Nessa modalidade de jogo, grupos de pessoas são presos em salas e têm que encontrar pistas para conseguir escapar antes que o tempo se esgote. Os participantes são transportados para cenas de crimes, cofres de bancos, praias desertas e até mesmo para o Velho Oeste e têm, geralmente, 60 minutos para desvendar os desafios e sair da sala vitoriosos.
Em Brasília, os escape games se tornaram febre. Famílias, grupos de amigos, festas de aniversário e até mesmo eventos corporativos lotam as salas da cidade. Há ainda os ;viciados;, que já passaram por quase todas as salas existentes e estão apenas aguardando que as empresas lancem desafios inéditos.
É o caso dos irmãos Antonio e Felipe Barros Coelho, de 13 e 11 anos, que já zeraram quase todas as salas disponíveis em Brasília e estavam só esperando as férias de julho começarem para jogar no úlnico local que ainda não foram.
Um amigo que jogou em São Paulo falou sobre os escapes rooms e os irmãos resolveram pesquisar, descobrindo que o jogo já existia por aqui. A partir daí, os dois, sempre acompanhados dos amigos, começaram uma jornada pelas salas disponíveis.
Sempre desafiados
O fato de não vencerem todas de primeira ; algumas têm o nível de dificuldade alto ; foi mais um estímulo. Eles sempre voltam quando não conseguem escapar e não descansam até solucionar todos os desafios. ;Quando não conseguimos ganhar, voltamos. Ficamos com aquela angústia para saber o que acontece no final;, conta Antonio.
Felipe garante que o que mais gosta é fazer parte da história e que sua sala preferida é uma com a temática de espiões. ;Estar na história e fazer parte é muito legal. Eu adoro detetive, e é como se estivesse jogando na vida real;.
Para os irmãos, e praticamente todos os jogadores com os quais a Revista conversou, o que não pode faltar nunca em um jogo de escape é o trabalho em equipe. ;Tem que ter muita comunicação e falar tudo para os amigos, todos têm que concordar;, explica Antonio.
Eles acrescentam que sempre gostam de jogar com um adulto, geralmente os tios, que também gostam da brincadeira. ;Existem desafios com algumas fórmulas e coisas que ainda não aprendemos na escola; então, é legal ter alguém mais velho para ajudar;, confirma Felipe.
Para a tradutora Beatriz Barros Coelho, 45, mãe dos meninos, o jogo é uma brincadeira que estimula o raciocínio lógico e a união, além de tirar os filhos de dentro de casa e dos jogos eletrônicos e celular, uma vez que, dentro da sala, nenhum dispositivo é permitido.
Calma e atenção
Os professores de educação física e amigos Guilherme Henrique Ramos Lopes, 45 anos, Tatiana Freire Dias Mendes, 40, e Tatiana Santos Biagini, 43, se conhecem há mais de 15 anos e são fãs dos jogos de escape, apesar de só conhecerem uma das empresas de Brasília.
Eles costumam jogar em um escape game que pertence à família de uma amiga próxima. E foi por meio dela que conheceram a modalidade. Guilherme conta que, na primeira vez que jogaram, os amigos estavam com pessoas que não conheciam e que, por mais que a experiência tenha sido positiva, o melhor é jogar com quem você conhece. Isso facilita a conexão.
Por ser extremamente calmo, Guilherme diz que se diverte vendo as reações de quem fica nervoso com o jogo. ;As pessoas vão se revelando e você descobre muito sobre alguém nessas situações.; O professor afirma que, para ele, um dos segredos para conseguir escapar é justamente manter a calma e não se afobar nos momentos em que o jogo fica difícil.
Tatiana Freire, fã de jogos de tabuleiro, brinca e compara os escapes com o filme Jumanji, no qual você ;entra; no tabuleiro e traz a brincadeira para a vida real. Para ela, o maior atrativo é se entreter para desvendar um desafio, esquecendo de tudo e curtindo o momento. ;Tenho planos de trazer meus filhos. É um tipo de jogo que diverte e promove a união e estimula a sintonia.;
Tatiana Santos também acredita que o jogo tem esse poder. Quando jogaram com desconhecidos, apesar de nunca terem se visto, todos entraram em sintonia e conseguiram trabalhar bem juntos. A professora acrescenta que o que mais gosta é a adrenalina que o jogo traz.
Guilherme, diferente das amigas e da maioria dos fãs de escape games, não é muito ligado em videogames e outros jogos. Prefere esportes e, pela realidade e emoção das salas de escape, acabou fascinado pelo entretenimento.
Como surgiram?
Nos anos 2000, jogos chamados ;escape the room; ; ou ;escape do quarto; ; fizeram muito sucesso. Em computadores, videogames ou celulares, o jogador tinha seu personagem preso em uma ou mais salas e precisava encontrar elementos que o ajudasse a sair do local. E foi inspirado nesses jogos que um empresário japonês criou as primeiras escapes rooms, em 2007. Tratam-se de salas temáticas imersivas, cheias de enigmas e desafios palpáveis, onde o jogador é o personagem e precisa escapar em determinado período de tempo. O jogo se tornou real no Japão e, em 2015, a primeira sala foi inaugurada no Brasil.
Encarnando os personagens
No grupo de amigos dos estudantes Gutta Proença, 23 anos, e João Victor Ribeiro Cicon Rosa, 22, e da professora Najla Leão, 28, a imersão é um dos pontos altos da brincadeira. Tanto que, muitas vezes, dando um plus ao jogo, eles encarnam os personagens, fazendo vozes e usando acessórios.
Fãs de videogames e de jogos de tabuleiro e desafio, eles enxergam no escape room um sonho virando realidade. ;Nós gostamos de fazer cosplay; então, essa é mais uma forma em que podemos nos transformar nos personagens e jogar, nos divertir;, diz Gutta.
O que eles mais gostam é de poder ir com o grupo de amigos. João Victor conta que, além do jogo, costumam surgir momentos engraçados, como quando uns assustam os outros encarnando os personagens ou quando criam gambiarras e conseguem ganhar o jogo da sua própria forma. ;Criamos as histórias. Nas salas de terror, sempre elegemos alguém para morrer primeiro, igual aos filmes mesmo.;
Najla afirma que o maior desafio é o mesmo que pode garantir a vitória: manter a calma! Como no grupo de amigos existe muita brincadeira e muito susto, é importante não perder o foco e a tranquilidade para conseguir se manter no jogo.
Além do trabalho em equipe e da calma, Gutta, João Victor e Najla afirmam que há curiosidade de se mexer em todos os objetos. Descobrir a sala e ficar atento a tudo que parece ligeiramente diferente são dicas para quem quer sair da ;prisão; em tempo hábil.
Trabalho em equipe
A advogada e professora de teatro Dhenise de Almeida Galvão, 40 anos, e a professora Lorena Dantas Figueiredo, 28, trabalham juntas em uma escola e ficaram próximas. O marido de Dhenise, o advogado e assessor político Fabrício Lima Galvão, 50, e os amigos de Lorena, o estudante Arthur Moreira Sudré e o professor André Victor Campos, 27, se conheceram em um evento e todos acabaram encontrando interesses em comum, como os jogos, e virando amigos.
Fabrício e Dhenise conheceram o jogo enquanto estavam de férias, no exterior, pela primeira vez sem os filhos. O casal visitava Lisboa e passava por uma fase difícil. Dhenise conta que teve medo de que eles acabassem brigando, mas ao vencer o desafio da sala juntos, se redescobriram como ótimos parceiros e se sentiram fortalecidos com a experiência.
Quando chegaram de férias, chamaram os amigos para jogar. Arthur e André já tinham conhecido o escape e, por serem fãs de jogos de tabuleiro, adoravam. A partir daí, surgiu o hábito. Hoje, eles têm até um grupo no WhatsApp para combinar os jogos. Tentam variar pelas salas de Brasília para manter o jogo emocionante, e o recorde deles, juntos, é de 46 minutos para sair de uma sala.
Para Dhenise, o mais interessante é o desafio de ter que articular a inteligência em grupo, e ela se diverte quando descobre um enigma que abre um novo espaço com vários outros segredos. Lorena concorda: ;Adoro quando a gente acha que desvendou algum mistério, mas é só o início de tudo;.
Já André diz que o que mais gosta é a interação com os cenários e a construção do enredo, que o levam para uma nova realidade. Para vencer, Dhenise defende mente aberta e muita concentração. O trabalho em equipe também faz parte da vitória e do atrativo do jogo. ;É impossível você jogar sozinho, e cada um é bom em alguma coisa. Isso facilita muito na corrida contra o tempo;, completa Lorena. A dica de André é: ;Revirar tudo que você encontrar e prestar atenção nos detalhes;.
Dhenise e Lorena ressaltam que também são fãs dos jogos de escape originais e têm alguns aplicativos no celular, onde jogam e afiam a mente para arrasar nos escape rooms.
Onde jogar
Atualmente, existem em Brasília três casas de escape, com de quatro a cinco salas cada uma, com histórias, níveis de dificuldade e quantidade de jogadores diferentes, além de classificação indicativa. Em Brasília, existe ainda a Fuga, uma empresa que cria jogos de escape personalizados.
ESC ; Escape Room
Endereço: SHCGN 712/713 Bloco B Loja 12
60 Minutos ; Escape Game
Endereço: Piso Inferior do Shopping Pier 21
Enigma 60
Endereço: SCLN 211 Bloco D, Subsolo
Fuga Escape Game
Telefone: 98277-7168
Nas redes
Jogos on-line e para celular que ajudam a afiar o cérebro para o escape room
Spotlight: Room Escape
Mysterious Room Escape
E.x.i.t. ; Escape Game
Granny
O Quarto
Samsara Room
Cube Escape
A união faz a força
Os donos de escape em Brasília não costumam ver um ao outro como concorrentes. Eles têm um grupo no WhatsApp em que trocam informações e experiências. Uma das sócias do Fuga, Amina Demicheli, afirma que a concorrência não é problema no ramo. ;Quando a pessoa joga em um e gosta, vai querer jogar em outras salas. E é legal que tenham esse costume; então, nós mesmo costumamos indicar.; A empresa dela fechou as salas fixas, mas continua a fazer eventos de escape personalizado, de acordo com a necessidade e o gosto dos clientes, além de preparar eventos especiais, como pedidos de casamento e festas de aniversário.
Wagner Tomaz de Almeida, um dos sócios da 60 Minutos, lembra que ele e os amigos que criaram a empresa adoram jogar e, para isso, precisam das ;concorrentes;. ;A gente cria os enigmas das nossas salas sempre juntos. Queremos, com isso, que existam outros escapes, até para que possamos aproveitar.; E uma coisa é unanimidade: quem vai uma vez quase sempre volta, principalmente os que não conseguiram escapar.
Rodrigo Melo Xavier, outro sócio ds 60 Minutos, conta que o fato de existirem várias salas pela cidade facilita o negócio e a propagação. Os amigos que são viciados e terminam todas as salas de uma empresa jogam nas outras, e isso dá um tempo para a mudança.
Rodrigo explica que, desde que abriram, eles ainda não trocaram as salas, mas já têm planos e escapes prontos só esperando. ;O movimento nas salas atuais ainda não caiu, então, a gente quer deixar o máximo possível para que um público maior conheça as salas, e só mudar quando percebermos que a maioria já foi.;
Maria de Fátima Machado Gonçalves, uma das donas do Enigma 60, informa que eles também não mudaram as salas que têm há cerca de dois anos, mas planejam trocar quando a maioria do público já as tiver conhecido.
E para quem ainda não foi, mas pretende se aventurar, Fernanda Carvalho, gerente da ESC ; Escape Room, dá a dica: ;Recomendamos sempre iniciar pela de menor complexidade. Não se engane achando que será um desafio fácil. Na verdade, a maioria das pessoas que nunca jogou não consegue completar o desafio;.