainda mais e eu não conseguisse embarcar nos projetos que sempre quis. A minha única preocupação não era estar velha demais para trocar de profissão, mas, sim, não conseguir fazer isso sem desqualificar os 25 anos de trabalho que construí no jornalismo.”
Fernanda Gentil também endossou a questão da liberdade de fazer escolhas e a pressão social que a sociedade ainda exerce sobre as mulheres com relação à idade. “É cruel classificar as pessoas pelo que se vê por fora. A alma diz mais sobre as pessoas, e é o interior que deveria nos qualificar.”
"A minha única preocupação não era estar velha demais para trocar de profissão, mas, sim, não conseguir fazer isso sem desqualificar os 25 anos de trabalho que construí no jornalismo"
Fátima Bernardes, apresentadora e jornalista
"A mulher de 50 anos de hoje não é a que está nos livros. Ela trabalha, sai com as amigas, comanda a casa e é muito mais dona de si"
Cláudia Raia, atriz
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte