Ensinados por médicos, bombeiros, socorristas, enfermeiros e uma série de outros profissionais de saúdes, os procedimentos de primeiros socorros salvam vidas. Ações básicas para agir em casos de emergência fazem toda a diferença na recuperação do paciente. E a mesma lógica dos humanos pode ser aplicada aos animais. Os pets também estão sujeitos a uma série de situações de risco que requerem pensamento rápido e ágil por parte dos tutores para garantir a saúde e a integridade física do melhor amigo.
Engasgos, queimaduras, choques e afogamentos são alguns dos exemplos que exigem a atenção dos tutores. A médica veterinária Lorena Andrade Nichel ressalta que reações alérgicas, intoxicação e traumas, como atropelamentos, também estão entre os acidentes mais comuns.
A maioria dos acidentes acontece no ambiente familiar, e os tutores costumam ser os primeiros a socorrerem os pets. Para isso, no entanto, é necessário que sejam tomados alguns cuidados para garantir a segurança do animal e dos humanos.
Veterinário e docente do Centro Universitário de Brasília, Bruno Alvarenga ensina que é fundamental que a pessoa se proteja antes de socorrer o animal, evitando, assim, novos acidentes. ;Muita gente sai correndo para socorrer um bichinho atropelado e acaba sendo atingido também;, exemplifica. Ao socorrer animais de rua, há ainda o risco de contaminação do humano e dos animais que ele tenha em casa. De uma forma geral, aos prestar os primeiros socorros, também é importante não apertar o animal e não dificultar a respiração. Cada caso, no entanto, pede um tipo de abordagem (veja quadro).
Lorena afirma que manter a calma é tão importante ao ajudar os pets quanto é com humanos. Ela recomenda que os tutores liguem para a clínica avisando sobre a emergência para que uma equipe esteja pronta para fazer o atendimento. E ressalta que a rapidez no socorro é muito importante.
;Sem dúvidas, a primeira hora após o acidente é a mais importante para o animal, afinal, é nesse período que as manobras e os tratamentos são tomados para salvar a vida do pet, portanto mais decisivas para o quadro geral do paciente;, completa.
Bruno explica que existe uma diferença técnica entre urgências e emergências e que isso pode influenciar na abordagem do veterinário. De uma forma geral, a emergência é quando o paciente corre riscos graves se não for atendido em questão de segundos a minutos. Já no caso das urgências, o tempo pode ser de horas a dias.
Atenção ao comportamento
Nos casos de traumas ou acidentes em casa, principalmente quando os tutores não presenciam o momento, é importante estar sempre atento ao comportamento e aos hábitos do animal. ;Observar com delicadeza maior as alterações comportamentais dos pets é um fator determinante. O tutor pode perceber que algo está errado antes mesmo de consequências mais graves apareceram.;
A psicóloga Niely Gonçalves Fonseca, 32 anos, passou por um grande susto com a labradora Safira, 7 anos. Ela levou um choque e apresentou mudança de comportamento e tremores. Em maio deste ano, Safira curtia um de seus habituais passeios com o pai humano, o trabalhador informal Jonathan Augusto Ferreira Feitosa, 28, quando gritou e saiu correndo. No momento do choque, ela estava em um espaço próprio para cães, perto do condomínio em que a família mora, e cheirava alguns pequenos arbustos.
Inicialmente, a família achou que ela tinha sido picada por algum bicho e suspeitou de um escorpião. Em casa, Niely e Jonathan começaram a analisar Safira, em busca de uma picada ou marquinha que mostrasse o que poderia ter acontecido.
Jonathan voltou ao lugar para procurar um possível inseto e também levou um choque elétrico ; só assim o casal descobriu o que tinha acontecido. ;Pelo grito dela, achamos que tinha sido um escorpião mesmo, nunca iríamos imaginar que era um choque;, conta Niely.
As unhas de Safira ficaram esbranquiçadas, o focinho perdeu coloração e a cadela estava ofegante e com comportamento assustado, o que preocupou os tutores. Depois de esperar cerca de 10 minutos para ver se ela se acalmava ou normalizava o comportamento, eles optaram por ir ao veterinário. ;Pensamos que podia ser só o susto, mas ela encolhia as patas quando a gente tentava pegá-la e isso nunca tinha acontecido;, lembra Niely.
No veterinário, foi confirmado que a labradora tinha sofrido uma descarga elétrica, ela teve desvascularização das unhas e começou a ter espasmos musculares, apesar de os batimentos cardíacos estarem normais. Os exames estavam dentro do esperado, mas Safira mudou o comportamento de forma brusca. Antes carinhosa e simpática, se tornou fugitiva, assustada e evitando contato com humanos e outros animais. Diante do quadro, ela foi levada ao neurologista.
Hoje, faz acompanhamento e toma dois remédios e uma vitamina. Com as medicações, a labradora voltou ao comportamento normal. Por causa do choque, ela perdeu algumas unhas e as outras ainda estão fracas. A vitamina que ela toma tem como objetivo acelerar o crescimento da película protetora dos nervos próximos às unhas. O tratamento de acupuntura de Safira está nos planos da família.
Além de Safira, o casal tem Jessie, um vira-lata de 2 anos, e afirma que a atenção com os animais foi o que fez toda diferença no caso de Safira. ;Precisamos ter consciência de que eles dependem de nós e estar atentos a tudo que pode acontecer com eles;, afirma Niely.
A psicóloga defende que os tutores se informem e aprendam a reconhecer os sinais de que os animais não estão passando bem, além de saber sobre manchas, machucados e mudanças nos hábitos. ;O cachorro não fala, mas vai dar os sinais. E é necessário que cada tutor aprenda a reconhecer isso, a vida dele depende de você.;
"Precisamos ter consciência de que eles dependem de nós e estar atentos a tudo que pode acontecer com eles"
Niely Gonçalves Fonseca, psicóloga
Como agir em caso de emergência
- Se presenciar um acidente, como atropelamento, nunca pegue o animal diretamente. Use cobertores, camisas, toalhas ou casacos. O animal pode ter alguma zoonose.
- Ao ajudar um animal de rua que passou por um trauma, nunca o leve diretamente para casa, ele pode ter doenças e contaminar os animais da casa. Vá direto para uma clínica.
- Se seu pet foi atacado ou ferido e teve exposição das vísceras, enrole uma toalha úmida no ferimento e corra para o hospital.
- Se o animal foi envenenado, os veterinários não recomendam que os donos induzam o vômito em casa. Algumas substâncias que são usadas na indução podem piorar o quadro se administradas de forma incorreta. O ideal é que apenas profissionais de saúde façam a indução.
- O leite pode ajudar contra o envenenamento, mas somente no caso de substâncias que são atraídas pela gordura do leite. Caso contrário, o leite ou a água podem facilitar a absorção do veneno pelo organismo.
- Caso o pet seja picado ou mordido por um animal peçonhento, tente levar o inseto ou animal se for seguro. Caso contrário, fotografe. Isso facilitará o cuidado do veterinário
- Em casos de engasgo, nunca coloque a mão na boca do animal, seu dedo ou mão pode ser mutilado ou lacerado.
- Tente acalmar o animal e vá para o hospital. O veterinário Bruno Alvarenga ressalta que o melhor é sempre a prevenção, evitando que o animal ande sem guia e sem deixar ao alcance objetos que podem causar o engasgo.
- No caso de queimaduras, jogue água fria imediatamente e vá ao veterinário.
- Os cães braquicefálicos têm mais propensão a apresentar hipertermia ; superaquecimento do organismo. Se o animal demonstrar dificuldades, meça a temperatura via retal e, caso esteja acima de 39;C, dê um banho frio no pet.