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Além das propriedades terapêuticas, o mel tem sido um aliado de quem busca comer menos açúcar. Mas nutricionistas alertam para alguns cuidados


Um dos alimentos mais antigos da humanidade, o mel pode funcionar como medicamento e também tem poderosas propriedades preventivas que ajudam a aumentar a imunidade. Mas, muito além dos benefícios à saúde, caiu no gosto de quem tenta retirar o açúcar tradicional da dieta, tornando-se um aliado da vida fitness.

A consultora nutricional da Farmacotécnica, Jamile Romão, explica que a popularidade do mel no mundo fitness se deve ao fato de ele ser altamente energético, já que é composto, basicamente, por carboidratos, frutose e glicose.

No que diz respeito aos benefícios à saúde, o alimento conta com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e bactericidas. Ele é usado como coadjuvante ao tratamento de doenças dos tratos respiratórios, como gripes e resfriados, além de dores de garganta. Os grandes compostos responsáveis por isso são a quercetina e o ácido gálico.

O nutrólogo Allan Ferreira, do Hospital Santa Lúcia, explica que o mel é composto por 20% de água, frutose, sacarose e outros açúcares, sendo rico em vitaminas e sais minerais. A composição detalhada do mel pode sofrer alterações a depender de alguns fatores, entre eles o tipo de abelha que o produziu, a flor, a região de produção e as condições climáticas.

Cuidado!

Apesar de ser considerado um alimento saudável e que traz benefícios para o organismo, alguns cuidados são necessários no que se refere ao consumo de mel. Jamile alerta que crianças abaixo de 2 anos não devem ingeri-los. Entre os riscos, há a possibilidade de contaminação pela toxina botulínica, além de ser um produto com altas doses de açúcares.

Pessoas com diabetes e com alterações no controle de insulina também devem evitar o mel. Para quem não tem nenhuma contraindicação, ainda assim, é necessário cuidado, uma vez que é considerado um tipo de açúcar em termos nutricionais.

Além dos cuidados referentes à ingestão, o consumidor deve estar atento para não comprar mel falso ou adulterado. Nesses casos, segundo Jamile, é adicionado algum tipo de açúcar caramelizado ou glucose de milho. ;Os produtos mais usados na adulteração são xarope de milho, xarope de açúcar, xarope de açúcar invertido de beterraba e cana-de-açúcar e amido;, detalha. A nutricionista menciona ainda o risco de contaminação por leveduras e fungos acima das doses recomendadas pela vigilância sanitária.

Allan Ferreira menciona ainda os chamados melaços e xaropes de glucose ; produtos à base de açúcar e xarope de glicose que são vendidos junto ao mel nos supermercados e podem enganar o consumidor. Muitas pessoas, ao ver o nome dos produtos e até mesmo alguns rótulos que chegam a ter abelhas ilustradas, acham que é mel e consomem como tal.

Se uma pessoa quer mel para auxiliar na dor de garganta, por exemplo, e compra um melaço, ela não terá os benefícios e resultados que espera. ;A grande vantagem do mel de abelha é o fato de ser rico em outras substâncias saudáveis, como vitaminas, sais minerais e antioxidantes, coisas que os melados e os xaropes de glucose não tem;, destaca Allan. Jamile acrescenta que esses produtos têm alta carga glicêmica, agregado a calorias ;vazias;.

Produção própria

O aposentando Jarbas Bonifácio, 64 anos, sempre foi fã de mel. Durante a infância carente, vivendo na roça, ele lembra que consumia o alimento quando o encontrava na natureza. ;Achava no mato, a gente tirava e comia ali mesmo. Era diferente de como é hoje.;

Quando veio morar em Brasília, já adulto, Jarbas comprava regularmente um xarope de glucose famoso achando que era mel de verdade. ;Naquela época, esse produto tinha mel no nome, então, só depois de muito tempo, descobri que não era.;

Tempos depois, Jarbas assistiu a um programa de tevê sobre a produção apiária e se encantou. Trabalhando no serviço público, encontrou livros sobre criação de abelhas e passou a estudar o assunto. Autodidata, começou a criar abelhas assim que teve a primeira oportunidade, na fazenda de um amigo.

No início, comprou três enxames, com caixas pequenas. Sem ter ideia de como seria a produtividade, levou duas pequenas vasilhas para fazer a coleta e, antes de terminar o primeiro favo, ficou sem ter como armazenar o restante do mel. ;Eu queria mel para consumo próprio e, quando vi, era um monte;, diverte-se.

Em seguida, os irmãos se animaram e os quatro passaram a produzir juntos. Há 30 anos, consomem apenas o próprio mel. Jarbas come o produto todos os dias, com frutas, pão e até no leite. ;Só sei que é um dos alimentos mais completos que existem.; O excedente da produção ele presenteia amigos e familiares. Agora, estuda a possibilidade de se profissionalizar e encontrar um retorno financeiro. ;Hoje, consigo distinguir o mel puro somente pelo cheiro.;

Como reconhecer o produto puro?

Uma das formas de reconhecer o mel puro é a partir da cristalização. A nutricionista Jamile Romão explica que muitos acham que isso é sinal de adulteração, mas é um processo natural pela alta concentração de açúcar do alimento. ;Reaquecer o mel facilita o manuseio, mas as propriedades funcionais podem ser perdidas, por isso faça em banho maria em temperaturas baixas;, ensina.

O mel puro não se dissolve rapidamente na água ; uma gota colocada no dedo tende a ficar consistente e demora a se espalhar. Tentar dissolver o produto no álcool também pode demonstrar a sua pureza. Porém esses métodos não são comprovados cientificamente. Logo, o mais importante é a leitura atenta do rótulo para ter certeza de que ele é certificado, diferentemente dos xaropes.

O caminho do mel
  • Rogério Costa Matos, zootecnista e membro da Associação Apícola do DF e do Sindicato dos Apicultores do DF, explica que tudo começa na captura e aquisição do enxame.
  • A partir daí, é feito o manejo das abelhas para que o enxame esteja produtivo na safra.
  • Na entressafra, elas são alimentadas artificialmente com água, açúcar e uma fonte de proteína equivalente ao pólen.
  • Isso garante que as abelhas não fiquem improdutivas no período em que não há alimento disponível na natureza, e que estejam prontas para começar a produzir mel assim que se iniciar a florada.
  • Antes do início da produção, a alimentação artificial é suspensa e feita a remoção do mel produzido, uma vez que ele não é natural.
  • A remoção precisa ser feita para que não contamine o mel proveniente do néctar. Se houver a mistura, pode ficar adulterado e perder qualidade.
  • Após a limpeza, as melgueiras, tipos de módulos onde as abelhas depositam os favos de mel, são recolocadas na colmeia e se inicia a produção.
  • Quando as melgueiras estiverem cheias, é feita a retirada, o ensacamento individual e o transporte até a unidade de processamento.
  • Uma vez lá, o mel passa por inspeção sanitária e é a feita a desoperculação, ou seja, a remoção dos opérculos de cada alvéolo. Os opérculos são películas de cera que as abelhas usam para fechar os alvéolos dos favos que estão cheio de mel.
  • Cada quadro com favos é colocado em uma centrífuga, que vai fazer com que o mel saia filtrado. Depois da filtração, o mel é colocado no decantador. São 72 horas até que a sujeira que restou e as bolhas de ar saiam.
  • São retiradas amostras para análise química em laboratório e, depois de aprovado, o mel é envasado e comercializado.