Elas olham para trás com óbvia admiração por suas mães, mas, aos 50 anos, não se reconhecem nelas. Não se identificam com a vida que aquelas mulheres levavam na mesma idade. É a geração 5.0: mulheres que entraram no mercado de trabalho, ainda que a maioria tivesse mães donas de casa, e que agora estão reinventando o envelhecer, sem medos ou amarras. Há quem diga que os 50 são os novos 30.
A pós-doutora em antropologia Guita Grin Debert explica que houve um tempo em que mulheres de 30 anos já eram consideradas velhas. ;Tínhamos um ciclo de vida muito marcado em função da idade. Vinte anos já foi visto como tarde para casar. O curso da vida teve mudanças culturais muito fortes;, afirma a especialista. Ela ressalta, no entanto, que essas mudanças também são vividas de formas diferentes em cada classe social.
E, em se falando de mudanças, não dá para ignorar o fato de que, nos anos 1960, a expectativa de vida do brasileiro era de apenas 54 anos. No ano passado, no entanto, a projeção feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alcançou a maior média da história: 76 anos.
Nos anos 1980, já com uma visão um pouco mais moderna da velhice, surgiu a expressão ;a idade da loba;, referindo-se à quarta década da mulher. Foi a jornalista Regina Lemos quem lançou o termo em seu livro Quarenta: a idade da loba. ;Ele refaz toda essa ideia de que as mulheres dessa faixa etária são velhas e, por meio de entrevistas com 90 mulheres, mostra que elas estão em uma fase privilegiada da vida, em que, de uma maneira geral, conseguiram uma certa estabilidade na profissão, definiram estilos de vida;, explica a especialista.
Pesquisa sobre o sentido da velhice para homens e para mulheres, feita por Loreley Gomes Garcia, pós-doutora em Women;s Studies e professora de sociologia da Universidade Federal da Paraíba, mostrou que as mulheres, em sua maioria, expressam e vivem a velhice de modo ambíguo. ;Ou seja, apesar de entenderem a velhice como algo negativo e presente em suas vidas, essa fase do ciclo vital representa, para muitas, uma oportunidade de desfrutar os anos de vida que lhes restam de forma mais livre.; No entanto, a pesquisa foi focada em pessoas de 65 anos ou mais. Aos 50, as mulheres não sentem essa negatividade.
Chega-se agora aos 50 com a energia dos 30 e dos 40, e as mulheres estão dispostas a fazer tudo que sempre fizeram ou até a recomeçar, inovar, viver novas experiências. Conheça histórias inspiradoras de mulheres que vivem sem considerar a idade um peso ou uma limitação.
De alma nômade
Não são os 51 anos que vão fazer Solange Ferraz, servidora pública, parar de viajar e viver experiências únicas. Provavelmente, nem os 60 ou os 70. Já tendo visitado mais de 70 países ; e repetido muitos deles ;, ela diz ter alma de cigano, nômade. E não é só o exterior que ela conhece bem. Orgulha-se de também já ter desfrutado, e continuar desfrutando, muitas das maravilhas do Brasil. Quase todo fim de semana, vai para alguma cidade brasileira.
Solange conta que há momentos em que a família está mais folgada de dinheiro e outros mais apertada. O segredo para ela é manter a cabeça aberta e se adaptar a qualquer situação: ;Eu já me hospedei em hotel cinco estrelas e já fiquei em albergue. E já tive experiências ruins em situações que seriam teoricamente mais confortáveis;, conta.
Quando lembra na mãe, recorda-se de vê-la aos 50 anos e não ter ideia da jovialidade que ainda havia dentro dela. Talvez pelo estilo de vida que levava, talvez pelo preconceito. ;Meu pai morreu com a minha idade, e eu pensava que ele tinha vivido bem. Hoje, eu entendo que foi muito cedo. Eu ainda tenho muito o que viver, e ele também tinha;, lamenta.
Aventuras
Solange casou-se aos 17 anos; portanto, a juventude do casal já foi cheia das responsabilidades de uma família. Logo vieram os filhos, e as obrigações aumentaram. Isso fez com que eles não dividissem a vida entre aventuras que se vive quando jovem e coisas que se faz quando adulto. Tanto que, no ano passado, ela e o marido saltaram, pela primeira vez, de paraquedas. E a servidora jura que não será a última.
O salto foi em Dubai, que, para Solange, tem uma das vistas mais bonitas para tal feito. ;Eu não sabia se teria coragem de pular de novo, então, tinha que ser no melhor local;, conta. Essa foi a terceira tentativa dela. Das outras vezes, o vento impediu.
Mas a forma de curtir as viagens mudou bastante desde a juventude ; época em que os filhos, ainda em idade escolar, representavam muitos gastos e sempre era preciso tomar a decisão de incluí-los nos roteiros ou deixá-los com as avós. Hoje, com todos crescidos e cuidando da própria vida, eles têm mais liberdade para escolher os roteiros. ;Quando eles eram crianças, viajávamos mais pelo Brasil, era mais corrido, com mais preocupações;, conta.
E os três descendentes herdaram o gosto por aventura. O caçula trabalha em cruzeiros, ou seja, vive pra lá e pra cá. As filhas cursaram o ensino médio fora do Brasil, e uma delas fez uma pós-graduação na Austrália. Está também no sangue do marido ; além das inúmeras viagens com a esposa e de acompanhá-la no salto de paraquedas, ele faz percursos de moto com um grupo dentro e fora do país.
Neste domingo, ela está curtindo o São-João de Campina Grande, uma das festas juninas mais tradicionais, e prometeu que nem dormiria, só dançaria forró. O marido está junto, mas não consegue acompanhar a energia de Solange para dançar. ;Como não é ciumento, depois que ele decide sentar, eu danço com todo mundo;, brinca Solange. A servidora quer aproveitar a vida: ;Daqui, eu não vou levar nada; então, tenho que viver bem;.
"Meu pai morreu com a minha idade, e eu pensava que ele tinha vivido bem. Hoje, eu entendo que foi muito cedo. Eu ainda tenho muito o que viver, e ele também tinha"
Solange Ferraz, servidora pública (foto)