Por muito tempo, o termo esclerosado era usado para se referir ao estado de uma pessoa portadora de demência. Hoje consideramos que boa parte das pessoas ;esclerosadas; eram, na sua maioria, portadoras da Doença de Alzheimer (DA), mas existem outras causas de demência, como a fronto-temporal e a causada por doença cerebrovascular.
Nos estudos que foram feitos para testagem de novas medicações para a DA, sempre havia um contingente significativo de voluntários que não apresentava qualquer melhora após o início das drogas. Além disso, as pesquisas mostravam que muitos desses voluntários não apresentavam os marcadores patológicos da doença quando eram submetidos a necropsias. Estudos recentes têm demonstrado que muitas dessas pessoas podem, na verdade, ser portadoras de uma outra forma de demência que recebeu o nome de LATE. LATE é a sigla recém-proposta por múltiplos centros de pesquisa para Limbic-predominant age-related TDP-43 encephalopathy. Limbic é o envolvimento preferencial da doença nos circuitos límbicos, semelhante à DA; Age related nos diz que é uma doença que ocorre em idosos, de forma mais gradual e numa idade até mais avançada que na DA; TDP-43 diz respeito ao acúmulo de proteínas com esse mesmo nome; Encephalopathy significa disfunção cerebral difusa.
Peter Nelson, primeiro autor da publicação, compara o trabalho desse consórcio de pesquisadores com a descoberta da eletricidade por Benjamin Franklin. O grupo publicou no periódico Brain critérios patológicos para identificação de LATE à necropsia. Os estudos realizados até o momento mostram uma prevalência da patologia de LATE em necropsias que gira em torno de 20% dos indivíduos acima de 80 anos e, em muitos casos, a DA ocorre concomitantemente.
O trabalho abre uma nova janela para o desenvolvimento de modelos animais para pesquisa, biomarcadores e medicamentos específicos que, sem dúvida, serão bem diferentes dos que são atualmente disponíveis para a DA.
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*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília