Renata Rusky
postado em 15/09/2019 11:53
Elas podem até parecer um mundo à parte ou apenas um lugar para resolver burocracias e tirar vistos em casos específicos. As embaixadas em Brasília, porém, têm muito mais a oferecer ao público da capital brasileira. Algumas fazem questão de, além de realizar trabalhos administrativos, políticos e econômicos, promover a cultura do país.
Quem ganha são os brasilienses, que têm a oportunidade de fazer programações culturais diferentes e internacionais sem sair da cidade. E, muitas vezes, gratuitamente. Para Damaris Jenne, primeira-secretária de assuntos culturais da Embaixada da Alemanha, a missão do órgão é fortalecer ainda mais os laços entre o país e o Brasil. ;Acreditamos que, ao abrir nossas portas e trazer um pouco da nossa cultura para perto dos brasilienses, estamos justamente nos aproximando das pessoas e estreitando esses laços.;
A Embaixada oferece sessões de cinema mensalmente, na última quinta-feira de cada mês, além de organizar o Dia das Portas Abertas, em que brasilienses podem visitar o local e desfrutar de várias atrações. Em parceria com as Embaixadas da Áustria, da Suíça, da Bélgica e de Luxemburgo, também é promovida a Semana da Língua Alemã, que, este ano, já na 4; edição, ocorreu em diversas cidades brasileiras e incluiu a exibição de filmes, aulas demonstrativas de alemão, workshops, atividades para crianças e apresentações musicais. ;Foram realizados mais de 800 eventos em todo o Brasil;, especifica Damaris.
Em agosto, a Embaixada de Gana também abriu as portas ao público no evento Uma Tarde em Gana. Com entrada gratuita, o encontro reuniu 60 crianças e adolescentes da Estrutural, além de toda a comunidade, e contou com várias atividades para imersão na cultura do país africano. O objetivo do evento era ampliar as trocas socioculturais a partir da convivência entre as duas nações, com feira de moda e artesanato, espaço gastronômico, mostra audiovisual, além de músicas e danças típicas de Gana.
O principal meio de divulgação dos eventos são as redes sociais. Vale a pena acompanhar as páginas das embaixadas que mais lhe interessam e ficar de olho nos eventos.
Noite para dançar
Quando Nayara Chianelli começou a dançar salsa, há cerca de 10 anos, havia uma boate famosa que tocava o ritmo. Tempos depois, o local foi fechado, e Brasília ficou carente de festas com músicas latinas. A pedagoga, que também já deu aulas da dança, foi uma das que perderam um de seus programas favoritos. Mas um grupo de colegas dançarinos bem unido passou a sempre compartilhar as oportunidades de ;bailar;.
E um dos pivôs dessas oportunidades eram as embaixadas. ;As latinas, principalmente;, Nayara ressalta. Há quatro anos, ela e as amigas têm destino certo toda última terça-feira do mês: a Noite Dominicana. É uma festa organizada pela Embaixada da República Dominicana há seis anos ininterruptamente, no restaurante Bier Fass. O evento reúne gente de tudo quanto é nacionalidade interessada na música, na comida e na bebida dominicana. ;Eu não perco uma;, conta Nayara, ofegante de tanto dançar.
No evento do mês passado, na pista de dança, estavam, além da pedagoga, cubanos, dominicanos, norte-americanos e outros brasileiros. Em volta dela, alguns mais tímidos, assistiam e apenas se balançavam um pouco. Talvez porque ainda não passava das 21h. Em uma mesa externa, um grupo fumava charuto dominicano com a embaixadora de um país da América Central. Em outra, o embaixador da República Dominicana experimentava um pouco da mamajuana, uma bebida ancestral de seu país, da qual, naquela noite, havia uma degustação, graças a uma parceria da embaixada com a empresa que a exporta.
A festa também tem um cardápio paralelo ao tradicional do restaurante, com três receitas e dois drinques dominicanos. Orly Burgos Castillo, primeira-secretária da Embaixada, conta que o órgão ensinou o chef do restaurante alguns pratos típicos. O DJ também recebeu treinamento para tocar, além da salsa e do merengue, mais conhecidos, a bachata, originada no país.
Profissão
Formado em relações internacionais, Pedro Mariano, 34, dançarino, professor de dança e DJ, acabou seguindo outro rumo profissional. Conheceu a salsa em aulas na Universidade de Brasília (UnB), e o curso superior foi que virou um hobby. Por conta dos contatos que fazia na faculdade, ficava sabendo de festas de embaixadas em que tocariam sons latinos, e não perdia uma.
Uma coisa foi levando à outra, e elas acabaram não sendo só uma chance de lazer, mas também profissional. Pedro já deu aula de salsa em diversas embaixadas, tem diversos alunos estrangeiros e uma carreira com a qual está bem satisfeito graças ao contato com esse mundo estrangeiro aqui dentro de Brasília.
Cinema estrangeiro
Verdadeira cinéfila, a funcionária pública aposentada Maria Emília Rosa, 61 anos, descobriu há cerca de três anos uma forma de conhecer um cinema completamente diferente do que estava acostumada. E ainda sem gastar dinheiro. Começou a frequentar sessões de cinema de embaixadas. Já foi às da Alemanha, da França, da Itália. ;Uma vez, fui assistir a um filme no Cine Brasília e alguém comentou comigo que existiam essas programações. Logo me colocaram em um grupo no WhatsApp em que compartilham todos os filmes que vão passar na semana;, conta.
Em uma semana só, Maria Emília já teve a oportunidade de assistir a três filmes europeus de graça. O cinema russo, que ela não conhecia, foi uma grata surpresa. ;Onde mais eu veria um filme de lá, se não na embaixada deles?;, brinca. As amigas costumam acompanhá-la, mas, às vezes, é difícil conciliar os horários. Ela, no entanto, não fica sozinha: faz amizade aonde vai.
Outro que gosta de aproveitar as programações das embaixadas é o cartunista Luis Fernando Pimentel, 56. E não é só do cinema. ;As embaixadas são o que tem de melhor nessa cidade. Elas promovem vários eventos gratuitos;, exalta. Em agosto, ele levou a amiga Najana Cardoso, 29, professora, pela primeira vez para assistir a um filme na Embaixada da Alemanha.
Luis Fernando adora cinema. ;Eu já assisti a filmes até na Embaixada da Iugoslávia. Era um documentário sobre um jogador de futebol húngaro, cujo nome eu nunca tinha ouvido, e foi bem interessante.; O homem em questão era o craque Ferenc Puskás, um dos melhores jogadores de todos os tempos.
Programe-se!
Sessão de cinema na
Embaixada da Alemanha
Toda última quinta-feira do mês, às 19h
Setor de Embaixadas Sul 807
Entrada gratuita
Embaixada da Alemanha
Palestra sobre os limites invisíveis da jurisdição constitucional, com o professor Andreas Vosskuhle, presidente do Tribunal Constitucional da Alemanha
23 de setembro, das 10h às 12h
Auditório Joaquim Nabuco, na Universidade de Brasília
Terça Dominicana
Toda última terça-feira do mês,
a partir das 19h
Bier Fass ; Gilberto Salomão
Exposição coreana
Exposição Nós Somos um. We are one
Até 22 de setembro
Câmara Legislativa do Distrito Federal
Projeto de k-pop ; Coreia do Sul
Aulas todas as terças, na hora do almoço
Setor de Embaixadas Norte 801
Yoga pra vida ; Índia
Todas as segundas, terças e quintas, às 17h30 (culutre.brasilia@mea.gov.in // 3364-4186)
Setor de Embaixadas Sul 805
Entrada gratuita
X1 Geek 2019 ; Japão
19 de outubro, às 10h,
20 de outubro, às 19h
Sesc da 913 sul
De R$ 25 a R$ 80
Embaixada do Japão
Exposição de ikebana
De 20 a 22 de setembro, das 10h às 19h
Espaço Renato Cultural Russo
(CRS 508, Bloco A)
Entrada gratuita
Evento Made in Japan
De 8 a 10 de novembro
Estádio Mané Garrincha
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
6; Festival Gastronômico Tailandês
Bufê de almoço
Hoje (domingo), das 12h às 15h30
Kubitscheck Plaza Hotel
Preço: R$ 93,50 com taxas (https://www.sympla.com.br/vl-festival-da-tailandia)
Oportunidade de intercâmbio
Até chegar a Brasília, com a faculdade transferida de São Luís, no Maranhão, há cerca de dois anos, Gabriela Maria Teixeira de Almeida, 20, estudante, só havia estudado coreano pela internet. Com uma inteligência excepcional, o que aprendeu foi suficiente para que ficasse um ano na Coreia do Sul em um intercâmbio. Os pais estranharam muito a escolha da filha. ;Eles falavam: vai fazer o que lá? Hoje, já entendem melhor;, relembra.
Diferentemente da maioria dos jovens, o k-pop não foi crucial para o interesse de Gabriela pela língua coreana. ;Eu acho que sou uma pessoa com a alma velha. Gosto de clássico, da música coreana antiga;, brinca. A futura advogada pretende se especializar em direito internacional e acredita que, quanto mais línguas souber, melhor para a carreira. Admite que tentou o mandarim, primeiro. Diante da dificuldade extrema, passou para o coreano.
Aqui em Brasília, na UnB, fez curso de coreano em sala de aula pela primeira vez, no projeto UnB Idiomas. Agora, estuda no Instituto Rei Sejong, inaugurado há um ano pela Embaixada da Coreia do Sul, com aulas na universidade. Segundo a reitora da UnB, Márcia Abrahão, mais de 100 alunos se matricularam nos últimos dois semestres, e a lista de espera é longa. ;Neste momento de escassez orçamentária, é de extrema importância o apoio de parceiros internacionais;, afirmou, em solenidade que celebrava os 60 anos de relacionamento diplomático entre Brasil e Coreia do Sul.
Na mesma ocasião, o embaixador da Coreia do Sul celebrou a manifestação de interesse crescente dos jovens pela cultura coreana. ;Precisamos dar o nosso melhor para que isso continue e seja base para uma relação ainda mais estreita;, discursou. Mais um professor deve desembarcar direto da Coreia do Sul em Brasília para dar aulas no Instituto.
Além das aulas formais, Gabriela se beneficiou de diversos eventos promovidos pela embaixada e que a colocou em contato com coreanos, com quem pode praticar ainda mais a língua. Com alguns, fez uma amizade profunda. ;Como minha família ficou em São Luís, aqui em Brasília, eu fiz amizades com coreanos que são com quem passo meus fins de semana, que são minha família aqui;, alegra-se.
Parceria no k-pop
A Embaixada da Coreia do Sul também foi a responsável por criar uma grande amizade e parceria profissional entre Victor Rocha, 34, servidor, e Izabel Bezerra de Carvalho, 26, bancária. Quando ele chegou à aula de k-pop oferecida pelo órgão, sentiu-se velho. É que o ritmo é novo e tem atraído muitos adolescentes. Aproximou-se logo de Izabel, que tinha a idade um pouco mais próxima à dele. ;Pelo menos era maior de idade. Tinha muitos acompanhados dos pais, e eles devem ter pensado o que eu estava fazendo lá;, brinca Victor.
Victor estava há muito tempo desconectado da cultura asiática, da qual era fã quando adolescente. A aula de k-pop na embaixada foi uma forma de se reconectar aos gostos do passado. ;Eu assistia a muito desenho japonês, ia procurar quem cantava as músicas e descobria muito coreano cantando em japonês. Daí, ia procurar as músicas em coreano também;, relembra.
Izabel e Victor não só se tornaram amigos como parceiros musicais. Como o k-pop mistura muito as línguas coreana e inglesa, eles tentam incluir também o português em algumas canções. Ambos fazem aulas de coreano, e Izabel está se preparando para uma temporada de um ano no país. Ela também já foi campeã de um concurso de covers de k-pop.
No YouTube, é possível ver a apresentação deste ano da dupla na seletiva brasileira do K-pop World Festival, o maior concurso cover de música pop coreana. (https://tinyurl.com/y6znr2j6). Agora, eles se preparam para lançar um single no segundo semestre deste ano, chamado You and me.