Jornal Correio Braziliense

Revista

Viagem no tempo

Show do Capital Inicial faz o brasiliense reviver os anos áureos do rock nacional. E comprova que ele continua em alta

Uma volta ao tempo ; mais especificamente à época de ouro do rock nacional, lá pelos idos anos 1980 e 1990. E tudo isso graças a uma banda originária do quadradinho que agitou os quarentões e cinquentões que estiveram, na semana passada, no Na Praia ; evento que chega hoje ao fim depois de mais de dois meses de programação.

O Capital Inicial encheu o evento de nostalgia e fez muito marmanjo virar adolescente de novo. O Na Praia, que costuma ter as areias cheias de rasteirinhas, chinelos, looks coloridos e estampados com ares de verão, ganhou uma nova cara. Jaquetas e calças de couro, botas, correntes, estampas de oncinha, camisetas de rock e muito preto foram o figurino da noite.

O vocalista da banda, Dinho Ouro Preto, também vestido a caráter e representando o rock candango, se emocionou ao relembrar os primeiros shows da vida, na Universidade de Brasília (UnB) e em garagens onde compôs e tocou pela primeira vez as músicas que se tornariam grandes sucessos. O público cantou junto, como se o tempo não tivesse passado. E a Revista acompanhou de perto um pouco do estilo dessa galera que leva o rock;n;roll na veia.


Geração pioneira

Fã da banda, o servidor público Jorge Luís Villar Peres, 51 anos, foi vestido como tal. Acompanhado da mulher, a professora Bernadete de Lurdes Ataíde Peres, 51, contou que já esteve em inúmeros shows do Capital Inicial. Entre os mais marcantes, ele destaca um que ocorreu em 1986, na Esplanada. ;Só tocaram bandas de Brasília, e o Capital fechou. Fez tanto sucesso que virou um disco de vinil chamado Rock Brasília Explode Brasil;, lembra. Jorge acompanha o Capital desde a época do Aborto Elétrico. Ele chegou a assistir a um show da banda que reunia integrantes das sucessoras Legião Urbana, Plebe Rude e, claro, Capital, no Gilberto Salomão ; o lugar mais bombado de Brasília nos anos 1980. ;Sou da primeira geração roqueira de Brasília;, diz, orgulhoso. Jorge destaca que o estilo da época ; jeans, camisetas de rock e tênis ; permanece até hoje. Para o servidor, o que difere aquela época da atual, tanto no jeito de vestir quanto no musical, era a rebeldia, que trazia muita inspiração.


Uniforme do rock

Os comerciantes Jussara Lúcia Aguiar Gonçalves, 44 anos, e Flagner Flávio Gonçalves, 45, também são grandes fãs da banda, e o estilo reflete o gosto musical. Jussara conta que sua relação com o Capital foi de amor à primeira vista. ;Virei fã desde a primeira vez que ouvi e, desde então, fomos a vários shows. Se tiver a oportunidade, estou lá.; Jussara afirma que seu estilo está sempre em sintonia com a moda do momento, mas que percebe o movimento de vai e vem e vê os jovens de hoje usando os mesmos elementos que fizeram sucesso nos anos 1980 e 1990. ;Eu era uma rebelde que sempre acompanhou a moda, mas gosto dos clássicos.;


Essência roqueira

O publicitário Marcelo Amaral, 50 anos, e a fotógrafa Andrea Stuckert, 35, são fãs da banda, e o estilo não esconde o lado roqueiro do casal. Marcelo é amigo de Dinho, já produziu algumas apresentações da banda, que começou a acompanhar nos anos 1980, quando era estudante da UnB. Marcelo tem, pelo menos, 15 shows do Capital guardados na memória e confessa que seu estilo casual vem desde aquela época. ;Antigamente, tinha um estilo surfista também, mas esse ficou para trás, assim como as calças boca de sino que eu já usei;, brinca. Para Marcelo, a geração que assistiu ao show é a mesma que sempre curtiu o rock, com a adição dos filhos e dos mais jovens, que foram influenciados pela essência roqueira de Brasília. E o publicitário completa: ;Independentemente das mudanças, o estilo rock dos anos 1980 sempre será atual;. Andrea acompanha a banda desde a década de 1990, adora rock e já fotografou diversos shows do Capital. Com um estilo que considera básico, não vive sem jeans, botas e couro. Ela afirma que o seu estilo é o mesmo do auge do rock, mudando apenas o corte de cabelo. ;O estilo do rock sempre segue uma linha, e quem gosta tem uma tendência a usar o básico com couro. Isso nunca vai sair de moda.;A fotógrafa acredita que o rock clássico de Brasília sempre terá o seu lugar, independentemente da passagem do tempo. ;O rock tem uma pegada de rebeldia misturada com liberdade que me atrai. E quando faz parte da nossa história, conseguimos lembrar que sempre seremos jovens.;


De berço

A empresária Naya Souza, 37 anos, contabiliza a presença em nove shows do Capital Inicial. ;Sou nascida aqui e já nasci ouvindo rock, principalmente o de Brasília.; Esbanjando estilo com um vestido preto e uma bota de cano alto, ela afirma que o que mais gosta na moda rock é o cabelo longo, volumoso e bagunçado.


Herança de família

Mais novos do que a maioria do público do show, os estudantes Luís Vinícius, 25 anos, e Manuela Pires, 16, também curtiram a apresentação vestidos a caráter. Fã de Capital Inicial desde os 15 anos, Luís conta que sofreu influência da mãe e dos tios. Ele acredita que seu estilo incorpora o espírito do rock. Para Luís, a popularidade das músicas e do estilo pode até ter diminuído, mas não perdeu o valor. ;O estilo e o rock não só evoluem como mantêm seus clássicos eternos.; Assim como Luís, Manuela foi influenciada pelos pais, e cresceu ouvindo rock. A estudante afirma que a moda vem e vai e percebe que o estilo dos anos 1980 está em alta novamente, inclusive entre os mais jovens. Manuela acredita ainda que o rock tem o poder de unir todas as tribos. ;É um estilo que dificilmente alguém não gosta, pode ser tanto uma crítica social quanto uma música romântica. O que não pode faltar é uma boa batida que faça o público se animar;, completa a jovem de 2019, vestida com calça de couro e cropped, em um look que poderia ter saído de uma revista dos anos 1990.