Com certeza, você já se inspirou ou até seguiu os passos de seu pai, seja na profissão, na forma de lidar com os problemas, seja nos gostos pessoais. Saiba que isso não é uma exclusividade dos humanos. No mundo animal, essa relação de admiração e ensino paterno também existe, em especial com os cachorros.
A veterinária Camila Maximiano, da Clínica Pompeu, explica que a relação de instinto paterno em cães é algo mais pontual devido ao processo de evolução desses mamíferos, que são animais poligâmicos e comumente têm filhotes com diferentes parceiros. ;Por isso, muitas vezes os machos observam de longe a gestação dos filhotes, pois existe a chance de não serem deles. Mas, quando há uma relação de companheirismo entre macho e fêmea, a coisa muda de figura, e eles assumem um papel de cuidado.;
Foi o que aconteceu com o casal de Dobermans do empresário Márcio Milken Abdala, 56 anos. O companheirismo de Maia e Drogo não mudou nem com a gestação da cadela. Durante os dois meses de gravidez, o macho fez questão de acompanhar a gestação da parceira, separando-se de Maia apenas quando ela entrou em trabalho de parto.
Por precaução, o empresário optou por restringir o acesso a Maia para evitar qualquer acidente com os filhotes. ;Ao todo, nasceram nove cães, sendo Jon o último. Ele foi o filhote que mais teve contato com o pai;, conta.
Logo após o parto, Drogo participou de toda a ambientação das crias, apesar de, em alguns momentos, ter enfrentado imposição da fêmea. ;Depois que eles nasceram, deixei que o Drogo tivesse contato com os filhotes. Já no dia seguinte, estava junto, acompanhando, cheirando e lambendo;, relembra Márcio.
Drogo assumiu uma postura de tutoria do filhote, o que costuma acontecer quando o macho participa da criação. ;O pai assume o papel de ensino. Através do exemplo, ele educa onde urinar, como funciona a dinâmica familiar e como é a hierarquia de convivência que será seguido por eles;, explica Camila.
O aprendizado sempre foi a base do convívio entre Drogo e Jon. ;Conforme eles foram crescendo, o filhote Jon sempre imitava o que o pai fazia. E, ainda hoje, isso continua se repetindo.; Maia, Drogo e Jon têm uma convivência saudável, e o empresário garante: são uma verdadeira família.
Assim como aconteceu com os dobermans de Márcio, o shitzu Fred também acompanhou a gestação da parceira Mel. Por ter muito apego à companheira, teve que passar por uma adaptação, mas, em pouco tempo, conseguiu desenvolver uma boa relação com o filho Juca ; filhote que a empresária Luciana de Oliveira Salles, 39, decidiu adotar entre os três que nasceram. ;Fred sempre foi carinhoso, cheirava quando estava perto. E, quando Juca ficou maior, brincava sempre que pulava em cima dele.;
A relação entre os dois se intensificou quando Mel morreu. Quando Juca vai ao petshop para a tosa, a tutora relata que Fred fica inquieto e, caso o filho demore a voltar, nem mesmo aceita comida e água. ;Hoje, não vivem um sem o outro. Tudo têm que fazer juntos.;
Questão de cuidado
Devido ao instinto de rivalidade, nem sempre a relação entre pai e filho é harmoniosa. Entretanto, é possível reverter o cenário quando trabalhado o convívio da fêmea com o macho ainda durante a gestação. ;Deve haver o cuidado de estimular o animal à mudança de rotina. Deixá-lo perto da fêmea para que ele sinto o cheiro e, quando os filhotes nascerem, exercitar a aproximação;, ensina a veterinária.
O ambiente em que vivem também influencia o comportamento desses animais. Camila alerta que os tutores devem evitar brigar ou isolar o macho, mesmo que a fêmea se oponha. ;Quando essa retaliação acontece, o cão pode associar os filhotes a uma postura ruim, dificultando o convívio e fomentando a rivalidade.;
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte