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Vamos dar uma voltinha?

Especialistas reforçam a importância de os animais passearem diariamente. Se o tutor não tiver tempo, é possível contratar um profissional

Pingo, 3 anos, é um vira-lata de sorte. Diferentemente de muitos cães, que, às vezes, passam dias sem dar uma voltinha embaixo do prédio, pela rua ou pelo condomínio, ele passeia de três a quatro vezes por dia, sem exceção.

A vida agitada do vira-lata se deve a dois motivos: seus tutores, os servidores públicos Renato Sousa Fonseca, 36 anos, e Dayane Stella Dias Rocha, 37, apesar da vida corrida, não abrem mão de dar voltinhas com Pingo no início da manhã, antes do trabalho e no fim do dia, depois do expediente.

Além de sempre sair com o pet, o casal optou por usar o serviço de dog walker ; ou passeador de cães. A atividade consiste na contratação de uma pessoa ou empresa que disponibiliza alguém para passear com o cachorro, ou cachorros, na quantidade de vezes e pelo período determinado pelos donos.

O serviço tem feito sucesso no Brasil. De acordo com pesquisa feita pela Dog Hero, aplicativo que conecta passeadores e anfitriões que hospedam cães em casa aos tutores, os gastos com passeador chegam a R$ 1.300 por mês.

A pesquisa foi feita a partir de um banco de dados com mais de 18 mil anfitriões e dog walkers e 850 mil cachorros cadastrados. A alta demanda pelo serviço se justifica, também, pelo fato de que o Brasil tem a segunda maior população canina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil tem 52 milhões de cachorros.

Uma profissão

Existem passeadores vinculados a empresas, que fazem parte de uma espécie de banco de dados e são acionados de acordo com os horários e as necessidades do cliente. Ou seja, mesmo que o passeador de sempre não esteja disponível naquele dia ou horário, é possível encontrar um substituto. Essa interação costuma ser feita por meio de aplicativos.

Os passeios costumam ter duração de uma hora ou 30 minutos. Se os cães são da mesma família, costumam passear juntos. Mas há a opção de que cada um tenha seu momento particular.

Mas para quem prefere um passeador independente, basta fazer uma busca rápida na internet. Existem diversas pessoas especializadas, como adestradores e até mesmo veterinários que atendem aos cães que precisam de passeios extras.

Renato e Dayane optaram por um aplicativo, que já conheciam por usar a hospedagem canina. ;Há cerca de dois anos, conhecemos o serviço deles e nos tornamos clientes. Quando eles lançaram o serviço de passeadores em Brasília, fomos convidados a testar e adoramos;, conta Renato.

Depois de conhecer uma das profissionais e se identificar com ela, fizeram um passeio teste, todos juntos. Depois que se sentiram seguros, passaram a chamar a passeadora Michelle Caldas, a primeira que conheceram, todos os dias em que Pingo passa as tardes sozinho.

Depois que Renato e Dayane saem de casa, Michelle chega no horário combinado e leva Pingo para dar a voltinha rotineira. Quando vê a passeadora, ele se anima e começa a correr em direção a ela, se preparando para o passeio.

O casal, mesmo fã do serviço, não deixa de também passear com Pingo. ;É um passeio extra, para que ele não passe a tarde inteira sozinho e entediado. Mas quando estamos de folga ou trabalhando de casa, nós mesmos fazemos todas as caminhadas;, ressalta Dayane.

O cãozinho é o xodó da família e chegou de forma inesperada. Renato e Dayane se preparavam para ir ao show do Guns and Roses quando souberam que havia um filhote para ser adotado. Chegando lá, Renato descobriu que ele estava à venda, mas não resistiu. Para bancar Pingo e todas as despesas com vacinas e exames, o casal desistiu do show e hoje garante não se arrepender nem um pouco.



Os passeadores

Michelle é 2; sargento das Forças Armadas e apaixonada por cachorros. Nos dias de folga, aproveita para ganhar um dinheiro extra, enquanto faz o que gosta, que é estar rodeada de animais. Na atividade há dois anos, ela ressalta como vantagens a comodidade e tranquilidade para os donos, que, mesmo quando estiverem impossibilitados, sabem que o animal não ficará desamparado ou sem passear.

Para ela, o carinho pelos pets é fundamental nesse tipo de trabalho. ;Amo os animais. Meu tratamento é bem pessoal, sempre me dirijo a eles como se eu fosse a tia Mi;, conta.

O passeador Thiago Fonseca está há um ano trabalhando exclusivamente com os cães e compartilha do amor que Michelle tem pelos animais. ;Sou muito apaixonado, principalmente pelos cães. Todos os dias eles me ensinam coisas que os humanos não são capazes.;

Thiago conta que, além de passear, observa os hábitos do cachorro, como a urina e o comportamento. ;Quando é necessário, aviso aos donos para que levem ao veterinário;. Ele, que também é adestrador, explica que aproveita os passeios para disciplinar os animais que precisam. ;Tem donos que não conseguiam passear porque o cachorro puxava demais. Depois de um tempo sendo ensinados, eles já conseguem.;

Apesar de observarem a importância do dog walker, Michelle e Thiago incentivam que os donos não deixem de sair com seus animais, nem que seja por poucos minutos. Ao passear com o dono, o cão o reconhece como líder e parte da matilha, facilitando a obediência.

Os passeios são também momentos em que os tutores observam o cão e os hábitos, verificando se está tudo dentro da normalidade. Além disso, durante caminhadas, os animais e tutores estreitam laços e fortalecem o relacionamento.

Os benefícios
  • Os passeios regulares evitam a obesidade e proporcionam bem-estar físico aos cães.
  • Ajudam a determinar horários específicos para que os cães façam suas necessidades fisiológicas.
  • É trabalhado também o lado mental do animal, que relaxa nesses momentos de lazer.
  • A ansiedade também é tratada com passeios, que ajudam cachorros muito agitados a dissipar energia.
  • Os cães têm contato com o mundo exterior, farejando.
  • A liberação de endorfina faz com que eles voltem para casa mais calmos e cansados.
  • É o momento ideal para a socialização com outros cães.