;Os progenitores passam para a prole valores que julgam importantes e que eles apreciam. Isso aproxima a família, o que causa a percepção e a vivência da união e identidade;, justifica o psicólogo Roberto Debski. A relação vai além da transmissão de 50% da carga genética. ;A convivência familiar e os momentos compartilhados fazem com que os filhos tenham modelos a seguir, que poderão manter ou modificar durante o próprio crescimento e desenvolvimento;, completa o especialista.
Por isso, quando os pais encontram maneiras de conhecer o mundo dos filhos, a relação entre eles pode ser mais compreensiva e próxima, acredita o psicólogo comportamental Vitor Friary.
A fase da vida também influencia no relacionamento familiar. Quando pequenos, os descendentes tendem a se identificar mais com as escolhas dos pais. Na fase da adolescência, tida como de rebeldia, eles sentem a necessidade de se individualizar para, mais tarde, voltarem a se identificar com muitas escolhas e comportamentos paternos.
Confira exemplos de pais e filhos que dividem gostos e compartilham momentos inesquecíveis em família.
Sonhos compartilhados
As primeiras memórias de Rissa Ramos Costa, 30 anos, são sentada em frente ao piano. A empresária conta que desde 1 ano de idade já arriscava brincadeiras com o instrumento. Tudo por influência do pai, Francisco Alberto Costa, 65, que transmitiu o carinho especial pela música para os dois filhos ; Rissa e Persus, 34.
Eles costumam se sentar em volta do instrumento, curtir a música e analisar as harmonias, em família. ;Lá em casa, nós sempre fomos movidos pela música. Meus pais foram a nossa maior referência de vida, e meu pai sempre teve esse lado muito humano por conta das melodias. Nós acreditamos no poder da harmonia musical de mudar o mundo;, conta a empresária.
Alberto, como gosta de ser chamado, aprendeu a tocar piano apenas observando os franciscanos na igreja que frequentava, aos 10 anos, e não parou mais. Funcionário público aposentado, começou a vender instrumentos por paixão. Os negócios deram certo e hoje toda a família trabalha na loja. O filho mais velho é contrabaixista. A filha, pianista e farmacêutica, fez cursos de especialização para cuidar da administração da loja; e a mãe, economista, cuida das finanças.
;Os sonhos dele de mudar o mundo são grandiosos e se tornaram nossos sonhos. Queremos dar continuidade a isso, porque é um gosto em comum que nos uniu como família;, diz Rissa.
Além de vender instrumentos, eles realizam diversas atividades gratuitas na loja em Taguatinga Norte, chamada Alberto Teclados, e também têm um projeto social em parceria com músicos da cidade para levar a melodia aos hospitais de Brasília. ;Eu amo a música, porque ela é harmonia. E todo músico carrega a paixão de um mundo harmônico. Não em desarmonia, como está agora;, afirma Alberto.
Paixão por sertanejo no DNA
Deitado no tapete da sala enquanto espera o pai chegar, Hilton Emediato de Carvalho, 6 anos, canta e até recita as falas do cantor Xand Avião no DVD da banda Aviões, gravado em Brasília em 2017. Esse foi o primeiro show que o pequeno fã viu de perto. Ele e o pai não dividem só o nome, mas também a paixão pela música, em especial o sertanejo e o forró da banda cearense.
;Nós gostamos muito de ouvir música em casa, e o Hiltinho herdou isso de mim e da mãe dele;, conta Hilton Gonçalves de Carvalho,42. Desde que foi ao primeiro show, a dupla não parou mais. E, todos os anos, comparecem às apresentações da programação sertaneja do evento Na Praia.
De tanto ouvir em casa, o pequeno já sabe todas as músicas de cor. ;É um momento muito nosso, e eu gosto muito de compartilhar isso com ele. Este ano, em especial, que fomos aos shows de Xand e de Gusttavo Lima, a mãe dele não pôde ir, porque está grávida. Fomos só os dois e compartilhamos ótimos momentos juntos;, conta o empresário. Na hora da apresentação, Hiltinho quer ficar bem perto dos cantores, ;colado na grade;, como ele chama. E, como fã que é de verdade, tem foto com o seu ídolo. Ele também já encontrou os cantores no camarim.
Quando questionado sobre os ídolos, o menino não tem dúvidas: ;O cantor que eu mais gosto é o Xand, que eu conheci no palco do Na Praia. Mas eu também gosto do Gusttavo Lima e de Jorge e Mateus. E já vi o show deles bem de perto;, alegra-se o garoto. Sobre o futuro do filho, o empresário responde: ;Ele gosta tanto que pode até virar cantor sertanejo!”, diverte-se.
Cultivando hábitos
;Quando eu era criança, fiquei muito chateada porque meu pai me levou a um café e não tinha nada de chocolate. Mas provei um pedaço de torta de morango, que conquistou meu coração.; A partir daí, Gabriela Motta, 23 anos, passou a compartilhar com o pai, Pedro Motta, 57, o amor por cafeterias.
O ambiente passou a ser o pano de fundo para estreitar a relação entre pai e filha, e também para a comemoração de momentos especiais. ;Depois que eu fiz a minha prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ele me levou para um café e conversamos sobre como foi o exame;, conta a advogada. E até quando eles não têm tempo de ficar por lá, um dos dois dá um jeito de passar em um café e levar um lanche para casa.
Recentemente, Gabriela está descobrindo o gosto por um hábito do pai: tomar chimarrão. Costume tradicional do Sul do país, local de origem da família do analista de sistemas, eles se reúnem para degustar a bebida e se atualizar ; é um momento especial de união.
;Essas são ocasiões para dar, ouvir conselhos e trocar ideias. O chimarrão é uma extensão do café, e é um momento de prazer e conversas no fim do dia. Nós ficamos todos juntos (com a esposa e o filho mais novo), mas eu tomava chimarrão sozinho. Agora, Gabriela descobriu o gosto e me acompanha;, afirma Pedro.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte