Depois que se casou e teve os dois filhos, a professora Maria Godoy, 52 anos, e o marido chegaram à conclusão de que o melhor para a família seria ela largar o emprego e cuidar da casa. ;Meu salário era baixo. Então, o custo de contratar alguém para cuidar da casa e dos meninos não compensava. Eu pagaria para trabalhar;, relembra.
Os filhos cresceram e ela passou a querer mais da vida. E a idade não foi um impedimento. Decidiu, há quatro anos, fazer faculdade e se formou em recursos humanos. O curso representou muito mais que só um diploma, mas uma mudança de comportamento e de personalidade.
;Quando eu comecei, eu vi que, de tanto ficar dentro de casa, eu tinha medo de tudo: de falar com as pessoas, de pegar ônibus;, conta. Agora, sente-se mais segura para puxar papo com qualquer pessoa, fazer amizades. A faculdade era em Taguatinga e ela mora no Plano Piloto. Precisou juntar coragem para encarar o trajeto pouco conhecido por ela ; e de coletivo. ;Foi muito ônibus errado, mas tudo bem. Eu saía perguntando e resolvia;, relembra, rindo.
O próximo passo era arrumar um emprego. Bateu de porta em porta, entregando currículo à moda antiga, pessoalmente. Este ano, começou a trabalhar como professora-assistente em uma escola no Plano Piloto, perto de casa. ;Uma amiga conversou comigo, disse que achava que trabalhar me faria bem. Faria eu me sentir competente, independente. E aconteceu mesmo: eu vi que sou capaz e que ainda posso fazer muita coisa, independentemente da idade;, alegra-se.
E a alegria e o orgulho de trabalhar fora é tão grande que ela não se incomoda de conciliá-lo a todo o trabalho de casa do qual já era responsável. ;Vale a pena, mas é puxado;, admite. Tem muito apoio também da caçula, de 29 anos, cuja filha ficava com Maria todas as manhãs. ;Ela não mediu esforço para que minha neta conseguisse uma vaga de manhã na escola;, conta.
Na rotina, também está incluída a academia. Faz parte do autocuidado dela. Matriculada desde outubro do ano passado, ela vai três ou quatro vezes na semana. ;Minha autoestima melhorou, meu condicionamento físico, fiz amizades. Eu preciso me cuidar, porque quero continuar ativa ainda por muito tempo;, afirma Maria.
Modelo de 50 é criticada
Em abril deste ano, a modelo dinamarquesa Helene Christensen, 50, foi fotografada de calça jeans e um top tomara-que-caia de renda. A ex-editora da Vogue britânica Alexandra Shulmann disparou críticas. Em um artigo, ela teria dito que a modelo estaria muito velha para aquele bustiê. Diversas modelos, como Naomi Campbell e Linda Evangelista, saíram em defesa de Helene. Schulmann acabou se desculpando, mas ressaltou que ;todo mundo tem opiniões;.
Lingerie para todas as idades
A estilista Helena Schargel acaba de lançar sua segunda coleção de lingerie para mulheres mais velhas. Em parceria com a empresa Recco, de moda íntima, ela mostra que toda idade pode ser sensual. E a estilista comprova isso sendo ela mesma, aos 79 anos, a garota-propaganda das peças. Toda a empreitada mostrou a ela e ao mundo que é possível se reinventar a qualquer momento e a transformou em uma ;ativista da melhor idade;, segundo ela mesma. ;Nós estamos vivendo mais, podemos chegar aos 90 inteironas, mas não estamos sabendo o que fazer com o tempo, esse presente maravilhoso: tempo a mais de vida. Nós pegamos esse presentinho e colocamos no fundo do nosso armário e nos tornamos invisíveis como nossas mães eram. Depois de criarem seus filhos, elas se aposentavam delas mesmas;, afirma em seu TedX Talks.
Vaidade sem neura
Com cabelos longos, Claudia Mantovani, 51, sempre era pressionada pelo cabeleireiro: ;Quando fizer 45 anos, tem que cortar.; Na data fixada por ele, teimou em manter os fios compridos. Ele insistiu: ;Aos 50, vai ter que cortar;. Quando fez 50, decidiu trocar de profissional e manter as madeixas como gosta.
Quando faz uma retrospectiva da própria vida, Cláudia, que trabalha na área de direito, lembra de ter entrado em pânico quando fez 30 anos. ;Foi uma fase complicada. É quando a gente entra, definitivamente, na fase adulta. Os 28, 29, a gente acha que é o fim de uma adolescência tardia. Eu me cobrava muito profissionalmente, como mãe;, relembra. Aos 40, ela já se sentia mais tranquila, com o profissional estabilizado e os filhos maiores.
Em sua quinta década, decidiu diversificar os conhecimentos. Começou a estudar marketing digital e a ler sobre essa nova mulher de 50 anos da atualidade. ;Eu vi que tem uma leva enorme de mulheres na minha faixa etária procurando conhecimentos diferentes, atividades diferentes, comecei a escrever;, conta. Em seguida, criou um perfil no Instagram com informações relevantes para esse público.
Sem amarras
Segundo Cláudia, ela ouviu muita gente falar sobre coisas que não ficavam bem para a idade dela, além do exemplo do cabelo comprido. Mas ela se recusa a aceitar. ;Tendo bom senso, a gente pode fazer o que quiser. Pode assumir o cabelo branco sem ser considerada desleixada. No Instagram, recebi muitas respostas positivas em relação a podermos fazer tudo. Nossa geração não tem mais amarras;, orgulha-se.
Cláudia usa camiseta de banda e jeans rasgado. Só mantém certo tradicionalismo por uma questão de estilo de vida e por conta da profissão. Já ensaiou jogar fora um moletom do Aerosmith algumas vezes, mas sempre acaba decidindo ficar com ele e seguir usando.
Tudo o que ela faz em relação à aparência é para ela mesma, para se sentir bem. Orgulhosa dos 50 anos, ela dispensa que digam que são os novos 30. ;Meus 50 anos são meus 50 anos;, ressalta. É claro que ela vê o corpo mudar: no bíceps, começa a aparecer uma gordura onde tinha músculo, a perna já não é a mesma, o cabelo já está com fios brancos em excesso.
;Mas a gente tem de viver com tranquilidade; caso contrário, vai viver insatisfeita. Eu nunca quis parecer mais nova do que sou. Cuido do corpo porque gosto de exercício e porque é bom para a saúde. Além disso, eu passo muito tempo sentada no trabalho, precisava fazer uma atividade. Também tenho uma dermatologista que me coloca o pé no chão: ela sempre disse que eu tenho que estar bem para a minha idade;, explica.
Inspiração madura
Consuelo Blocker, filha da empresária e consultora de moda Constanza Pascolato, prova, aos 51 anos, que o mundo digital das influencers também tem espaço para quem tem mais de 50.
Fátima Bernardes, jornalista e apresentadora, tem 56 anos e se separou de um relacionamento de 26 anos em 2016. Em diversas entrevistas, disse o quanto sofreu, mas, atualmente, tem um dos maiores salários da Globo e namora, desde 2017, um homem mais novo, mostrando que nunca é tarde para recomeçar.
Com quase 40 anos de carreira e com 56 anos de vida, Madonna acaba de lançar mais um álbum: Madame X. Reinventando-se sempre, ainda consegue atrair públicos de todas as idades.