postado em 20/10/2019 04:10
[FOTO1]A arquiteta Alexandra Reschke, 56 anos, tem uma história impressionante de sucesso com o tratamento de câncer de mama. Sempre foi alguém que inspira esperança em outros pacientes. Apesar de muita gente ter desacreditado nas suas chances de cura, ela permaneceu confiante. E venceu a batalha. Um dia, uma pessoa entrou em contato com ela: ;Olá, sou paciente do mesmo médico seu. Estou com câncer de mama. Queria conversar;. Era Rosângela Corrêa, 58, antropóloga, que recebeu como resposta um convite para ir à casa de Alexandra. Ali, deu-se início a uma grande amizade.
Alexandra recebeu o diagnóstico no início de 2015, já com metástase no pâncreas, no fígado, na coluna, nas linfas e no pulmão. ;Eu tinha dores, falta de ar, mas depositava na conta do estresse;, relembra. Por instinto, quando decidiu, finalmente, ir ao médico, foi direto ao oncologista e já ficou internada. Liberada da internação, se recolheu para refletir no que faria a partir de então. Os amigos e familiares, sabendo que a arquiteta nunca gostou de alopatia, tinham medo de que ela não aceitasse o tratamento. Depois de três dias meditando, chegou à conclusão: ;Eu não deveria excluir, mas integrar;.
Uma das principais mudanças que a arquiteta fez foi na alimentação. Já se alimentava bem, mas decidiu radicalizar em algumas coisas. Cortou sal, açúcar e tudo o que, no metabolismo, se transformaria em açúcar, como carboidratos ; já que os tumores de alimentam da insulina produzida por ele no nosso corpo. Tirou a carne da dieta e tudo que deixaria o sangue dela mais ácido. E, nas vésperas da quimioterapia, só tomava suco prensado. ;O objetivo era que meu corpo, naqueles dias, focasse só na cura e não na digestão;, justifica.
A acupuntura, com a qual já estava acostumada, deixou de funcionar para ela. Sentia muita dor com as agulhas. Mas continuou com o reiki e abriu o coração para coisas novas, como terapia craniossacral, cromoterapia, da qual antes duvidava, e um chá, da raiz de uma planta do cerrado. A recomendação veio de um kalunga, que garantiu que a mãe havia curado um menino de 7 anos. Alexandra abraçou a ideia de coração aberto. Tudo isso aliado ao tratamento médico tradicional.
Tratamento
Para o caso dela, havia anticorpos monoclonais que poderiam ser usados de forma exclusiva. No entanto, como o câncer já estava avançado e espalhado por outros órgãos, o protocolo incluiu também a quimioterapia. Depois de sete semanas, foi evidenciada uma redução de 50% nos tumores de Alexandra. Motivo para comemorar.
Foi então que a paciente decidiu exercer o poder de escolha dela e pediu à médica que tirasse os quimioterápicos e continuasse só com os anticorpos. Para a oncologista especialista em câncer de mama Patrícia Werlang Schorn, a prescrição oncológica não deve ser unilateral, mas bilateral: ;O paciente tem que entender e aceitar. Se não aceita, não é feito. Devemos respeitar a dignidade do paciente, e se ele não quer algo mais agressivo, não há como forçar. O que não podemos é privá-lo do melhor recurso. É importante, no entanto, saber que não se substitui um tratamento por outro. Eles são complementares;.
No caso de Alexandra, com mais dois meses de tratamento, quase 100% dos tumores haviam desaparecido dos exames. Inspirada pela história de Alexandra, Rosângela decidiu que queria também despender o mesmo esforço e a mesma garra que a nova amiga. ;Ela foi uma referência pra mim, em um momento em que eu estava fragilizada;, relembra. A mãe da antropóloga já havia tido câncer de mama, o que fez com que Rosângela fizesse exame preventivo com frequência. Até que recebeu o diagnóstico.
Ela descreve o que viveu no início como ;a via-sacra do câncer;. Foi a vários médicos e queria que explicassem por que era necessária cada uma das terapias. ;Eles só diziam que era o protocolo;, relembra. Até que encontrou uma profissional que acreditava que a radioterapia poderia ser suficiente, e explicou bem o seu ponto de vista.
Além do tratamento médico protocolar, Rosângela, resolver fazer mudanças na rotina, inspirada por Alexandra. ;Os chineses não dizem que pela boca se adoece e pela boca se cura? Então, também mudei minha alimentação. Foi difícil, mas a gente tem que saber o que quer. Não dava pra eu ficar reclamando da dificuldade. Tinha que fazer;, arremata.
Em comum, as duas descobriram muitas coisas, além da vontade de viver. O amor pelo cerrado, a vida atarefada e estressante antes do câncer, a vontade de mudar o mundo por meio do trabalho. ;O câncer foi um grande amigo. Fez eu me permitir parar, me reconectar comigo, com a feminilidade, com a natureza, que é a grande mãe;, emociona-se Alexandra.
Para toda a vida
Rosângela concorda e afirma que ele causou uma mudança de comportamento nela: ;2014 foi o ano mais difícil na minha agenda. No fim do ano, estava cheia de pendências para 2015. Eu decidi que aproveitaria as cachoeiras daqui de perto, caminharia mais ao ar livre, e tudo isso foi um elemento de cura pra mim;.
Do tratamento do câncer para uma amizade. E de uma amizade para uma parceria de trabalho: Alexandra está prestes a lançar o livro A flor da cura, em novembro, sobre sua trajetória de tratamento. Ela ressalta que a ideia da publicação não é falar para que as pessoas sigam os passos dela, faça como ela fez, mas que descubram por si o caminho que querem percorrer: ;Sejam protagonistas do seu tratamento, da sua cura;.
Com o texto pronto, há alguns meses, teve a ideia de convidar Rosângela para revisar: ;Ela é cientista, pesquisadora, orienta trabalhos acadêmicos o tempo todo;. A antropóloga aceitou e pôde dar dicas, tanto por tudo que já fez na carreira quanto por já ter passado também pelo câncer de mama.
Imunoterapia
A oncologista Patrícia Werlang Schorn afirma que, atualmente, vive-se uma era nova, a da imunoterapia. ;Conseguiu-se desenvolver o reconhecimento de algumas proteínas específicas da célula do câncer e usar contra elas um anticorpo construído especificamente para agir contras as células dele;, afirma. Além disso, existem algumas medicações que permitem o reconhecimento da célula do câncer pelo próprio sistema imunológico do paciente, e esse é o maior avanço na oncologia.