O lado contemporâneo da Record
Hoje se completam dois meses de Topíssima, novela que a Record estreou quase sem alarde e fugindo do tema bíblico que costuma pontuar as tramas da emissora atualmente. Aparentemente com orçamento mais modesto do que as produções religiosas, o folhetim de Cristianne Fridman está longe de ser uma obra-prima, mas surpreende por vários pontos positivos. E digo mais: Topíssima deixa Verão 90, novela da Globo exibida no mesmo horário, no chinelo.
A primeira surpresa de Topíssima vem pela temática. Logo na primeira semana, o tráfico de drogas era abordado por meio da produção de uma droga sintética, o veludo azul. O assunto continua em alta na trama, mas há algumas semanas vem dado espaço para um ainda mais surpreendente e espinhoso: aborto. A personagem Jandira (boa performance de Brenda Sabryna) procura uma clínica clandestina para interromper uma gravidez, tem complicações no procedimento e morre.
A cena em que os pais dela, Madalena (Denise Del Vecchio) e Zeca (Paulo César Grande), recebem a confirmação da morte da menina foi ao ar na última terça e emocionou. Mesmo com texto um tanto piegas, os atores foram muito bem e a direção e a edição também se destacaram, com imagens de Jandira projetadas em prédios e cenários de Topíssima.
O corpo de Jandira é jogado num lixão, onde a polícia o encontra. Esse é outro filão explorado em Topíssima: a trama policial. O tom aparece em investigações em que o roteiro abusa da ingenuidade dos personagens bons, como Rafael (Marcelo Rodrigues Filho) e o protagonista Antônio (Felipe Cunha).
Algumas interpretações da novela da Record enchem a tela. Denise del Vecchio, Cristiana Oliveira (Lara Alencar) e Silvia Pfeifer (Mariinha) dominam a cena desde o início, assim como a mocinha Sophia Loren (Camila Rodrigues). O núcleo jovem tem como destaques Marcelo Rodrigues Filho, Rafaela Sampaio (Gabriela), Bruno Guedes (Edison) e Brenda Sabryna. Interessante notar que Felipe Cunha começou a novela patinando, um tanto fora do tom, mas se recuperou e joga de igual para igual com os colegas.
Nem tudo dá certo, claro. Alguns atores precisam entrar no tom, caso de Maurício Mattar (Carlos), Floriano Peixoto (Paulo Roberto) e Eri Johson (Edevaldo). O texto também derrapa e a edição, que começou muito confusa, parece entrar nos eixos.
Talvez, o maior pecado de Topíssima seja o tratamento que a própria Record dá à novela. Parece que há receio de investir na trama. Não deveria. Não é top, mas tá no caminho certo.